Depois daquele primeiro encontro no supermercado, Pedro não conseguiu tirar Sandra da cabeça. Aquela imagem dela sorrindo levemente ao falar com o atendente da feira, a forma como ajeitava a aliança no dedo sem perceber — tudo nele ardia por dentro. Começou a frequentar o mesmo mercado em dias e horários variados, na esperança de cruzar com ela novamente. E cruzou.
Duas semanas depois, ela estava com Benjamim. O menino puxava seu vestido, querendo um chocolate, e ela explicava pacientemente que em casa já tinha doce. Pedro se aproximou como quem não quer nada, pegou um pacote de bombons e ofereceu ao menino com um sorriso:
— Acho que hoje ele merece, não acha?
Sandra recusou educadamente, mas Pedro insistiu com um charme que beirava o inocente. Conversaram por alguns minutos. Ele se apresentou como Pedro, "só um vizinho do bairro", e fez questão de não mencionar Vanessa nem as filhas. Preferia parecer livre, disponível.
Ela, por outro lado, mencionou o marido com naturalidade, como quem não tem nada a esconder. Pedro fingiu interesse, mas por dentro algo o incomodava. Não suportava pensar nela nos braços de outro homem.
Nos dias seguintes, os encontros se tornaram frequentes. Primeiro por acaso, depois claramente planejados por ele. Pedro passou a aparecer nos lugares que ela ia com frequência: padaria, farmácia, pracinha com o filho. Sempre simpático, sempre respeitoso, mas sempre presente. Sandra achava curioso, mas não via maldade. Era só um conhecido educado... certo?
Pedro, no entanto, já estava dentro do jogo. E Sandra, sem saber, caminhava devagar para dentro da armadilha do desejo.