Enquanto organizava algumas amostras de tecido recém-chegadas à loja, Lisbeth foi surpreendida pela presença da gerente, Lady Badge, que se aproximou com o semblante sério, mas gentil.
— Lisbeth, querida — disse a gerente com um tom discreto, mas firme. — O acompanhante da cliente grávida está pedindo para falar com você.
Lisbeth levantou o olhar com surpresa, franzindo levemente a testa.
— Comigo? Mas... o que será que ele quer comigo?
— Não sei, minha filha — respondeu Lady Badge, com um leve levantar de ombros. — Ele apenas me pediu, com bastante educação, que a chamasse. Disse que gostaria de falar com você pessoalmente.
— Mas... e a mulher que estava com ele? — perguntou, apreensiva. — Ela me tratou com tanto desprezo. Vai que se irrita de novo...
Lady Badge respirou fundo, aproximando-se como uma mãe daria conselhos a uma filha.
— Pelo que percebi, ela não é esposa nem noiva dele, Lisbeth. Está grávida, sim, mas pelo modo como se comporta, parece mais estar se aproveitando da situação. Ela pousa de madame, mas ele... ele é outro tipo de pessoa. Discreto. Elegante. E visivelmente constrangido com a forma como ela agiu com você.
Lisbeth abaixou o olhar por um instante, refletindo, antes de murmurar:
— A senhora acha mesmo que é recomendável eu ir? Não quero me meter em nenhuma situação constrangedora.
A gerente tocou-lhe suavemente o ombro.
— Lisbeth, querida, mantenha sempre a educação. Você não estará errando por ouvir o cliente. Ao contrário. Ser educada e solícita é parte do nosso trabalho, mesmo que por dentro a gente precise respirar fundo dez vezes. Você sabe o quanto precisa desse emprego. Está aqui por mérito seu. E tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-la, eu farei.
Ela sorriu com doçura, encorajando a jovem.
— Vá lá. Fale com ele. Seja profissional, como sempre foi. E lembre-se: não é fraqueza ser gentil. É força.
Lisbeth respirou fundo, ajeitou a blusa com as mãos trêmulas e assentiu.
— Está bem, senhora. Eu vou até ele.
— Isso mesmo, minha filha. Vá tranquila. E fique despreocupada. A parte da deslumbrada eu mesma fiz questão de atender — disse a gerente, revirando os olhos com elegância. — Agora é com você.
Com passos firmes, mas com o coração apertado, Lisbeth se dirigiu ao cliente que a aguardava próximo à área de móveis de luxo. Ela não sabia o que queria, nem por que a procurava. Mas algo em seu instinto lhe dizia que aquele momento mudaria mais do que o rumo de um simples atendimento.
Talvez... o destino estivesse, mais uma vez, testando sua serenidade — mas também, abrindo discretamente uma porta que ela sequer imaginava.
O Cartão de Lloyd Thorn Whitmore
Lisbeth se aproximou com passos comedidos. Estava tensa, mas mantinha a postura firme. Quando chegou diante do homem alto, de terno sob medida e olhar sereno, ele estendeu a mão com um leve sorriso e uma educação quase nobre.
— Bom dia, senhorita. Meu nome é Lloyd Thorn Whitmore — disse, com voz grave e pausada. — Antes de mais nada, pedi à gerente que a chamasse aqui por um único motivo: pedir-lhe desculpas.
Lisbeth hesitou, surpresa.
— Desculpas? — ela repetiu, confusa. — Mas… por quê?
Lloyd lançou um breve olhar em direção à mulher que o acompanhava — que, de longe, os observava com os braços cruzados e o queixo empinado.
— Porque ninguém — absolutamente ninguém — merece ser tratada da forma como você foi. Ainda mais no exercício do seu trabalho.
Ele respirou fundo, cruzando as mãos às costas por um instante.
— E se essa moça aqui presente tivesse o mínimo de noção, de humildade, de humanidade, entenderia que estar grávida de mim não lhe dá o direito de humilhar outras mulheres. Eu já lhe disse, e volto a repetir na sua frente: se essa criança for minha, eu assumirei. Mas casar com você? Jamais. Relações que nascem da manipulação não prosperam.
Acompanhando com o olhar cada palavra que ele dizia, Lisbeth se sentia entre o espanto e a incredulidade.
— Me desculpe, senhorita Lisbeth, por ser tão direto diante da senhora — ele completou. — Mas ela precisava ouvir isso, e você precisava saber que o problema jamais foi você.
Ele tirou um cartão de visita refinado, prateado com letras em alto-relevo, e estendeu para ela.
— Tenho negócios variados neste shopping. Sou proprietário de algumas boutiques, galerias e uma empresa de design e eventos. Vi a forma como você manteve a educação, mesmo sendo provocada. Isso é raro. E é admirável.
Lisbeth pegou o cartão com mãos trêmulas.
— Eu não sei o que dizer.
— Não diga nada agora. Guarde. Pense com carinho. Se por acaso você achar que seu trabalho aqui não está à altura do que você merece, me procure. Eu encontrarei um espaço para você em uma das minhas empresas. Em um cargo melhor remunerado.
Ele fixou o olhar nos olhos dela.
