Episódio 01 — Pantera

1679 Palavras
Entre a vida e o fogo cruzado, nasceu em mim um homem frio, calculista e sem um pingo de escrúpulos. O que eu sou hoje não é uma maldita escolha, é um reflexo do inferno em que eu cresci. Me tornei a p***a do monstro que o mundo precisava que eu fosse. O sangue que carrego nas mãos não pesa, pelo contrário, ele me fortalece. A vida me ensinou na marra que confiar em alguém é o primeiro passo para a desgraça. Não existe amor, não existe lealdade. Tudo não passa de um jogo sujo onde, se você vacila, é engolido vivo. Eu vi isso acontecer bem na minha frente. Senti isso na pele. E jurei que nunca mais deixaria essa merda acontecer comigo. Mulher nenhuma presta. Nenhuma. São todas iguais. Sorrisos falsos, promessas vazias e juras de amor que não valem nada. No fim, todas se vendem por algum motivo, seja por dinheiro, status ou sobrevivência. Eu vi com os meus próprios olhos a prova disso. Passei anos achando que amava alguém, acreditando que tinha encontrado uma mulher diferente. Mas a verdade me pegou no tapa, me deixou de joelhos e cuspiu na minha cara. Ela nunca foi minha. Nunca foi de ninguém. Era só mais uma v***a, e pior que todas as outras. E o que dizer do filho da p**a que me colocou no mundo? Aquele desgraçado que eu tive o desprazer de chamar de pai? Um bosta. Um verme. Um maldito traidor que se achava o dono do meu destino. Ele sempre foi um nada, um lixo que nunca teve o respeito que tanto almejava. Se achava um rei dentro do morro, mas no fim, não passava de um rato. Ele cavou a própria cova quando fodeu a mulher que eu queria fazer minha esposa. Ali, naquele exato momento, morreu qualquer pedaço de humanidade que ainda restava em mim. Não tive um segundo de hesitação quando puxei o gatilho. Ajoelhei aquele bosta e fiz questão de olhar nos olhos dele antes de mandar ele direto para o inferno. E não me arrependo. Pelo contrário, dou graças a Deus por ter tido o prazer de apagar aquela desgraça da face da terra. Foi naquele momento que eu renasci. Foi ali que me tornei o pior de todos. O mais temido. O mais respeitado. O mais c***l. O que eu sou hoje, eu devo a ele. Ele me ensinou a nunca ser fraco. Me ensinou que para sobreviver nesse mundo, você tem que esmagar antes de ser esmagado. Mas ao contrário dele, eu não sou só mais um homem querendo poder. Eu sou o próprio d***o. O vento quente da noite entra pela janela, misturando o cheiro de pólvora e cigarro no escritório. O silêncio da madrugada só é interrompido pelo som das motos cortando as vielas e os estalos secos dos fuzis ao longe. Meu olhar está fixo no copo de whisky sobre a mesa, mas minha mente está distante. Um vazio. Um caos. Um ódio constante que me mantém de pé. — Tá no mundo da lua, p***a? — A voz firme de Barão invade o cômodo, me arrancando dos meus pensamentos. Levanto os olhos devagar, meu semblante impassível. O que esse c*****o quer agora? — Não te devo satisfações, p***a. Tá achando que é quem? — Minha voz sai cortante enquanto puxo o ferro da cintura, apontando pra ele sem hesitação. Meu irmão, acostumado com meu temperamento, apenas solta um riso carregado de deboche. — Sempre na ignorância, né, Pantera? — Ele caminha até a cadeira de frente pra mim e se senta, cruzando os braços como se tivesse todo o tempo do mundo. Mantenho a arma firme, mas não atiro. Ainda não. — O que c*****o você quer? — Minha paciência está por um fio. Barão apenas desliza um envelope pardo sobre a mesa, as bordas amassadas e sujas de sangue seco. Quando ele o abre, uma pilha de fotos se espalha à minha frente. Meu olhar gela no mesmo instante. — Que p***a é essa? — pego uma das fotos e examino com atenção. — O filho da p**a que tava entregando nossos negócios pros lixos do morro da Pedreira. — A voz dele sai carregada de nojo. — Um traíra dentro do nosso sistema. Meus dedos apertam a borda da foto até que ela amasse. O sangue ferve nas veias. O traidor está sorrindo na imagem, como se não carregasse a morte estampada no destino. Solto um riso seco, jogando a foto sobre a mesa. — Quero essa merda circulando entre os meus. Se alguém vazar essa informação... — levanto o olhar para Barão, que me encara, compreendendo exatamente o que vem a seguir — pode queimar vivo em praça pública. Quero um exemplo. Quero o cheiro de carne queimando no ar. Barão sorri, mas não de diversão. É um sorriso de quem já executou a ordem antes mesmo de recebê-la. — Já fiz isso, meu querido irmão. Me encosto na cadeira, puxando um trago do cigarro, observando a fumaça subir enquanto um único pensamento atravessa minha mente: nesse jogo, a lealdade