Entre Olhares e Suspiros

1290 Palavras
Briana A sala de reuniões da Moreau Industries é tão silenciosa que eu consigo ouvir o sangue pulsando nos meus ouvidos. É um som alto, envergonhado, que parece gritar para todo mundo: "Olhem para mim, estou nervosa!" Eu me aconchego na cadeira de couro, tentando me fazer menor, mas é impossível. O vestido rosa-claro que comprei especialmente para hoje parece uma fantasia de adulta. Eu, Briana Almeida, modelo e criadora de conteúdo anônima, sentada à mesma mesa que diretores que assinam cheques com mais zeros do que eu vejo em um ano. E tem ele. Arthur Moreau está à cabeceira da mesa, um rei em seu trono de ébano. Ele veste um terno cinza-escuro que deve custar mais que meu carro. Os punhos brancos da camisa estão impecáveis, e os dedos longos batem uma batida lenta e hipnótica na mesa polida. Ele não está olhando para o diretor de marketing, que fala sobre "engajamento de mercado" e "projeções de vendas". Não. Ele está olhando para mim. Sinto o olhar dele como um peso físico, um feixe de laser que queima a lateral do meu rosto. É intenso, desconcertante, e totalmente sem disfarces. Não é um olhar de chefe para funcionária. É... algo muito mais primitivo. Meu pescoço aquece, e uma onda de calor sobe, tingindo minhas bochechas de um rosa que combina, sem querer, com o vestido. Merda. Ignora, Briana. Só ignora. Foca na apresentação. Tento me concentrar nas palavras do diretor, mas elas entram por um ouvido e saem pelo outro. São só ruído. O único som real é a batida dos dedos de Arthur na mesa e o tamborilar acelerado do meu próprio coração. Eu mexo no meu copo d'água, tomo um gole, quase engasgo. Meus dedos brincam nervosamente com a caneta, fazendo-a rolar sobre a mesa. Por que ele está me encarando assim? A pergunta roda na minha cabeça, sem resposta. Ele é Arthur Moreau. Um deus do Olimpo corporativo. Deve ter uma lista de espera de mulheres lindíssimas, socialites, herdeiras, modelos internacionais. E eu... bem, eu sou a Briana. A garota do apartamento com vista para o prédio dos outros, que finge ser uma sedutora anônima na internet para pagar as contas. Sou um peixe fora d'água aqui. Uma fraude. E ele sabe. Sente o meu desconforto. E parece... gostar disso. Arrisco um olhar rápido para ele. Erro colossal. Nossos olhos se encontram. Os dele, de um cinza gelado que deveria ser assustador, mas que, naquele momento, parecem carregados com um calor intenso, quase opressivo. Ele não desvia. Segura meu olhar como se estivesse segurando meu queixo, forçando-me a encará-lo. Meu estômago dá um giro. É como estar nua no meio da sala. Pior, porque é a Briana que está nua, não a Mascarada. A Mascarada sabe se proteger. A Briana, não. O diretor de marketing para de falar. Há um silêncio constrangedor. Percebo, tarde demais, que ele fez uma pergunta para mim. — E você, Briana? O que acha da estratégia de divulgação nas redes? Todos os olhos na mesa se voltam para mim. Eu congelo. A boca fica seca. A pergunta era simples, eu sei que era simples, mas minha mente está um vazio absoluto, ocupada apenas pelo olhar de Arthur. Eu me perco completamente, engasgando com as palavras. — Ahn... eu... acho que... sim... — eu gaguejo, sentindo o rosto pegar fogo. — É uma... boa estratégia. A resposta é patética. Vaga. Idiota. Vejo o diretor de marketing franzir a testa, confuso. Alguns dos outros trocam olhas. Eu sou a estrela da campanha, e acabei de provar que tenho a eloquência de uma ostra. E é então que Arthur fala. — Eu concordo com a senhorita Briana. Sua voz é calma, profunda, e preenche a sala sem precisar levantar o tom. Todos se viram para ele, inclusive eu, aliviada e ao mesmo