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1791 Palavras
Ao voltar para casa, senti a mesma sensação que havia sentido na noite anterior. Eu ainda não tinha a certeza se havia sonhado ou realmente havia acontecido. Puxei Jony para perto de mim ao sentir que alguém estava nos observando. O caminho não era longo, o ônibus nos deixava na avenida, perto da rua da nossa casa. A rua estava silenciosa, pouco movimento, como sempre fora. -Isa, você está bem? – Jony percebeu o quão forte eu estava segurando sua mão. – Você está mais branca do que o normal. -Não aconteceu nada garoto. Continua andando. – ignorei seu comentário a respeito da minha cor. Apenas queria chegar em casa e mantê-lo em segurança. Chegamos em casa. Mamãe não havia chegado ainda, e dessa forma eu vi a nossa empregada colocando os pratos na mesa e deixando tudo pronto antes de ir embora. Não que eu não gostasse dela, mas sabe, ela era uma velha bastante esquisita. -Aonde vocês irão querer ir nessas férias? – estávamos na mesa jantando, e ela olhou para nós. -Não sei mãe, qualquer lugar está bom. – Jony respondeu mastigando seu pedaço de carne. -Por favor, eu prefiro ficar em casa. Ou ir para a fazenda da vovó. – resmunguei. – Que vocês façam uma ótima viagem. -Porquê você está sempre querendo se afastar da família? – escutei a voz do meu padrasto. -Por que você não me deixa em paz? – o olhei – Sou uma adolescente com problemas , lembra? – dei minha ultima garfada e levantei da mesa. -Isabelle, sente-se. – escutei a voz da minha mãe com um tom rígido. Não dei atenção e fui andando em direção a escada. – Isabelle, volte até aqui agora. Você não terminou de comer. -Perdi a fome! – ainda virei antes de subir as escadas e percebi que Jony havia feito o mesmo. Ele estava correndo para chegar até mim. O esperei e subimos. Fomos até o meu quarto. -Não entendo porque você briga tanto com o papai. -Tenho pena de você, por ele ser seu pai. – sentei em minha cama, enquanto ele se dirigiu até a mesa do meu computador. – Eu apenas não o suporto. Não suporto essa família. -Minha terapeuta diz que é normal você odiar todo mundo. É fase de adolescente. – ele sorriu para mim e percebi que eu não tinha um irmão problemático, apenas um garoto que se sentia só. -E eu acho que ela está certa. – peguei o mesmo livro que estava lendo ontem. – Já fez seu dever? – ele balançou a cabeça negando – Se quiser posso te ajudar. – Jony deu um pulo da cadeira e saiu do meu quarto. Não demorou muito tempo e ele havia voltado com sua bolsa da escola. – Okay, vamos começar. Eu sabia que eu não conseguiria me concentrar em nada especificamente. A visita na noite anterior, o frio ao voltar para casa, eu sentia alguém me vigiando e sabia que estava perto. Bem perto. Não podia contar para a minha família, eles já me achavam louca o suficiente. Meus amigos, talvez não acreditassem em mim e eu não queria que eles ficassem assustados ou preocupados. Dessa vez eu estava sozinha. O final de semana havia chegado, e junto com ele, a pesquisa de campo para o jardim botânico. Eu adorava plantas, natureza e tudo mais, contudo, não me acostumava com a ideia de ter que acordar cedo em pleno sábado. Era torturante. -Bom dia! Animada? - Ray foi a primeira com quem encontrei na portaria da escola. Ela estava sentada em um dos bancos verdes que havia na entrada. -Super! - falei com uma feição desmotivada, ela percebeu minha ironia e sorriu. Sentei ao seu lado e fui para onde o sol batia. Fechei meus olhos e apenas o senti em minha pele. Ele não parecia quente o suficiente para me queimar e eu gostava da sensação de tê-lo sobre minha pele. -O que você está fazendo? - ela me observou, enquanto eu praticamente entrava em outro mundo com os raios do sol. A escutei falar distante e não prestei atenção. -Isa? Está recebendo espírito ou algo do tipo? - ela riu e me desconcentrei com sua risada. -Hã? – parecia que acabara de sair do transi - Do que você está rindo? - me ajeitei no banco. -Esquece! Vamos ao banheiro, preciso retocar minha cara de zumbi. - Ray se levantou, pôs sua bolsa no ombro e me olhou. - Você deveria fazer o mesmo. -Tanto faz! - fiz o mesmo que ela e a segui. Em caminho ao banheiro, observei uma das garotas perto das arquibancadas da quadra. Ela parecia falar com alguém, ou fugir de alguém. Forcei meus olhos e percebi que conhecia a pessoa. Deixei Ray ir na frente, e com passos leves cheguei perto o suficiente para escutar a conversa deles. -Eu não quero que você se assuste. Apenas estou aqui para te dar uma aviso. – eu conhecia aquela voz – Para você vai ser algo estranho e novo. Não entre em pânico ou algo do tipo. -Eu realmente acho que você deve estar me confundindo com alguém. - Alice acelerou seus passos para sair da quadra. Foi quando me assustei. Vi o homem chegar perto dela em segundos, como um