####OS BEBÊS NASCERAM

1651 Palavras
A psicóloga plantonista, com o semblante sereno, se abaixou ao lado da cama de Maris, que ainda m*l conseguia manter os olhos abertos. O chiado de sua respiração se misturava com o bip ritmado dos monitores. Ela estava frágil, mas consciente. Seus lábios tentavam formar palavras, sem voz, apenas murmúrios desconexos, mas cheios de sentimento. — Maris... — começou a psicóloga com suavidade. — Eu sei que você tem muitas perguntas, mas você ainda está em recuperação. E há coisas que precisam ser ditas com muito cuidado. Maris piscou lentamente, tentando se concentrar. — Sua filha... a Brittany... ela não sabe do que aconteceu com você. Ela está aqui no hospital... mas está em repouso com os bebês dela, que nasceram prematuros. Os olhos de Maris se arregalaram, confusos. — Bebês...? — sussurrou, num fio de voz quase imperceptível. Dreew, que estava sentado ao lado, apertou sua mão com firmeza, mas com ternura, e respondeu com um leve sorriso no canto dos lábios. — Sim... os bebês nasceram. Um menino... e uma menina. — Ele fez uma pausa, a emoção apertando a garganta. — Você é avó, Maris. Um traço de luz brilhou nos olhos marejados dela. As palavras pareciam dançar em sua mente como um eco de esperança. — Bebês... netos... filha... — sussurrou com esforço, esboçando um sorriso fraco, ainda anestesiada pela emoção. Logo em seguida, o cansaço venceu seu corpo. Ela fechou os olhos devagar, e adormeceu outra vez — como se estivesse processando, em sonhos, tudo aquilo que ainda não compreendia desperta. A psicóloga se levantou com calma, fez um leve aceno com a cabeça para o neurologista, e saiu discretamente, pronta para acionar a colega que acompanha Brittany. A ponte entre mãe e filha começaria a ser construída — e exigiria todo o cuidado do mundo. No interior da UTI, após a saída da psicóloga... O neurologista plantonista se aproximou da maca com o semblante concentrado. Pegou a prancheta digital ao lado do monitor e fez algumas anotações rápidas. Após auscultar o tórax de Maris, verificou os sinais vitais e fez alguns testes com uma pequena lanterna, observando as reações pupilares. — Ela ainda está instável, mas lúcida. O cérebro dela está tentando se reorganizar, — comentou em voz baixa, voltando-se para Dreew, que permanecia ao lado, com os olhos vermelhos de cansaço e preocupação. — Doutor... ela vai voltar ao normal? O médico respirou fundo antes de responder, com a calma de quem já enfrentou muitas dores e verdades difíceis. — Ainda é cedo para dizer. A gente precisa observar como serão os reflexos dela ao acordar completamente. A sedação agora é leve, mas nas próximas horas ou amanhã, precisaremos fazer um exame mais detalhado. Quero verificar os reflexos das pernas... — Ele fez uma pausa. — Para termos uma ideia mais clara se houve comprometimento na medula. Dreew desviou o olhar, tenso. — Você está me dizendo que ela pode... não voltar a andar? — Existe essa possibilidade, sim. Mas também existe chance de não haver sequela permanente. Isso vai depender da resposta do organismo dela e... também da força de vontade. De toda forma, todas as notícias, a partir de agora, devem ser dadas com acompanhamento psicológico. Não só a ela, mas também à sua filha. Porque... são duas pacientes fragilizadas e emocionalmente vulneráveis. O médico olhou fundo nos olhos de Dreew, avaliando-o. — O senhor está tomando o medicamento que a psicóloga me pediu para lhe prescrever contra a ansiedade? Dreew hesitou antes de responder: — Não estou conseguindo dormir... nem com medicação leve. — Então eu vou lhe prescrever um ansiolítico mais eficaz. Mas só será aplicado aqui, sob nossa supervisão. O senhor está dirigindo? — Não. Meu motorista está me esperando lá fora. O neurologista assentiu, aliviado. — Menos m*l. O senhor vai sair daqui, vai para casa, tomar um banho, jantar e descansar. Amanhã, depois do trabalho, volte ao hospital. As duas vão precisar do senhor firme. E o senhor não tem mais idade para suportar tamanho estresse sem consequências físicas. O corpo cobra. Ele entregou a receita à enfermeira e prosseguiu: — Eu vou entrar em contato com a psicóloga que acompanha o caso da sua filha. Agora que a mãe despertou, ela vai precisar ser orientada sobre como conduzir esse reencontro... e como contar o que houve. O médico encerrou a consulta com um leve aceno de cabeça: — Tudo tem seu tempo, senhor Dreew. E o tempo agora pede calma. Vá descansar. Amanhã... é outro dia. Ainda na UTI, após a conversa com o neurologista… A enfermeira, que acompanhava a consulta silenciosamente, aproximou-se com um frasco transparente entre os dedos protegidos pela luva. Checou a prescrição no prontuário eletrônico e preparou a seringa com habilidade. — Senhor Dreew, vou aplicar agora o medicamento, está bem? É apenas para que