Para Camiila, haviam muitas coisas boas quando era noite de lua cheia.
O lado bom era que a visibilidade era perfeita – principalmente quando você está na corrida para salvar a sua própria vida, se esgueirando pelo becos da cidade e ruas que mais parecem labirintos. A luz seria muito útil caso ela quisesse usar sua arma que estava em punho, pronta para desferir contra seus perseguidores. Ela era uma excelente atiradora e sabia disso. Mesmo naquela quase escuridão, poderia acertar seu alvo sem grande dificuldade, a uma distância considerável.
Por outro lado – a parte r**m – seus perseguidores também eram exímios atiradores e também aproveitavam a iluminação – mesmo escassa – a seu favor. Seu número era maior, estavam em seis e deixavam Camilla em uma grande desvantagem e se entrassem em um confronto, certamente ela não escaparia com vida.
Então ela correu.
O máximo que conseguia.
Se enfiou pelos becos escuros, vielas... escondendo-se atrás de grandes latas de lixo... observando sempre à esquerda e à direita; olhando atrás se tinha tomado uma boa distância. Camilla era uma boa policial; trabalhava com esmero pois amava o que fazia. Sempre se cuidou; cuidou de sua saúde e se manteve em forma. O grande problema nesse momento é que seus perseguidores também são muito experientes; além de estarem em um número maior e capazes de fazer um cerco se a encontrarem.
Ela estava praticamente sendo forçada a lutar em um território totalmente desconhecido. Ela era nova no lado sul da cidade; foi transferida recentemente para o Rio de Janeiro – há menos de um mês. Aqueles que estão seguindo-a, são policiais que conhecem bem o local, são mais experientes naquela região. Conhecem cada ponto cego, cada beco, cada viela e sabiam onde poderiam encurrala-la.
Virando uma esquina, ela escorreu. Em sua frente estavam dois policiais que a seguiam: Moreira e Castro. Ambos eram jovens, com menos de vinte e cinco anos, e em forma tão boa ou melhor do que Camilla. O que mais era preocupante, porém, era que ambos apontavam suas armas na direção dela. Ela jogou-se para a direita enquanto os dois homens desferiram uma rajada de tiros em sua direção; errando por muito pouco as suas pernas enquanto ela rolava para trás de uma lixeira no beco.
"Merda!" ela xingou.
Olhou ao seu redor rapidamente. Não havia muito com o que se proteger, ela precisava ser franca. A lixeira estava próxima a um antigo armazém fechado. Todo o acesso que ela tinha era uma porta de metal, mas parecia estar trancada, então não era de grande ajuda.
"Camillaaaa, estamos indo atrás de você," Moreira provocou, se aproximando cada vez mais da lixeira. "Facilite logo as coisas para você, sua p*****a. Desista logo e se entregue. Prometo que você terá uma morte rápida... ou não.”
Camilla verificou a trava de segurança de sua arma e tentou controlar a respiração. Olhou rapidamente ao redor, pela borda da lixeira, e antes que os dois pudessem agir, abriu fogo contra eles. Ela sabia que tinha apenas alguns segundos antes que os outros quatro homens, também membros de um grupo corrupto de policiais, escutassem o som dos tiros e se aproximassem, e então ela estaria acabada.
Fez uma rápida oração para qualquer deus que pudesse estar ouvindo naquele momento, Camilla entrou em conflito por trás da lixeira, sempre atirando quando ela caiu de joelhos. Castro era arrogante, e estava certo de que tinha sua presa acuada. Sua arrogância custou caro quando Camilla colocou uma bala diretamente em sua garganta, cinco centímetros acima do colete que ele usava. As mãos dele foram imediatamente para seu pescoço, tentando inutilmente manter o fluido de sua vida em seu corpo. Ele deixou cair sua arma, antes de tombar com a cara no chão frio e sujo daquele beco.
Moreira, porém, foi mais cuidadoso. Camilla sabia que ele envolvidos com coisa errada – inclusive, haviam rumores de que ele fazia parte de alguma facção criminosa da região. Ele já tinha visto o tiroteio de antes e estava se esquivando na parede do beco antes mesmo que Camilla pudesse rolar e atirar.
O forte impacto o impediu de atirar, salvando a vida de Camilla.
Ela ajustou sua visão, apertando o gatilho de sua arma assim que Moreira disparou de volta. Ambos foram atingidos simultaneamente. Moreira foi atingido na coxa. A bala atravessou sua artéria femoral, derrubando-o e fazendo com que o sangue começasse a jorrar no ar. Ele não teve chance alguma de sobrevivência. Seus gritos foram perdendo força quando ele caiu na inconsciência da morte.
A bala de Moreira atingiu Camilla no ombro esquerdo, jogando-a no chão. Ela gritou de dor e tentou com todas as forças se levantar para fugir dali o quanto antes.
Antes que Camilla pudesse levantar e dar um passo, ela viu os quatro policiais, caminhando calmamente em sua direção. Dois deles possuíam armas semelhantes às que Moreira e Castro carregavam, nos ombros e prontos para dispararem contra ela. Os outros dois, o sargento Nogueira e o tenente Santos, estavam armados com o mesmo estilo de arma que Camilla carregava. Afinal, todos ali eram policiais da mesma corporação.
"Chega, Camilla", disse Santos. "Eu não vou mentir para você e dizer que você vai viver. Mas pelo menos vou lhe dar uma morte digna e rápida. Se você não se render, vou deixar Nogueira e seus rapazes aqui mandarem você direto para o inferno, antes que joguem seu corpo no rio."
Camilla pensou sobre isso por alguns segundos. Além de seu próprio batimento cardíaco, Camilla não conseguia ouvir nenhum outro som, exceto o raspar de pés na calçada. Foi uma bela noite. "É um bom dia para morrer", ela sussurrou para si mesma, seu dedo apertando o gatilho.
Antes que ela pudesse terminar de apertar, uma forma enorme entrou no beco, bloqueando todo o seu campo de visão. Ela pôde se sentir agarrada por braços incrivelmente fortes, e de repente ela estava sendo erguida para cima, sua audição foi abafada enquanto ela era puxada contra algo quente, firme e grande.
Ela m*l podia perceber os estalos abafados quando os quatro homens próximos dispararam contra o que diabos a estava levantando. O seu pensamento foi que ela não conseguia respirar. O que quer que a estivesse segurando, seu rosto estava esmagado contra uma parede firme do que parecia... ser um peitoral?
Antes que ela pudesse refletir sobre qualquer outra coisa, ela sentiu que ele parou de andar e ela foi solta. Deu dois passos para trás, cambaleando; piscou duas vezes, rapidamente. De pé, em sua frente estava talvez, o homem mais forte e grande que ela já tinha visto. Um metro e oitenta e nove, com ombros e peito largos.
Ele tinha aparência selvagem e era muito, muito bonito, com cabelo castanho-escuro na altura dos ombros, olhos na cor âmbar e dentes incrivelmente brancos. Ele estava usando um sobretudo preto, calça e camisa pretas e um coturno.
"Você foi atingida?" o homem questionou. Sua voz tensa e ofegante.
Camilla assentiu com espanto. Ela olhou ao redor e percebeu que estava em um telhado, provavelmente do armazém próximo ao beco em que ela achava que ia morrer. O cenário era demais para ela, e o choque combinado com o tiro, o seu resgate e agora, o telhado era demais para seu cérebro suportar. Ela sentiu a escuridão se aproximando e se deixou dominar por aquela sensação de entorpecimento. Seu último pensamento foi de alívio que algo a pegou novamente.
***
Obs. A partir do próximo episódio falta revisar.