— Você merece ser reconhecida. A única diferença entre você e quem entra aqui para comprar... é que você está do lado de dentro da vitrine. Mas a dignidade não está à venda. E o valor de uma pessoa não se mede pelo saldo bancário, mas pela postura que ela mantém diante das adversidades.
Lisbeth sentiu um nó na garganta, lutando contra a emoção.
— Senhor Whitmore, muito obrigada... de verdade. O senhor não tem ideia do quanto isso significa pra mim.
Ele apenas assentiu com um leve gesto de cabeça, como quem encerrava uma conversa com reverência.
— Continue sendo quem você é, Lisbeth. Pessoas assim transformam o mundo em um lugar mais justo.
E, com isso, ele se afastou com passos elegantes, deixando para trás não só um cartão, mas uma semente de oportunidade plantada no coração de uma jovem que jamais havia sido reconhecida por tanto.
A Ira da Oportunista
Assim que Lisbeth se afastou, discretamente engolindo a emoção e tentando manter a compostura, Clô — visivelmente irritada — se aproximou de Lloyd, os olhos faiscando.
— Como você pôde me humilhar daquela forma, Lloyd?! Diante daquela… vendedora?! — esbravejou, entre os dentes.
Ele sequer a olhou de imediato. Cruzou os braços com calma, respirou fundo e então respondeu, sem alterar o tom:
— Eu não humilhei você, Clô. Mas... se você se sentiu humilhada, talvez seja a sua consciência lhe dizendo que exagerou.
Ela cerrou os punhos, impaciente.
— Você está defendendo uma qualquer! Uma funcionária de loja, Lloyd!
Dessa vez ele a olhou nos olhos, o olhar mais gélido que ela já vira.
— Uma funcionária de loja que demonstrou mais caráter em cinco minutos do que você desde que nos conhecemos.
Ela bufou.
— Então é isso? Agora eu sou a vilã? Porque você decidiu que ela merecia uma medalha de honra por me ignorar?
— Não — ele disse, com elegância c***l. — Você é a vilã porque entrou aqui como se fosse dona do mundo, pisando em quem não pode se defender, como se o dinheiro que paga suas roupas te desse direito de ser arrogante. E não dá.
Ela bateu o salto, tentando manter a pose.
— Você sabe que eu estou grávida de você!
Ele deu um passo à frente, a voz firme como aço:
— Estou ciente, Clô. Já disse que, se for meu filho, eu assumo. Você sabe disso. Mas casamento? Nunca prometi. E você também sabe que essa gravidez surgiu em meio a um relacionamento breve... com motivações bem suspeitas da sua parte.
— Você quer insinuar que eu inventei isso?
— Não estou insinuando nada. Apenas estou dizendo o que qualquer um em sã consciência pensaria diante do contexto. Quando a criança nascer, faremos o DNA. E, se for necessário, eu cumpro com minhas obrigações. Mas não conte com mais do que isso.
Ela tentou argumentar, mas ele ergueu uma mão, interrompendo-a.
— E mais uma coisa: entre uma mulher que trabalha honestamente para sustentar, e uma mulher que tenta fisgar um sobrenome por meio de uma gravidez inesperada a diferença é abissal.
Clô arregalou os olhos.
— Você me chamou de interesseira?
— Não, Clô. Eu te chamei de oportunista. E você está provando isso a cada palavra que diz. A Lisbeth não pediu nada, não implorou, não jogou charme, não esperneou. Ela apenas nos atendeu. Com educação. Você, por outro lado, se comportou como uma rainha decadente que exige joelhos dobrados por onde passa.
Ela ficou sem palavras.
— Quando essa criança nascer, eu estarei presente. Mas isso — ele apontou ao redor, com um gesto amplo — esse teatro, essa pose, essa tentativa de domínio... isso acaba aqui.
Ele então virou-se, sem mais uma palavra, e foi em direção à saída da loja.
E Clô ficou ali. Entre o orgulho ferido e o medo de ter perdido o único triunfo que julgava controlar.
Nota da Autora
Neste capítulo, você pode ter estranhado a postura incisiva de Lloyd Thorne Whitmore. Ele foi, sim, direto, invasivo, e até confrontado — mas tudo isso foi intencional. A escolha narrativa de dar a ele uma presença forte e dominante marca o início de uma nova história: o spin-off de Lisbeth, uma mulher que conquistou nosso respeito com sua dignidade, ética e doçura em meio às lutas diárias.
Lloyd será o par romântico de Lisbeth. E, como em toda boa história, o choque de mundos é o que acende a faísca que, aos poucos, se transforma em fogo. Ele não é apenas um magnata — é um homem ferido pela desilusão e desacostumado com a simplicidade do amor verdadeiro. Ela, por sua vez, não está à procura de um príncipe, mas de respeito e dignidade. O amor, nesse caso, será uma consequência... não um objetivo.
E para quem está acompanhando a saga: teremos também os livros da Lene com o Harry, da Nice com o Louis (em um futuro paralelo), e agora, esse novo arco da Lisbeth com Lloyd — um casal improvável, mas que promete tocar o coração de quem acredita que gentileza, justiça e destino sempre se encontram.
Obrigada por estar comigo nessa jornada.
Com amor e verdade,
Tonya