Capitulo II- Josué Mazzaropi

3323 Palavras
Josué Mazzaropi Cheguei a esta cidade depois de ficar anos fora, soube por terceiros que a minha mãe faleceu, a empregada me relatou que ela passou tanta raiva com meu pai que não aguentou do coração e por fim veio a óbito, me alertou que foi um pedido dela não me chamar para seu velório, mas ninguém tinha este direito de me proibir de vim vê—la pela última vez, pelo menos, sinto falta de sua risadas, seus conselhos, a sua mão quentinha que tocava meu rosto antes de me cobrir com o cobertor. — E mulher ele trouxe alguma para casa depois de sua morte Luzia? — Pergunto a empregada mais velha da nossa casa que se senta na ponta da cadeira com medo dele aparecer. — Não, depois que ele assumiu a empresa ele nunca mais trouxe mulher nenhuma para casa.— Ela para de falar, e eu fico sem entender. — Certamente tem alguma por lá, a última empregada que ele atacou aqui, mordeu no rosto dele e isso foi o suficiente para ele acabar com a carreira profissional dela. Olho para Luzia fixamente, ela é a empregada mais antiga da casa, protegida por minha mãe por isso ele nunca a tocou, além de não ter beleza, é n***a de pele bastante escura, uma verruga no queixo, os olhos amarelados, agora caídos, a pele enrugada, ela tem os segredos mais confidenciais da minha mãe que a tratava como amiga intima, já que suas amigas sempre acabavam indo para na cama com o porco do meu pai enquanto ela trabalhava na Mazzaropi joias que no início ele queria proibi-la de continuar trabalhando. Depois de ficar a par de tudo que aconteceu, vou para meu quarto carregando minha única mala, tiro o meu diploma da pasta e penduro na parede do quarto. Ainda me vem à cabeça o dia em que minha mãe, optou me colocar num colégio interno, era uma noite chuvosa de setembro, de dia fez sol nos brincamos de rolar na grama a frente de casa, que agora tudo é cimento e piso, mas a noite choveu que ainda me lembro dos respingo de chuva no vidro da janela, eu jogava vídeo game no quarto, quando comecei escutar gritos e barulhos pela casa, meus pais sempre discutiam isso era comum dentro da nossa casa. Mas naquele dia eu vi a minha mãe receber um murro em cheio no olho direito do meu pai e eu com meus 8 anos corri para protegê-la ao ver que ela caiu no chão e ele levantou a perna para lhe chutar, enquanto desferia xingamentos contra ela. Lhe abracei caída no chão, e ela chorava me pedindo para sair, eu não a deixei e sentir os golpes nas costas e nas costelas, mas ela me protegeu com seu corpo, quando me dei conta ela já estava desmaiada no chão, ele nos deixou ali largados, ao lado dela havia uma poça enorme de sangue, e eu temi que ela estivesse morta. Luzia apareceu na parte de cima da casa, e em alguns segundos depois a vi com o jardineiro, eu me senti um inútil, o médico veio depois já quase uma hora depois, vi as outras empregadas entrar no quarto com jarra de água e bacia, eles corriam desesperados. Dormi encostado na parede ao lado da porta de seu quarto, na manhã seguinte pude entrar para ver a minha mãe que estava com o rosto todo machucado, o corpo cheio de hematomas, os lábios feridos. A abracei deitada na cama chorando desesperado. — Mamãe...— Falei em sussurros chorando, ouvi a porta ser aberta junto ao um rangido em seguida o monstro revelou-se através dela, continuei abraçado com a minha mãe morrendo de medo dele fazer a mesma coisa de novo, ela não iria aguentar. Com as mãos acima dos quadris, blusa branca amassada, calça cinza, ele lhe olha de cima com um ar de superioridade. — Outro bebê Esmeralda, você perdeu outro bebê?— Ele grita com ela, e eu estremeci, ela não respondeu nem a mim tampouco a ele, vi girar nos calcanhares saindo do quarto. Minha mãe havia abortado comigo ali na porta do quarto e eu não fazia ideia do que havia acontecido até os meus 12 anos. Na mesma manhã, meu pai me arrastou pela casa, para me dar uma surra e eu a vi levantar da cama, e implorar por mim. Para que ela não descesse as escadas, Luzia disse que alguém estava ao telefone, quando ele saiu eu pude ficar com a minha mãe, mas o que mais surpreendeu foi, ela sair às escondidas me arrastando pelas portas do fundo, entramos no carro, eu achei que iria viver uma aventura muito boa