Depois do jantar, Francisco e Teresa trocaram um olhar breve, cúmplices, e então ele pigarreou.
— Filhas… esse assunto já está resolvido. O que aconteceu lá na empresa foi um choque, sim. Mas também foi uma oportunidade. A Lana soube agir com educação e caráter. E é isso que importa. Agora é seguir firme, fazendo o seu trabalho com honestidade e foco.
Teresa assentiu, com um sorriso orgulhoso nos lábios.
— Nós estamos muito felizes, Lana. Muito orgulhosos de você. E você também, Lena. Continuem sendo o que são: mulheres com princípios. Isso ninguém tira de vocês.
As meninas sorriram em agradecimento e logo terminaram de arrumar a cozinha, como sempre faziam. Depois, foram para o quarto, como nos velhos tempos.
Lena se jogou na cama primeiro, cruzando os braços atrás da cabeça e lançando um olhar provocador à irmã.
— Agora me conta essa história direito. Como é mesmo que ele é bonito?
Lana revirou os olhos e riu, tirando o elástico do cabelo.
— Você observou demais, hein?
— Eu, não. Foi você quem falou com aquela voz quase suspirando… “ele é um homem bonito”… — Lena disse, imitando a irmã.
Lana riu, sentando-se na cama.
— Tá bom, ele é bonito. Aliás… não é só bonito. Ele é lindo. Mas vamos combinar, né, Lena? Ele era noivo de uma top model. Você acha mesmo que um homem desse vai olhar pra um… barril de banha?
Lena arqueou uma sobrancelha e falou com convicção:
— O que mais tem é homem por aí querendo olhar pra esse seu “barril de banha”, viu? Você é que não dá confiança. Você não enxerga o efeito que causa.
Lana gargalhou.
— Ai, Lena, eu tô tão cansada. Eu não tô preocupada com isso, sinceramente.
As duas seguiram para o banheiro, escovaram os dentes lado a lado, rindo das bobeiras do dia e dos comentários de duplo sentido da irmã mais velha.
— Boa noite, barril de banha — provocou Lena, se jogando de novo na cama.
— Boa noite, linguaruda — respondeu Lana, já apagando a luz do abajur.
— E não se esquece que amanhã você tem faculdade. E agora tem função nova, viu? Foco total, sra. assistente direta do CEO.
— Agora sim, Lena. Agora eu vou trabalhar de verdade.
— E vai causar — respondeu a irmã, com um sorrisinho malicioso no escuro.
E então, o silêncio da noite tomou conta. A tranquilidade de um lar que mesmo simples, era cheio de amor, respeito e orgulho.
Lana chegou cedo, como sempre. A recepção ainda estava silenciosa, mas o movimento começava a se formar nos corredores. Quando ela entrou na sala da Shirley, a secretária a recebeu com um sorriso caloroso.
— Bom dia, Lana. O doutor Patrick ainda não chegou, mas a sua mesa já está arrumada. O notebook é novinho, de última geração. E sim, já tem uma pilha de tarefas esperando por você — disse, piscando com humor.
Lana sorriu de volta, ainda surpresa com tudo aquilo.
— Obrigada, dona Shirley. Eu… na verdade, estava esperando ele chegar pra saber como eu devo começar.
Foi então que a porta do elevador exclusivo se abriu. Patrick apareceu impecável como sempre, terno escuro, expressão concentrada. Ele caminhou em direção a ela, parando à frente com as sobrancelhas levemente erguidas.
— Senhorita Lana… o que está fazendo aqui fora?
— Eu… eu estava esperando o senhor para saber por onde começar…
Ele gesticulou com um leve sorriso de canto.
— Ontem, assim que a senhorita saiu, mandei preparar sua estação de trabalho na minha sala. Mesa, notebook, tudo. A senhorita agora trabalha comigo. Direto.
Shirley, que vinha atrás, completou:
— Está tudo lá, Lana. A senha do sistema é a mesma. Já deixei os arquivos separados, conforme as instruções do doutor Patrick. Parabéns, viu? Você merece.
Lana agradeceu com um aceno tímido e entrou com ele. Ao passar pela porta dupla, os olhos dela se arregalaram.
Uma mesa elegante, com acabamento em madeira escura, estava posicionada próxima à parede lateral, com visão ampla da cidade pelas janelas. O notebook reluzia sobre o tampo impecável — um MacBook Pro topo de linha. Ela engoliu em seco, emocionada.
“Meu Deus… jamais imaginei trabalhar com um computador desse. Agora sim, o jogo virou.”
Ela sentou, ajustou a cadeira, abriu os arquivos e se concentrou. Em poucos minutos já estava navegando pelas planilhas, ajustando os indicadores e separando documentos conforme as instruções de Shirley.
Patrick a observava de canto de olho, em silêncio, admirando a forma precisa como ela digitava, analisava, anotava.
Pouco depois, ele se levantou.
— Senhorita Lana… — chamou, fazendo-a erguer os olhos.
— Sim, doutor Patrick?
— Tenho uma reunião agora. Quando terminar essa primeira parte, revise essas planilhas e prepare os relatórios. A reunião da tarde será com os acionistas. Preciso desses números muito claros. Não terei tempo de organizá-los.
Ela assentiu de imediato.
— Pode deixar. Quando o senhor voltar, tudo estará pronto.
— Confio nisso.
Ele saiu, e ela mergulhou no trabalho. Encontrou inconsistências que cruzou com os relatórios da semana anterior, refez gráficos, destacou pontos de alerta. Organizou tudo em uma apresentação clara e objetiva. Quando Patrick voltou, já mais relaxado, ela se levantou com a pasta em mãos.
— Aqui estão os documentos, doutor Patrick. Revisei os gráficos, corrigi os pontos inconsistentes e separei os dados conforme solicitado. Acrescentei também uma projeção comparativa baseada no último trimestre, caso o senhor ache útil.
Ele folheou rapidamente, depois ergueu os olhos com expressão genuinamente surpresa.
— Impressionante… — disse. — A senhorita se superou. E por isso, quero que compareça à reunião comigo. A senhorita mesma vai apresentar esses dados. Favoráveis e desfavoráveis.
Ela piscou, hesitante:
— Eu? Mas, doutor Patrick…
Ele a interrompeu gentil, mas firme:
— A senhorita é economista, não é?
— Sim, sou. Só falta o estágio para validar o certificado…
— Pois bem. Já provou que tem competência. E eu faço questão de explorar ao máximo esse seu potencial.
Lana sentiu o coração bater mais forte. Não pelo elogio apenas — mas pela forma como ele a olhava. Com respeito. Com confiança.
A reunião da tarde seria um divisor de águas. Para a empresa. E para ela.
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