vulto. -Ah! - escutei seu pequeno grito ao vê-lo na sua frente. - Me deixa em paz, senão eu vou gritar. -d***a! – pensei. Ele podia fazer algum m*l a ela e eu não poderia ir embora como se nada tivesse acontecendo ali. -Ah, mas que mania de querer salvar todo mundo. – resmunguei para meu pensamento. – Alice? - a chamei entrando na quadra - O que você está fazendo ai? - caminhei até ela e percebi que o homem havia se distanciado, porém não havia virado em minha direção . -Não sabe que estão nos reunindo na entrada? Anda logo garota! - ao chegar mais perto, percebi que o homem havia ido embora. Sumiu em menos de segundos. Alice estava paralisada, ela não tinha palavras e a cara dela estava péssima. - Eu sei o que aconteceu, - cochichei perto em seu ouvido - segura meu braço e me acompanha. - coloquei sua mão em meu braço e a puxei para junto de mim - Não faz nenhum movimento brusco, ele ainda pode está por aqui. - minha voz era calma e baixa. Andei com ela até a saída da quadra. A levei para a cantina, onde estava relativamente cheia de alunos, a sentei e a entreguei um copo de água. Sentei á sua frente e a observei. - Você pode falar alguma coisa? Está me assustando. -Não sei o que falar. Es... es...estou com medo. - ela gaguejava e eu não esperava coisa melhor. -Pelo menos não perdeu a voz. - descansei meu corpo sobre as costas da cadeira. - Você está pálida! - ela me fuzilou com os olhos e bebeu o resto da água. - O que aconteceu? Você vai ter que me contar. -Isa? O que você está fazendo aqui? – Ray chegou por trás de mim e senti a raiva em sua voz - Em um minuto você estava atrás de mim e agora está aqui, na cantina, com ela? - Ray apontou para Alice. -Olá para você também! - Alice a cumprimentou com muito sarcástico. -Você sabe que eu não te suporto. Não fala comigo! - após ser rude com Alice, ela voltou os olhos para mim. -Vamos, essa não é sua turma. - não me senti ameaçada pelo olhar de Ray, mas eu sabia que poderia me arrepender amargamente se não fizesse o que ela estava mandando. Antes de levantar, ou falar alguma coisa, Sofia chegou junto de nós. Bati minha mão na testa , logo depois de perceber seu olhar confuso para todas nós. -Algum problema? - Sofia estava em pé, ao lado de Alice, olhando diretamente para ela. -Talvez. - falei e tomei sua atenção - Você fica com sua amiga e dá assistência a ela. Eu vou com a senhora possessiva aqui. - me levantei, mas antes de ir, voltei meus olhos para Alice .- Você ainda vai me contar o que aconteceu. - dei as costas e sai andando com Ray. -Porque diabos você estava conversando com ela? - Ray parecia está bastante chateada. -Não se comporte como uma criança, eu não sou seu brinquedo e você não tem poder sobre mim. - por ser uma menina nascida em berço de ouro, Ray sempre tinha tudo que queria, até mesmo pessoas. Contudo, eu não a deixava ter esse controle sobre mim. Ela havia melhorado isso em meio ao nosso grupo, mas havia vezes que ela se tornara na mesma cobra venenosa que acha que pode comprar todo mundo, que ela era quando chegou ao colégio. -Certo, me desculpa. Mas eu não gosto quando você faz isso. – agora estávamos andando mais devagar e Ray não me olhava diretamente. -Faço o que? – parei e a olhei – Você nem sabe o que está acontecendo. E acredite, eu também não sei e nem quero que você se envolva com isso. – andei até a mesa onde estavam os outros amigos. – Ainda não fizeram a chamada? – sentei e cumprimentei os outros. -Não. È bom que podemos comer alguma coisa. – Debs estava com um pequeno copo contendo algumas frutas dentro. – Você já comeu algo? -Sim, antes de sair de casa. – Ray chegou logo em seguida e sentou em silencio. Lucas percebeu o modo agressivo como ela sentou e notou que havia algo de errado. -Aconteceu alguma coisa com vocês? – Lucas olhou para mim e Ray. Ele estava com uma garrafa em suas mãos, algum liquido de cor rosa. -Não. – respondi. -Sim. – ela rebateu.  A olhei com fúria nos olhos. Ela ignorou meu olhar e continuou falando. – A Isabelle me deixou sozinha enquanto íamos ao banheiro, e quando voltei para procurá-la, ela estava sentada de conversinha com a Alice. – me senti julgada com os olhares que recebi. -Com a Alice? – Débora me olhou ainda mastigando. -Alice? – Lucas me olhou profundamente – Mais uma confusão? -Gente, não é confusão. – tentei amenizar a situação. - Eu só estava resolvendo uma coisa, que aliás, era muito importante. Até a Ray se encher de ciúmes e montar uma cena. – a repreendi. -Então isso quer dizer que isso é um dos seus segredos, que não iremos saber o que é? – acontecia algumas coisas que eu não contava, até mesmo para eles. Mas pedia para que confiassem em mim e era o que faziam. -Não exatamente. – me safei de uma explicação que não tinha, quando fui interrompida por nosso instrutor.    
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