o senhor consiga descansar. O corpo do senhor precisa tanto quanto o coração. — disse com voz gentil, enquanto injetava lentamente o ansiolítico no braço dele. Ele não resistiu. Estava exausto demais para questionar. A enfermeira observou a reação nos minutos seguintes e, notando os músculos dele finalmente relaxando, tocou de leve o ombro dele. — Vamos até a saída? Vou levá-lo na cadeira de rodas até seu carro. É apenas precaução. O senhor está sob o efeito inicial do sedativo e precisa de suporte. Sem discutir, ele assentiu com um leve murmúrio. A enfermeira trouxe a cadeira, ajudou-o a se acomodar com cuidado e conduziu-o pelos corredores em silêncio, respeitando aquele momento íntimo de fragilidade. Ao chegar à entrada do hospital, o motorista já aguardava próximo ao carro preto de vidros escurecidos. Ao vê-lo, correu para ajudar. — Ele está bem? — perguntou preocupado. A enfermeira respondeu com profissionalismo, mas com ternura: — Sim. O medicamento foi aplicado com segurança, mas ele precisa de repouso. Ele está apenas relaxado, mas o senhor precisa garantir que ele tome um banho, coma alguma coisa leve e... principalmente, que ele durma. O motorista fez um gesto de respeito com a cabeça e abriu a porta. — Pode deixar. Eu vou cuidar dele. O doutor Dreew , ele não é apenas meu patrão. É meu amigo. E eu sei que ele precisa de paz esta noite. A enfermeira tocou levemente no ombro do motorista como gesto de gratidão, e então observou enquanto ele acomodava Dreew com cuidado no banco de trás, ajustando o cinto de segurança. — Boa noite. E, por favor, cuidem-se todos. Essa família vai precisar de força. — Boa noite, senhora. Obrigado por tudo, — respondeu ele antes de fechar a porta. O carro partiu, levando consigo não apenas um homem quebrado pelas circunstâncias, mas alguém que, naquela noite, precisava da esperança de um novo recomeço — para si, para a ex-esposa, para a filha… e agora, para os netos que m*l conheciam. Lena chegou em casa exausta, mas com os olhos brilhando por uma mistura de alívio e preocupação. A bolsa escorregou do ombro quando ela fechou a porta, e os pais, que estavam sentados no sofá, se levantaram ao vê-la. — Filha? Alguma novidade? — perguntou a mãe, ansiosa. Lena assentiu com um sorriso contido e emocionado. — A Maris acordou… — disse com a voz embargada. — Ela abriu os olhos. Chamou pelo ex-marido e pela Brittany. Mas ainda está muito fraca. A psicóloga disse que vai preparar as duas antes de permitir o reencontro. — Graças a Deus… — sussurrou a mãe, levando a mão ao peito. O pai de Lena também agradeceu em silêncio, fazendo o sinal da cruz. — E a Brittany? — ela perguntou logo em seguida. — Ela ainda não sabe de nada. A psicóloga quer evitar qualquer impacto, já que ela ainda está no hospital com os bebês prematuros. Vai esperar a hora certa. A mãe concordou, compreensiva, e então olhou para o marido antes de voltar os olhos para a filha. — Ah, sua irmã perguntou de você. Queria saber se você já tinha chegado. Disse que precisava conversar contigo amanhã. Lena franziu o cenho, curiosa. — A Lana? Ela ainda está no hospital? O pai respondeu, direto: — Não. O Patrick veio buscá-la. E pediu que ela ficasse de vez no apartamento dele. Disse que a médica da Lana diagnosticou diabetes gestacional e que a pressão dela está subindo demais. Ela precisa de monitoramento constante e o hospital fica mais próximo do apartamento dele. A mãe completou, com um sorriso suave nos lábios: — E também… eles decidiram que vão se casar no civil. Na segunda-feira de manhã. — Na segunda?! — Lena arregalou os olhos. — Tão rápido? — É, minha filha, — disse o pai. — Ele quer garantir que tudo esteja legalizado, principalmente porque agora ela precisa de cuidados redobrados. E ele quer ficar mais perto dela, protegê-la, assumir como marido. Foi o que ele disse. — Ela contou quem vai estar no casamento? — perguntou Lena, ainda surpresa. — Só a gente mesmo, — respondeu a mãe. — Nós, os pais dele, os pais da Nice, o Louis, o Harry, a Pathy e os pais deles. Nada de festa. Só a cerimônia. Depois, quando os bebês nascerem e tudo estiver bem, aí sim eles pensam no religioso. Lena suspirou, colocando as mãos na cintura. — E como eu vou fazer? Eu preciso ficar com a Brittany. Não posso deixá-la sozinha… O pai colocou a mão sobre o ombro da filha e respondeu com calma: — Conversa com a enfermeira amanhã. Explica a situação. Vê se ela pode ficar até um pouco mais tarde com a Brittany até você chegar. Sua irmã vai querer muito sua presença lá, você sabe disso. Lena assentiu, sensibilizada. — Sim… eu sei. E ela merece isso. Merece estar cercada por quem ama ela. Tudo bem, papai. A gente vai dar um jeito. A mãe sorriu, emocionada. — Vai dar tudo certo, minha filha. Deus já está cuidando.
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