CAMILA LELIS
Inferno!
Eu era um imã para problema, só assim pra explicar tanta coisa acontecendo.
– Gatinha, vamos, passe seu telefone – O cara falava com uma voz embargada e chata. – Não vou deixar você ir, vamos, eu sei que gosta de brincadeiras.
– Seu i****a, me solta! – Puxei novamente meu braço. – Eu vou gritar e você estará perdido.
– Aposto que não.
Aquilo era apavorante.
Por acaso eu era uma v****a gigantesca, que chamava atenção dos caras?
O que eles viam em mim?
O que?!
Porra!
Não xinga Camila, por favor!
Quando olhei para os lados eu vi novamente o loiro, se aproximando com uma expressão séria e com as mãos fechadas.
Vergonha em público não, não, por favor!
– Sabe que suas mãos estão em algo que não é seu, né amigo? – Quando ele se colocou na minha frente o magrelo o olhou de cima a baixo, medido o tamanho e a força. – E surdo ou preciso escrever pra você?
Senti um arrepio.
Ele estava me ajudando.
Depois do suco que joguei nele?!
– Mauricinho, não quero treta com você.
– Mas eu quero com você – Comecei a ficar com medo. – Vou contar até 0 para você soltar a garota – Leonel deu um passo a frente, ficando próximo demais, mas fazendo com que ele me soltasse. – Ótimo, ótimo.
Leonel pegou minha mão e fez eu ir direto para o lado dele.
O outro, bem, deu as costas e saiu.
Simplesmente assim.
Só um louco quereria brigar com esse cara.
Ele era grandão.
– Obrigado – Falei e dei um passo de distância. – Eu preciso ir agora.
– Eu não queria assustar você lá na mesa – Ele falou se referindo ao beijo. Beijo que eu não quero nem lembrar pra não entrar em depressão. – Por que me jogou a merda do suco? Não confia em mim? Tem medo? Não era mais fácil me afastar, Camila?
– Eu afastei Leonel, do meu jeito mais afastei – Pacífica. Eu não queria sair desse patamar de pacificação com ele. Nunca. – Você não pode sair beijando assim.
– Você me beijou.
– Não, não mesmo!
– Você aceitou ser beijada Camila, eu senti.
– Não, não mesmo! – Era uma calúnia.
Uma calúnia que era mentira.
Eu quis mesmo, mas e daí?
Eu nem conhecia o cara, já viram o número de casos de sífilis?
Não.
Não sou esse tipo de garota.
Por mais que ele quisesse se aproximar eu queria era vazar.
Sem deixar vestígios.
– Você veio com um único propósito loiro, eu sei que você não quer apenas conversar, você é igual aos outros!
– Te forcei a alguma coisa ou te desrespeitei? – A voz saiu dura, como se ele não tivesse gostado das minhas palavras. – Eu odeio que me comparem com os outros.
– Você começou com isso tudo – Eu falei, calma, pra tentar não deixar ele mais nervosismo. – Eu não sou o seu tipo de mulher, vai embora e apenas me deixa em paz!
– Eu sei o que é o meu tipo ou não.
– Então, tchau!
– Não, calma aí.
– Calma o c****e, já falamos tudo, Leonel.
– Posso pelo menos te levar pra casa, Camila?
Eu pisquei sem acreditar.
Senti o frio na barriga.
– Não.
– Eu não sou um cara qualquer – Inacreditável a ousadia do loiro, não? – Já pensou se eu for seu príncipe?
– Eu odeio príncipe.
– Que ótimo, porque eu estou mais para sapo mesmo.
Aí eu ri. Não teve jeito.
– Você não cansa?
– Sou ligado a alta-tensão.
– Não preciso de carona – Falei calma e tentando pensar em algo, mas nada vinha, nada.–Vamos fazer assim, eu aceito sua carona, só em sinal de agradecimento e fim.
– Beleza – Dizendo isso ele pegou minha mão e passou por debaixo do braço dele, quente e forte.
– Pra onde está me levando?
– Vou te levar para casa.
Era tão estranho andar lado a lado de um homem grandão, eu me sentia uma formiga, sem dizer que eu forçava minha perna a colaborar totalmente. Se bem que ele andava no meu ritmo. Era sensível ao fazer isso é, totalmente, estranho. Um estranho até legal da parte dele. Como se ele soubesse o que estava fazendo comigo. Exatamente isso. Fomos boa parte do caminho em silêncio, o que eu agradeci a Deus. Qual é?! Eu não sabia o que esse homem gostava e muito menos sabia conversar com um cara. Não sou o tipo que conversa com homens fluentemente.
– Você trabalha aqui, certo? - Ele olhou pra mim o eu confirmei com um aceno positivo. – Onde?
Eu abri e fechei a boca, quase mandando o verbo.
– Sou vendedora – Eu sorri, lembrando que tipo de vendedor eu era. – Trabalho no primeiro pavilhão.
– Qual das lojas? – Perguntou e caramba!
– Por que quer saber?
– Tenho que saber sobre você – Falou e eu sorri, abertamente, tentando evitar os pensamentos. Chegamos a garagem e começarmos a andar, agora no meio de carros. – Gosto dos detalhes.
– Detalhes?
– Sim Camila, detalhes, assim posso usá-los depois – Eu parei, assim, uma freada brusca.
– Depois do que loiro?
– Tenho nome, e o depois e no bom sentido – Ele se virou e ficou na minha frente. – Não pense que vou fazer algo r**m contra você, sou o cara mais calmo que você vai conhecer, então não fica assustada comigo, estou quase me sentindo um maníaco por estar aqui com você.
– Não é todo dia que algo assim acontece comigo, me perdoe se não sou aquilo que você pensou! – Enfrentei.
– Claro que você não é o que eu pensei Camila, mas deixa eu te dizer – Ele aproximou seu rosto do meu, mas só parou de se aproximar quando sua boca estava bem perto da minha orelha. Era fácil escutar a respiração calma dele e foi ainda mais fácil sentir o perfume que emanava da pele dele. – Você é bem melhor do que eu pensei e eu gosto muito disso.
Senti algo molhado no lóbulo da minha orelha, fui elevada a uma sensação completamente diferente, um frio na barriga e um arrepio fundo na espinha.
Eu fiquei parada.
Paralisada naquele lugar, até eu sentir algo novamente na minha orelha. Dessa vez mais leve, mas também firme. Eu ergui minhas duas mãos e senti o peito dele e tentei empurrar, mas ele nem saiu do lugar, na verdade eu não sabia se eu queria que Leonel parasse e se afastasse, foi uma sensação maravilhosa.
– Você gostou, não gostou? – Ele se afastou e ficou me olhando com aqueles olhos, como se soubesse algo que eu não sabia. E ele sabia mesmo. Ele olhava diretamente para os meus olhos, nada mais que eles. – Vamos, vou levar você pra casa.
De repente eu não queria ir pra casa.
De repente eu queria sentir a merda da sensação de novo, mas eu não queria parecer atirada, pedido para que ele fizesse de novo. Então eu apenas confirmei com um aceno, recebendo um sorriso e vendo ele tirar uma chave do bolso e balançar entre os dedos e dar dois passos até um carro preto e destravar o alarme, o bipe me fez sair da ilusão, ignorar o olhar dele e seguir direto para o carona.
Por Deus, eu só quero chegar em casa!