Madeleine Thomas
Querido diário,
Hoje, 25 de dezembro de 2085. Meu aniversário de 19 anos. Estou celebrando de uma maneira diferente, em vez de bolo, festa e brincadeiras, hoje é o dia da minha morte. Ou pelo menos, como eu o encaro, do meu renascimento.
Estou deixando o Brasil em busca de uma realidade diferente da solidão que tenho vivido. Continua um pouco confuso, mas acredito que será bom para mim. Mudanças estão ocorrendo e, para me encontrar, preciso deixar muitas coisas para trás.
Como o dia em que me tornei viúva, por exemplo. Aquele dia em questão ainda é um borrão na minha mente. Como nosso carro capotou? Quem me tirou do carro antes dele explodir?
Tantas questões…
Procurei alguns conhecidos da minha família que são "vampiros" — sim, é um pouco estranho. Eu sei. — mas eles são as únicas pessoas capazes de me ajudar. Vampiros vivem entre nós desde a Grande Queda.
Eu sei que a ideia de me tornar uma vampira pode parecer loucura para alguns, principalmente meu pai. Mas para mim, é a chance de buscar justiça e, de alguma forma, me libertar de toda a dor que me cercou por tanto tempo.
O sentimento de ódio é inapropriado, mas agora parece necessário. Parece ser o meu único meio de sobreviver. Nunca acreditei muito no destino, mas se ele me conduziu a essa decisão, é porque é o caminho certo a seguir.
Algumas horas depois.
Perambulei por um tempo, percorrendo o corredor estreito que conduzia à torre central do castelo dos DuBois, onde encontrei Samuel. Ele é o filho mais velho de Maxwell e Liana DuBois. Tem longos cabelos pretos e dentes extremamente brancos, a pele dele reluz como porcelana e mesmo em silêncio a presença dele me deixa inquieta. Ele abriu a porta para mim e eu passei a frente, tremendo um pouco com o barulho alto da porta se fechando e nos deixando a sós no corredor.
Ficamos em silêncio durante toda a caminhada até alcançarmos a sala que foi destinada à minha transformação.
À penumbra misteriosa envolvia o ambiente, com poucos raios de luz atravessando as janelas da sala. Samuel entrou primeiro, e eu o segui, vendo finalmente ele fechar última porta. Naquele momento, eu compreendi que não havia mais a possibilidade de voltar — era uma decisão que não podia ser alterada de nenhuma maneira.
— Você tem certeza, Mad? — perguntou ele, os seus olhos de rubi fixados em mim. Eram tão bonitos e convidativos que, embora pudessem causar medo e repulsa em algumas pessoas, apenas aumentavam o meu desejo crescente em me tornar uma deles.
Samuel era um homem de beleza extraordinária. Tinha cerca de duzentos anos, mas sua aparência não passava de um jovem de vinte e seis. Os seus traços eram perfeitos, esculpidos como se tivessem sido moldados pelos deuses. A pele pálida contrastava com seus cabelos negros e sedosos, que caíam em ondas perfeitas sobre os seus ombros. Os lábios cheios e perfeitamente desenhados escondiam presas afiadas, indicando a sua verdadeira natureza quando ele sorria. Cada movimento que fazia era elegante e sedutor, como se estivesse sempre em controle absoluto de si.
Mas além de sua aparência irresistível, havia algo magnético em sua presença. Quando ele falava, sua voz era suave e sexy, envolvendo quem o escutava como uma melodia hipnótica. Acho que vampiros são assim, não são?
— Tenho… Faça. — eu ordenei, me sentindo ainda angustiada, trêmula e confusa, as minhas mãos agarrando com todas as forças as fitas do vestido azul que eu usava.
Ele se aproximou devagar, demonstrando um pouco de relutância. Percebi que talvez ele não quisesse me machucar e estivesse realizando aquilo apenas porque quase implorei. Eu havia jurado lealdade à sua família, que agora também era minha.
— Você ainda pode desistir. — ele comentou apelando para meu bom senso inexistente.
— Faça! — ordenei mais uma vez, com um tom exigente.
Ele se apressou e cortou o pulso, deixando o sangue pingar no copo e em seguida estendendo-o para mim. Meus olhos se arregalaram... Era seu sangue, fresco, vermelho e borbulhante, e a tentação me envolveu como uma súplica irresistível. O corte no seu pulso cicatrizou mais rápido do que os meus olhos puderam piscar, testemunhando o poder regenerativo que um vampiro possuí.
Os meus dedos trêmulos envolveram o copo, enquanto eu sentia a pele fria e fina de Samuel roçando levemente na carne quente da minha mão. Uma corrente elétrica percorreu o meu corpo no instante em que os nossos toques se encontraram, um arrepio que misturava excitação e medo, desejando o desconhecido que estava prestes a acontecer.
