Capítulo 7– Ritos de Sangue e Raízes

755 Palavras
A revelação do Conclave ecoava em meus pensamentos como o sopro de uma profecia antiga. A linhagem fora confirmada, mas meu poder — a plenitude da herança mágica que eu carregava — ainda estava incompleto. A Guardiã do Inverno dissera que apenas diante de meus verdadeiros pais o ritual da Coroa de Sangue poderia ser concluído. E eu sentia, nas entranhas da floresta, que esse momento estava próximo. — Seus pais, Elorien e Lysira, estão vivos — afirmou Elorik, certa noite. — Mas escondidos sob camadas de encantamentos antigos. Talvez nem saibam quem realmente são agora. — Eles sabem — respondi. — Eu os senti. Nos sonhos. No brilho das folhas. Eles me chamam. Arleo segurou minha mão. — Vamos encontrá-los, meu amor. Nem que tenhamos que atravessar o tempo e o esquecimento. --- Guiados por Elorik e pelas visões que eu recebia da floresta, partimos em busca de uma clareira sagrada: o Círculo das Raízes Eternas. Segundo os contos dos antigos guardiões, era ali que o sangue real podia ser selado, onde espíritos esquecidos se reencontravam. Mas a trilha até lá era protegida por provas. Logo no segundo dia de caminhada, fomos surpreendidos por um campo de ilusão. As árvores trocavam de lugar, os caminhos se embaralhavam, e vozes que imitavam nossos entes queridos tentavam nos desviar. Por um momento, ouvi a voz de Leia. Suave. Arrependida. — Você sempre foi mais forte do que eu... Mayara, me perdoe. Fechei os olhos. Respirei fundo. Aquilo não era real. Mas parte de mim queria acreditar. — Vamos, Mayara — Arleo disse, firme, cortando os arbustos falsos com sua lâmina de luz. — Confie na verdade, não na culpa. Passamos pela ilusão. Em seguida, atravessamos o Limiar da Terra Ferida, onde espíritos caídos de antigas guerras tentavam nos arrastar para a dor eterna. Elorik usou suas habilidades para tecer véus de proteção, mas mesmo assim saímos marcados. Vi rostos familiares entre os espectros. Aurora. Meu pai adotivo. Milena — ou o que restava dela. — A escuridão está se espalhando — murmurou Elorik, ao sairmos dali. — Ela está tentando dominar até mesmo os caminhos sagrados. Mas não conseguiria. Não enquanto minha luz crescia. --- Ao entardecer do quarto dia, chegamos. O Círculo das Raízes Eternas era uma clareira viva, onde o chão pulsava como um coração e as árvores se curvavam umas às outras em reverência. No centro, um altar de pedra musgosa guardava símbolos antigos. E diante dele, duas figuras esperavam. Meu coração quase parou. — Mãe? Pai? Elorien e Lysira estavam ali. Envelhecidos, mas intactos. Seus olhos brilhavam como os meus, e a coroa invisível de realeza pairava sobre seus gestos. Quando me viram, lágrimas escorreram. — Mayara — sussurrou Lysira, correndo até mim. — Minha flor do entardecer... você voltou. Caímos em um abraço. O mundo se apagou. Elorien nos envolveu com os braços, e naquele momento, senti todas as partes de mim se encaixarem. A criança esquecida, a jovem rejeitada, a fada desperta... tudo se unia. — O tempo nos foi c***l — disse Elorien. — Mas sua magia nos guiou de volta. O ritual começou ao cair da noite. Sob a luz da lua, ajoelhei-me entre meus pais. Arleo e Elorik ficaram de pé, como guardiões. As raízes se ergueram do chão e tocaram minha pele. Minhas faixas douradas brilharam com intensidade jamais vista. Lysira depositou uma gota de seu sangue na minha testa. Elorien fez o mesmo em meu peito. A energia que explodiu não foi apenas luz. Foi som, perfume, história. Meu corpo se ergueu do solo. As faixas douradas se transformaram em linhas sagradas, como tatuagens vivas. Minhas unhas escorreram gotas de ouro líquido. Meus olhos brilharam como dois sóis. E então, surgiram minhas verdadeiras asas — não apenas luz, mas tecidas de memória, magia e realeza. Multicoloridas como o entardecer sobre os lagos sagrados. No topo da minha cabeça, uma coroa nasceu. Feita dos meus próprios cabelos, entrelaçados com pequenas pedras mágicas que pulsavam junto com meu coração. Era a marca final: a herdeira viva da floresta. Todos se ajoelharam, em silêncio. Eu flutuei por um instante, sentindo o mundo inteiro em mim. Mas então... uma sombra rompeu o céu. Milena. Sua figura surgiu no horizonte, envolta em fumaça. Seus olhos não tinham mais cor. E ela não estava sozinha. Criaturas formadas de escuridão pura rastejavam ao redor dela. — Isso é o fim da floresta — ela disse. — Ou será o seu novo começo. E o primeiro raio da batalha final iluminou o Círculo.
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