SARA Eu tava um caco, despejada do barraco, sem trampo, com a vergonha do vício e a dor da Biruta ainda me comendo viva. Ele me levou até um carro estacionado, um carrão preto com vidros escuros, e mandou eu entrar no banco de trás. Quando sentei, vi um cadeirão de bebê, um tablet pendurado no encosto do banco, revistas de colorir e uns brinquedos espalhados. Tava na cara que ele era pai. Eu abracei a mochila, com minhas poucas roupas e o caderno dentro, ainda tava toda molhada, tentando entender o que tava rolando. Ele dirigiu morro acima, em silêncio, com uma cara séria que me dava medo e curiosidade ao mesmo tempo. Parou num canto que eu conhecia bem — um lugar onde já comprei meu pozinho algumas vezes. Ele desceu, falou baixo com um rapaz baixinho que me olhou curioso, com um sor

