####INTERESSE?

1054 Palavras
Lloyd passou os olhos pela loja, um tanto confuso diante de tantos produtos. — Agora vamos lá... — disse, coçando a nuca — eu não entendo absolutamente nada de enxoval. Muito menos de bebê. — Ele riu de leve e então olhou para Lisbeth com confiança. — Então, eu gostaria que você fizesse todas as sugestões. Escolha como se fosse para o seu filho. Ela arregalou ligeiramente os olhos, surpresa. — Como se fosse meu...? — murmurou, corando sutilmente. Ele riu com naturalidade. — Quer dizer, é... você é muito jovem ainda pra ser mãe, né? Mas faça de conta. Lisbeth sorriu com doçura, assentindo. — Tudo bem, senhor Lloyd. Vamos começar pelos tons. Como a mãe quer surpresa, trabalharemos com neutros e suaves: verde bebê, amarelinho claro, branco, marfim, pérola, bege claro... Esses tons trazem aconchego e delicadeza para ambos os ambientes. Ela começou a separar peças com mãos experientes e olhar criterioso. — Sugiro que compre peças em três tamanhos: RN, P e M. Nos primeiros dias, o bebê perde peso, mas logo recupera e cresce bem rápido. Então não vale a pena investir muito em roupinhas RN. — Você fala com uma segurança... Tem filhos? — perguntou ele, curioso. Ela sorriu novamente, com ternura. — Não, senhor. Mas trabalho numa loja de bebês. Estar informada é parte do meu dia a dia. Além disso, convivo com muitas mães, e acabo aprendendo bastante. — Faz sentido... — murmurou ele, admirado. Lisbeth continuou organizando conjuntos. — O ideal é comprar o suficiente para os três primeiros meses. Agora, mantas, jogos de lençol, toalhas fralda, fraldas de boca e descartáveis... pode estocar. Vai usar muito. E como o senhor quer montar dois ambientes — o da mãe e o da sua casa — o ideal é duplicar esses itens. — Entendido. Faça como achar melhor. Escolha tudo o que for necessário. — Eu vou montar uma lista básica de enxoval completo para o senhor, com tudo que é realmente importante: esterilizador de mamadeira, kit de higiene, bolsa maternidade, naninha, cueiros, banheira com suporte, mamadeiras com bico especial — como o formato do seio — para o caso da amamentação não funcionar de imediato. — Meu Deus... tem tudo isso? — disse ele, surpreso, acompanhando os itens com os olhos arregalados. Ela riu suavemente. — Tem, sim. E olha que essa ainda é uma lista básica. Eu só espero que, quando eu for mãe, consiga dar tudo isso para o meu bebê também. Ele a olhou por um momento mais longo do que o necessário. Havia algo naquela jovem — sua delicadeza, dedicação, e jeito carinhoso com cada item — que despertava nele um respeito genuíno... e um certo encantamento silencioso. No final, com o carrinho de compras virtual cheio e todos os itens selecionados para entrega nos dois endereços, o valor final saltava aos olhos: mais de 40 mil dólares. Lloyd não hesitou. Confirmou o pagamento integral. — Muito obrigado, Lisbeth. Você é extremamente gentil e eficiente. Uma pena mesmo que a minha acompanhante tenha sido tão desagradável com você da outra vez. — O senhor não precisa se desculpar por ela. Está tudo bem. — Não está não. Ninguém deveria se acostumar a ser destratado, muito menos em seu ambiente de trabalho. Ela não respondeu. Apenas sorriu com dignidade. Ele então estendeu a mão. — Você poderia me entregar um cartão da loja com o seu número direto? Se eu precisar de mais alguma coisa, prefiro entrar em contato com você. Aqui vocês fazem home office também, né? — Sim, fazemos. E claro, vou colocar meu ramal e o número direto aqui para o senhor. Ela entregou o cartão com o logo da loja e uma pequena anotação à mão com sua caligrafia caprichada. — Pronto. Qualquer coisa, é só me chamar. — Obrigado, Lisbeth. — Ele guardou o cartão com cuidado, lançando-lhe um olhar mais atento antes de se despedir. — Até breve. E saiu, deixando o perfume discreto no ar... e a sensação de que aquele “cliente” voltaria mais vezes — não apenas pelo enxoval. A gerente se aproximou com um sorriso largo e olhos brilhando de orgulho, segurando a folha de fechamento da venda. — Minha filha... — disse, colocando a mão no ombro de Lisbeth — a primeira venda do dia: quarenta mil dólares! Lisbeth arregalou os olhos, surpresa. — Tudo isso? — Tudo isso! — repetiu Dona Layd com entusiasmo. — Você comissionou praticamente todo mundo da loja! E, se eu não estiver enganada, com essa comissão sua... você já está garantindo a primeira prestação da dívida do hospital da sua mãe, não está? Lisbeth sentiu os olhos marejarem, mas segurou firme, sorrindo. — Sim... seria tão bom se esse dia tivesse mais surpresas assim, agradáveis, né? — É... — suspirou Dona Layd, pensativa. — Semana passada teve aquele casal dos trigêmeos, lembra? Trinta mil dólares num piscar de olhos. — Lembro sim, mas não é sempre assim, né, Dona Layd? — disse Lisbeth com humildade. — Mas Deus está sendo generoso comigo. A gerente assentiu, segurando as mãos dela com carinho. — E eu acredito, de verdade, que com a venda que você fez hoje... não vai nem ser necessário você fazer hora extra. O que você acha? Lisbeth hesitou por um instante, olhando em direção à vitrine da loja, onde as vitrines refletiam a luz do sol como um sinal de esperança. — Se a senhora me dispensar mais cedo... eu quero ir pra casa sim. — confessou, com um nó na garganta. — Preciso estar mais próxima da minha irmã. Eu senti isso hoje mais do que nunca. — Está certo, Lisbeth. Você entrou às nove hoje. Então vai sair às dezessete, como de costume. Não precisa se estender até às 21 horas, como tinha pedido. Pode ir no seu horário normal. Lisbeth apertou a mão da gerente com gratidão. — Muito obrigada, Dona Leide. De verdade. A gerente sorriu e piscou. — Você merece. Hoje foi o seu dia. E olha... ainda é cedo. Quem sabe ele ainda te surpreenda mais um pouco, hein? Lisbeth soltou uma risadinha contida, olhando para o cartão que Lloyd deixara em suas mãos pouco antes. Guardou-o com cuidado no bolso do avental da loja — como se já soubesse que aquela história estava longe de terminar.
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