tempo mais nervosa por ter atraído ainda mais a sua atenção. — Simplicidade muitas vezes é a chave. — ele continua, seus olhos ainda grudados em mim. Um sorriso pequeno, quase imperceptível, toca seus lábios. Não é um sorriso amigável. É um sorriso de satisfação. De posse. Ele está feliz por me ver tropeçar. Feliz por ver o efeito que ele causa em mim. — Obrigada. — eu sussurro, baixando os olhos para a mesa, derrotada. Meu coração está batendo tão forte que tenho certeza que a mesa está tremendo. O resto da reunião é um borrão. Eu não ouço mais nada. Sinto o olhar dele em mim, constante, pesado, como um manto quente e perigoso. Cada gesto meu, cada movimento, é observado. Quando passo a mão no cabelo, sinto seus olhos acompanhando a trajetória dos meus dedos. Quando mordo inconscientemente meu lábio, pensando em como sair dali, vejo, pelo canto do olho, seus dedos pararem de bater na mesa. Ele notou. Tudo. A reunião finalmente termina. Todos se levantam, cadeiras arrastam, vozes baixas conversam. Eu me levanto tão rápido que quase derrubo a minha cadeira. Preciso sair dali. Preciso de ar. — Briana. A voz dele me paralisa na porta. É suave, mas é uma ordem. Eu me viro lentamente. Ele ainda está sentado, relaxado na cadeira, como um gato que acabou de brincar com seu rato e não tem pressa para a refeição. — Sim, senhor Moreau? — Seu desempenho hoje foi... interessante. — ele diz, o sorriso ainda nos lábios. — É bom ver que a paixão pelo projeto pode ser tão... visceral. A palavra "visceral" cai entre nós como uma pedra. Ele não está falando da campanha. Ele está falando do meu nervosismo. Da minha reação a ele. — Obrigada. — eu digo de novo, a única palavra que meu cérebro consegue formar. Ele apenas acena com a cabeça, dispensando-me, mas seu olhar diz: "Isso não acabou. Isso só está começando." Saio da sala, minhas pernas tremendo. No corredor, encosto-me na parede fria, tentando recuperar o fôlego. O coração ainda está aos tropeções. Meu corpo todo está vibrando, uma mistura de raiva, vergonha e... algo mais. Algo quente e proibido que eu me recuso a nomear. Ele só quer se divertir, eu penso, fechando os olhos com força. Um cara como ele, um CEO poderoso, deve adorar isso. Adora se sentir desejado, adora ver o efeito que causa. Eu sou o seu novo passatempo, a modelo plebeia que ele pode deixar nervosa com um olhar. Ele vai brincar comigo, me deixar confusa, me fazer sentir coisas que não devo, e quando se cansar... vai me descartar. É assim que funciona. A imagem dele, sorrindo satisfeito enquanto eu me enrolava toda, queima na minha mente. A raiva volta, um pouco. Ninguém gosta de ser um brinquedo. Mas então, contra minha vontade, lembro do olhar dele. Não era o olhar de um homem que só quer se divertir. Era mais profundo. Mais... faminto. Era o olhar de um homem que vê algo que ele quer, realmente quer, e que está disposto a esperar, a observar, a manipular, até conseguir. E o pior de tudo é que, por um instante, no meio de todo aquele pânico e vergonha, uma pequena, minúscula parte de mim, a parte que é a Mascarada, sentiu-se viva. Viva por ser vista de uma maneira tão intensa, tão absoluta. Eu me empurro da parede e começo a andar pelo corredor, minhas sandálias fazendo um som ecoante no piso frio. Arthur Moreau é perigoso. Ele não é só um assediador de escritório. Ele é um homem que olha para você e parece ver todas as suas camadas, todas as suas mentiras. Ele viu a Briana nervosa hoje. E eu tenho a terrível, aterrorizante sensação de que, se eu deixar, ele será capaz de ver muito, muito mais. ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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