Patrick entrou na sala de reuniões com a calma de um homem que já havia tomado sua decisão.
A sala ampla, envidraçada, ficava no andar mais alto da empresa. Uma vista privilegiada de Boston se estendia atrás dos membros do conselho, que já ocupavam seus lugares: advogados, acionistas, o diretor financeiro, o de RH, e Louis, que, apesar de mais novo, tinha presença forte e estratégica entre eles.
Harry também estava presente, apoiando como m****o consultivo, sempre com sua postura mais informal, mas olhos atentos.
— Bom dia a todos — disse Patrick, ajustando os punhos da camisa com tranquilidade. — Agradeço por estarem aqui tão cedo. Prometo ser breve e direto.
O silêncio foi absoluto. Quando Patrick assumia aquele tom de voz — firme, porém calmo — era porque algo importante estava por vir.
Ele puxou a cadeira na ponta da mesa, sentou-se e, com as mãos entrelaçadas sobre a madeira escura, começou:
— Quero comunicar algo de cunho pessoal, que, por ética e respeito a esta empresa, considero necessário compartilhar com vocês.
Os olhares se cruzaram.
— Eu e a senhorita Lana Alves — minha assistente direta — estamos nos aproximando emocionalmente. E, como sabem, ela é funcionária desta empresa, filha do senhor Francisco, que trabalha aqui há mais de vinte anos, e uma profissional competente, dedicada e correta. Não houve nenhum envolvimento físico ou conduta imprópria no ambiente de trabalho até aqui. Mas para que isso permaneça ético e transparente, eu vim propor meu afastamento da supervisão direta dela.
Silêncio. Um dos acionistas, o senhor Grayson, um homem grisalho com sotaque britânico e expressão analítica, recostou-se na cadeira.
— Patrick, com todo respeito, você pretende se afastar da presidência?
Patrick sacudiu a cabeça.
— Não. Apenas da supervisão direta da Lana. Posso delegar essa função a outro diretor enquanto definimos a melhor estrutura. Estou pronto para aceitar qualquer orientação, inclusive restrições. Mas não quero esconder algo que está acontecendo de forma limpa, verdadeira e respeitosa.
Louis interveio:
— Patrick é o CEO mais eficiente que esta empresa já teve. Com todo o histórico e resultados que trouxe, não há motivo para afastamento. O que temos que fazer aqui é estabelecer uma linha clara: ética e discrição. Se for para punir um líder por estar apaixonado — sendo tudo feito com transparência — então estamos sendo hipócritas.
Outros membros do conselho murmuraram em concordância. O diretor de RH, uma mulher chamada Amanda Clark, foi a primeira a verbalizar:
— Já vi muitos casos de relacionamentos m*l conduzidos em ambientes corporativos, mas também já vi histórias que se tornaram sólidas. A questão é: ela se sente pressionada? Existe risco de favorecimento?
Patrick respondeu sem hesitar:
— Não. Lana é a mulher mais íntegra que conheci. E se houver algum problema, ela será a primeira a apontar. Por isso estou propondo a retirada da supervisão direta. Mas...
Amanda o interrompeu:
— Não precisa. Já que você trouxe isso com honestidade, e sabendo que a senhorita Alves está prestes a iniciar um projeto de auditoria com outro colaborador, Henry Dales, não há conflito imediato.
O senhor Grayson assentiu.
— Concordo com Amanda. E quero deixar claro: você tem nossa confiança. Só pedimos descrição. E que ela siga o fluxo normal de avaliação como qualquer outro funcionário.
Patrick respirou aliviado.
— Assim será.
Harry, que até então estava calado, deu uma risadinha sarcástica.
— Bem... agora só falta você contar isso pra ela. Aposto que a Lana vai ficar pálida.
Todos riram levemente, quebrando o clima de tensão.
Patrick esboçou um sorriso.
— Não estou esperando flores. Mas estou pronto para encarar seja o que for.
Lana organizava planilhas na sala ao lado quando Louis entrou, batendo levemente na moldura da porta.
— Tem um minuto?
— Claro, pode entrar — respondeu ela, empilhando os relatórios.
Louis aproximou-se e sentou-se à frente dela.
— Só queria te avisar que o Patrick acabou de dar uma das demonstrações mais bonitas de integridade e coragem que eu já vi.
Ela franziu o cenho, confusa.
— Como assim?
— Ele comunicou ao conselho que está apaixonado por você. Que está começando algo com você. E que, por ética, queria se afastar da sua supervisão direta. Mas... o conselho não deixou. Disseram que ele é excelente, e que vocês só precisam manter discrição. Nada de afastamento.
Lana ficou imóvel. O ar parecia ter sumido da sala.
— Ele... ele fez isso?
— Fez. Com todos os riscos. Com todos os olhares. E com o coração na mesa. Isso é raro, Lana. Muito raro. — Louis se levantou, tocando levemente o ombro dela. — E ele não está esperando um “obrigada”, ele está esperando que você confie. E, se for pra viver isso, que viva com a cabeça erguida. Sem medo.
Lana ficou ali, sentada, as mãos tremendo. Uma mistura de emoções a dominava: gratidão, admiração, medo... e uma onda de amor que lhe subiu pela garganta, quente e inesperada.
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Na hora do almoço, Patrick a esperava no jardim interno do edifício. Um espaço arborizado entre os prédios da empresa, com bancos de madeira e um pequeno café ao lado.
Ela se aproximou em silêncio. Ele se levantou assim que a viu.
— Você soube?
— Soube — respondeu, olhando nos olhos dele. — E... eu não sei o que dizer. Ninguém nunca fez isso por mim. Nunca.
Patrick segurou suas mãos, com delicadeza.
— Eu não vou te prometer perfeição, Lana. Mas vou te prometer respeito. Clareza. E verdade. Você aceita viver isso comigo, mesmo com os desafios?
Ela assentiu, com os olhos cheios d’água.
— Aceito.
Patrick a puxou suavemente para um abraço, ali mesmo. Nada indevido. Apenas duas pessoas que decidiram não esconder mais o que sentiam.
Enquanto o mundo girava ao redor, eles estavam parados no tempo. Pela primeira vez, juntos — de verdade.