vale mais do que a vida. — Que maravilha... — digo, pegando o copo e virando todo o líquido de uma só vez. O álcool desce queimando, mas a sensação é um mero detalhe. O gosto da vitória sempre foi mais viciante do que qualquer bebida. Barão se encosta na cadeira, relaxado, girando uma bala entre os dedos como se fosse um brinquedo. — Eu até ia deixar ele sofrer um pouco mais nas suas mãos, mas hoje tu tava atolado com as paradas. Teve que resolver o planejamento do carregamento. — Ele solta o comentário como se não fosse nada, mas eu sei que ele me observa, atento a qualquer reação. — Sim, mas já tá tudo resolvido. — informo, jogando o copo vazio sobre a mesa. Antes que ele diga mais alguma coisa, Coringa surge no cômodo, fuzil em punho, um sorriso de canto no rosto. — O filho da p**a do teu irmão brincou sozinho. — Ele solta uma gargalhada, e eu o acompanho. Barão levanta as mãos, debochado. — Eu te comuniquei, viado. Te avisei que ia fazer um churrasco em praça pública. — Ele gargalha mais alto, orgulhoso da própria obra. — Vocês dois são uns cuzão. Nunca aprendem, mané. — Coringa resmunga, mas não consegue esconder a diversão na voz. Minha paciência já tá por um fio. Levanto da cadeira, estalando o pescoço e pegando minha Glock sobre a mesa. — Circulando, p***a. Quero encerrar essa merda aqui. Vou subir no barraco e comer uma p**a qualquer. — digo com um sorriso torto. — Tu odeia as mulheres, mas nunca para de comer elas. — Coringa comenta, cruzando os braços. Ergo uma sobrancelha, o riso seco escapando dos meus lábios. — Só não como a tua mãe porque não gosto de mulher velha. Barão solta uma gargalhada alta, enquanto Coringa trava por um segundo, engolindo em seco. — Qual foi do bagulho, irmão? — Ele se ajeita, claramente desconfortável. Apenas dou risada, vendo o jeito que ele se remexe. — Leva pro coração porque quer, filho da p**a. — disparo, já saindo do cômodo com a mente focada no que realmente importa: descarregar meu estresse da única forma que conheço. — Podia levar a p**a pra casa. Vive indo nesse barraco. — Barão solta a provocação, rindo de canto. Lanço um olhar rápido pra ele antes de puxar o isqueiro do bolso e acender um cigarro de maconha. Dou a primeira tragada com calma, soltando a fumaça enquanto respondo: — Nossa mansão é sagrada, p***a. Levar qualquer v***a pra lá pode não ser uma boa ideia. — Gargalho. — Depois acham que são fiéis. Fiel é o c*****o! Fiel são as minhas bolas que eu carrego. Os dois riem junto comigo, compartilhando a mesma mentalidade. Coringa se ajeita na cadeira e balança a cabeça. — Tem razão, irmão. Alguma dessas vagabundas podia mesmo achar que é tua fiel. Se bem que... esses boatos já tão se espalhando pela comunidade. Meu riso morre na garganta. Me viro devagar e encaro Barão. — Quem tá falando essa merda? Ele dá de ombros, sem pressa. — Ouvi a Samara comentando. Ângela também. Levo a mão ao queixo, refletindo. — Resolvo isso amanhã. Hoje, meu foco é outro. — Dou uma tragada funda, soltando a fumaça pelo nariz. — Pretendo comer qualquer uma que der mole até chegar no barraco. Gargalho e eles apenas assentem, sabendo que não é brincadeira. Deixo os dois pra trás, ainda conversando, e sigo para a minha moto. Assim que monto, minha mente vagueia pro único pensamento que ainda me traz um gosto amargo na boca: aquela maldita mulher. Só Barão sabe da traição daquela p**a do inferno. Só ele sabe o motivo pelo qual matei nosso pai. Tive que contar. Tive que falar a verdade. E ele? Ele apenas disse que, se estivesse no meu lugar, teria feito o mesmo. Herdar esse morro foi a única coisa boa que me aconteceu. A melhor forma de viver a p***a da minha vida do jeito que eu quero, sem ninguém pra encher meu saco, sem ninguém pra me dizer o que fazer. Perdido nesses pensamentos, só percebo que cheguei quando vejo o barraco à minha frente. Desligo o motor da moto e balanço a cabeça, tentando afastar as lembranças. Mas a distração dura pouco. Duas vadias tão ali, dando sopa. Meu olhar desliza por elas e um sorriso torto nasce nos meus lábios. — E aí, princesas? — provoco, já sabendo que elas vão cair direitinho no que eu quero. A conversa dura pouco. O t***o fala mais alto. Em minutos, já tô com as duas, fodendo como se o mundo fosse acabar amanhã. Sem nome, sem apego, sem sentimento. Quando finalmente tô satisfeito, deixo as duas se pegando sozinhas e saio dali sem olhar pra trás. Não perco tempo com merda nenhuma. Meu destino final é a única coisa que realmente importa: minha fortaleza. Minha mansão. O lugar mais seguro do mundo.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR