A APOSTA MILIONÁRIA

Jantar

O telefone tocou já no início da noite. Patrick atendeu sem grande entusiasmo.

— Oi, amor… — disse Brittany com a voz melosa. — Vamos no ver hoje?

Ele suspirou. A lembrança do almoço ainda estava entalada.

— Brittany, depois da cena que você fez hoje na empresa, você ainda quer sair?

— Ai, Patrick, agora você vai brigar comigo por causa daquela horrorosa?

A paciência dele chegou ao limite.

— Primeiro, aquela moça tem nome. E segundo, ela não é horrorosa. Ela é uma mulher bonita, só fora dos seus padrões de beleza, que você mesma criou. Mas ela é sim bonita. E mais: educada.

— Você tá me comparando com aquela filha do porteiro?

Ele manteve o tom firme, mas sem alterar a voz:

— Sim. Porque ela merece respeito. E, aliás, já que você tocou no assunto. Me diz uma coisa, Brittany: quantos idiomas você fala?

Ela riu com desdém:

— Ué, eu falo inglês — que é meu idioma — e francês. Tá ótimo, né?

— Pois é. Aquela “filha do porteiro”, como você chama, fala inglês, francês, espanhol, português, italiano e alemão. E tem vinte e um anos. Enquanto o pai dela rala no trabalho e a mãe se desdobra com encomendas de doces e salgados, ela se esforça e conquista tudo pelo próprio mérito. Então não, eu não vou admitir mais esse tipo de desrespeito seu. Nunca mais.

Do outro lado da linha, silêncio.

— Patrick… você está me deixando por causa dela?

— Não se trata de “deixar”. Se trata de respeito e caráter, duas coisas que estão em falta nas suas atitudes. E quanto ao jantar de hoje… — ele respirou fundo —vou jantar com meus pais.

— Então eu vou também, ué.

— Não. É um jantar íntimo. De família. Boa noite, Brittany.

E desligou.

pela luz suave dos lustres de cristal. Estavam presentes Patrick, Louis, Harry, os pais do Harry — elegantíssimos, porém acolhedores —, a irmã dele, e os pais de Patrick, que haviam preparado um jantar especial para reunir a família.

A mãe de Patrick, observando a ausência óbvia, perguntou casualmente:

— Meu filho, e a Brittany? Não virá jantar conosco hoje?

Patrick respirou fundo, apoiando os talheres com calma.

— Não, mãe. Preferi que fosse um momento só de família.

Harry e Louis se entre olharam, tensos. Louis, sempre mais impulsivo, resolveu abrir o jogo.

— Mãe, na hora do almoço, a Brittany causou um constrangimento enorme com uma funcionária nova da empresa.

Patrick fechou os olhos, apoiando a testa na mão. Harry tomou a frente:

— Foi feio, tia. Ela ofendeu a moça. Chamou de barril de banha.

— O quê? — a mãe do Harry arregalou os olhos.

— E o Patrick nem almoçou. Ficou tão sem graça com a situação que subiu direto — completou Louis.

— E vocês dois? — indagou o pai do Harry, arqueando a sobrancelha com autoridade.

Louis engoliu seco.

— A gente fez uma brincadeira.

— Uma brincadeira de mau gosto — emendou Patrick, num tom duro, sem levantar a voz.

Harry coçou a nuca, envergonhado.

— Apostei um milhão de dólares com Louis que eu conquistava a Lana só pra provocar a Brittany— e se apressou em se justificar. — Não que a gente quisesse mesmo. Tá, talvez um pouco, mas, a aposta foi mais para ver a cara dela. A Brittany estava desprezando tanto a menina, chamando de horrorosa.

— E ela não é — disse Louis, rápido. — Muito pelo contrário. Ela está fora dos padrões da Brittany mas, tia a moça é linda.

— Fora dos padrões, sim, mas uma moça linda — Harry confirmou, empolgado. — Tem quase um metro e oitenta, mãe. Cintura fina, pernas grossas, b***a de virar pescoço, s***s que parecem de escultura.O rosto? Uma boneca de porcelana!

Louis caiu na risada:

— Diferente da Barbie do Sete Além.

Harry emendou:

— A espeto de gafanhoto.

Patrick quase cuspiu o vinho. Tossiu rindo:

— Pelo amor de Deus! Eu não acredito que vocês já criaram apelido. Quem é a "espeto de gafanhoto"?

Louis respondeu com naturalidade:

— A tua noiva.

A irmã do Harry arregalou os olhos. O pai dele ergueu as sobrancelhas em silêncio. Mas a mãe de Patrick não conteve o riso.

— Vocês contaram isso para ela?

— Claro que não! — disseram em coro. — Mas ela vai descobrir cedo ou tarde.

A mãe do Harry não riu.

— Meus filhos, vocês já não têm mais quinze anos. Essas brincadeiras de aposta, de apelido, machuca as pessoas. Vocês não podem continuar agindo como se estivessem no ensino médio. São empresários, são adultos!

Harry abaixou a cabeça:

— Eu sei, mãe. A gente errou. Mas nos aprendemos . Mandamos orquídeas para Lana e uma caixa de chocolates. A mesma coisa que o Patrick ia mandar.

Louis confirmou:

— E a gente pediu desculpas. De verdade. Explicamos que foi para colocar a Brittany no lugar dela.

A mãe de Patrick balançou a cabeça.

— Patrick, meu filho, essa menina, a Brittany. Antes de ficar noiva, ela até se esforçava para agradar. Depois do noivado, parece que subiu num pedestal. Ela humilha as pessoas, se acha melhor do que todos.

O pai assentiu com seriedade.

— E o pior é que a mãe dela alimenta isso. É tão fútil quanto. O pai até tenta dar limites, mas a mulher dele.

Patrick passou a mão no rosto.

— Sinceramente, eu já não sei mais se vai haver casamento. Hoje, depois daquilo tudo, eu pensei muito. Quero uma mulher para vida toda. Não uma que, em menos de três meses, eu esteja pedindo o divórcio.

Todos ficaram em silêncio. A irmã do Harry colocou a mão no ombro de Patrick com carinho.

— Ainda bem que você percebeu isso a tempo.