Encarei a bebida por alguns segundos, hesitando em tomá-la. O líquido vermelho me pareceu uma tentação irresistível que me chamava para meu novo futuro. Os meus olhos encontraram os de Samuel, que brilhavam com uma mistura de ansiedade e compreensão, como se ele soubesse a luta interna que eu enfrentava. Era o ponto de não retorno, a escolha que mudaria tudo para sempre.
Reunindo coragem, levei o copo aos lábios, sentindo o aroma metálico do sangue invadir minhas narinas. O gosto ferroso se espalhou pela minha língua, despertando sensações intensas que eu nunca poderia ter imaginado. Engoli tudo com vontade e senti minha boca salivar. O meu estômago embrulhou um pouco e eu tive que respirar algumas vezes para controlar a vontade de vomitar.
Depois de alguns instantes eu delicadamente afastei o cabelo da frente do meu pescoço, deixando-o livre.
A mordida era um passo necessário e crucial para concluir o primeiro estágio da transformação. Beber do sangue de Samuel era apenas o início, mas a mordida desempenhava um papel fundamental. Sem ela, a transformação não se concretizaria.
— Não precisa necessariamente ser uma mordida em seu pescoço, Mad. — ele disse, mostrando relutância em se aproximar. Eu sabia que Samuel não concordava com a minha decisão. Para ele, a vida era uma dádiva a ser preservada.
— Eu sei… — A resposta saiu num suspiro gaguejado,— Mas eu prefiro assim… Será menos doloroso se for assim.
— Como você desejar. — ele disse, exibindo os seus caninos afiados e ameaçadores enquanto seus olhos ficaram mais vermelhos que antes.
Ele se aproximou olhando para meu rosto por um tempo antes de segurar em meu rosto. Meu coração acelerou, e engoli seco diante da profundidade com que ele me encarava, ele estava tão bonito na minha frente. Dr0ga.
Num movimento rápido, ele estava perto demais do meu pescoço. Uma mão envolveu minha cintura e a outra mão segurou o meu cabelo e eu inclinei a minha cabeça para o lado, lhe dando o melhor acesso à veia pulsante, — Está pronta, querida? — a sua voz era um sussurro, quase como se estivesse com medo de quebrar o encanto daquele momento. Ele respirou fundo.
Assenti silenciosamente, sentindo o meu coração martelando no peito e a tensão envolver meu corpo de uma forma tão intensa que eu quis cruzar as pernas. — Segure a minha mão com força se doer. — ele sugeriu, estendendo a mão pálida e elegante na direção da minha — Isso pode me ajudar a saber quando parar.
Senti o seu hálito frio contra a minha pele, um arrepio correndo por minha espinha. Uma grama de excitação me fez tremer.
— Respire fundo, Madeleine. — instruiu, a voz suave e controlada. — Vai doer por um momento, mas depois... será como um sonho.
Fechei os olhos, me concentrando na sensação da sua mão segurando a minha e seus dedos firmes em volta da minha cintura. Então, os lábios frios dele entraram em contato com a minha pele, trazendo um arrepio à minha espinha.
Ele roçou as presas na curva do meu pescoço e eu senti a picada aguda das suas presas perfurando a minha pele, um lampejo de dor que fez os meus músculos se contraírem e minhas mãos se agarrarem aos ombros dele.
A sensação era tão intensa que me fez arfar, mas o medo abafou qualquer lampejo de dor que pudesse surgir. — Argh!
Era como ser atravessada por mil agulhas, uma dor cortante que logo foi substituída por uma estranha sensação de calor, uma onda de prazer misturada com a dor enquanto minhas pernas ficavam moles.
Samuel bebeu profundamente, e eu senti a minha vida escorrendo pelos seus lábios. Era uma sensação estranha, como se estivesse sendo esvaziada e preenchida ao mesmo tempo. O meu corpo começou a fraquejar, os sentidos ficando turvos. Meu sofrimento escapando entre gemidos abafados que eu não sabia mais se eram de prazer ou dor.
— Pare… P-pare… só me transformar… — supliquei, lutando para respirar enquanto meu próprio sangue escapava de mim, manchando o ar com um vermelho sombrio. — Não… Me mate… Pare!
A minha existência foi bruscamente interrompida, e meu corpo colidiu violentamente com o chão, com uma dor intensa e avassaladora. A consciência começou a se dissipar, me deixando em um estado de completa confusão. As vozes ao meu redor se tornaram distantes, como se estivessem sendo abafadas por uma força invisível, mas naquele momento, isso pouco importava.
Estava feito.