naquele dia, pelo menos longe dele era tudo melhor. Vi a minha mala no carro, havia um sutiã amarelo e um sapato vermelho de salto dentro também, não era o número da minha mãe, ela calçava pequeno e o sapato era 38. Viajamos por horas finalmente chegamos a uma casa enorme, sorri bobo, iríamos começar uma nova vida? Vi uma mulher idosa e um idoso sair após ela bater várias vezes no portão. O homem andava curvado para baixo, enquanto a mulher era baixinha, eles a olharam de cima a baixo sem querer abrir o portão. — Pai, mãe abram por favor. — Pediu quase sem fala, e pelo estado que eles continuaram de pé percebi que minha mãe não era bem-vinda. — Abre não é por mim é por ele. — A idosa veio rápido, abriu o portão nós passamos para dentro como se tivéssemos foragidos da polícia. Ainda chovia lá fora, dava para ouvir a água caindo de dentro da enorme casa de chão de madeira. Nós entramos em outra sala, uma mulher de avental marrom na frente fechava a porta. Os três se sentaram na mesa e eu permaneci de pé olhando para tudo, havia fotos da minha mais nova, e de outra moça também, desta havia ela mais velha em vários lugares. Minha mãe começou a contar o que aconteceu na noite anterior, eu finalmente soube o motivo da briga, ele queria assumir a Mazzaropi mais uma vez. .Sempre era a Mazzaropi, a casa parecia ser um mundo de magia, várias cores por todos os lugares, um jardim dentro de casa. — Não podemos te aceitar de volta. — Ouvir o idoso falar, e minha mãe assentiu para ele mostrando que ela sabia disso. — Não quero que me aceite ou fiquem comigo ou com o menino. — A idosa me olhou senti um certo carinho em seus olhos, a minha mãe chorava. — Então o que veio fazer aqui? — Ele perguntou alterado. — Pedi que o leve para esta escola. — Ela tirou um papel do bolso da saia. — Já está feito, matricula, os documentos, é um internato com sigilo máximo.— A expressão da minha avó não foi nada agradável quando a escutou. — Esmeralda você não quer ...— Ela assentiu e eu fiquei sem saber o que minha avó ia dizer a ela, eu caminhava pela casa num terninho cinza sem saber o que estava acontecendo. Vi minha mãe entregar a minha mala a meu avô, meu coração acelerou naquele gesto. Tirou um envelope grande e grosso da mala entregou a ele chorando, vendo seu desespero eu também chorei. Minha mãe era a melhor, nós colhíamos borboleta juntos, comíamos frutos estranhos no meio do jardim, fazíamos biscoitos aos domingos ela tinha ciúmes de mim com as garotas, me perguntava se algum dia eu ia namorar, e eu negava, na minha idade ninguém queria namorar. — Mas é claro que você vai! — Me contestava. Ela sorria e me beijava no rosto, doce, ela era a doce Esmeralda, me puxou para perto dela e eu na altura de sua barriga a abracei. — Josué presta atenção! — A ouvi falar e eu olhei em seus olhos iguais aos meus. — Sim mamãe! Sempre fui um filho obediente, minha mãe era maravilhosa, fazia lindos desenhos, ser artista era sua paixão, tarde da noite a luz do escritório estava acesa, eu sabia que era ela que estava lá dentro trabalhando. Quanto a meu pai se não estivesse lá fora, estava dormindo bêbado em algum canto. — Você sabe o que seu pai quer fazer com você não sabe? — Fiquei parado sem saber, mas assenti. — Ouvindo o grito da minha avó da cozinha. — Esmeralda não fale isso para a criança. — Pois bem meu princeso, vou te tirar daquele inferno, você vai para uma boa escola, estudar e se formar para cuidar do império da mamãe quando crescer. — Mas e você mamãe? — Ela não respondeu, seus olhos chorava sem parar, ela limpava as lágrimas com os rosto cheio de hematomas, eu sabia que estava dolorido o lugar, o idoso nós assistia da janela chorando, meu avô estava chorando como a chuva lá fora.— Eu não posso ir meu querido, tenho que cuidar do que é nosso agora, para que você possa usufruir depois. Não esquece que eu te amo, te amo mais que minha vida! — A vi sair correndo, abrir o portão, entrar no carro, a vi debruçar sobre o volante com os cabelos molhados, minha avó me abraçou e eu tentei me soltar de seus braços, minha mãe me olhou e depois deu partida no carro. Restou apenas chuva naquele dia cinzento, raios, trovões que encontrava o chão lá fora, meu avô ao contrário do que parecia ser mais cedo, tentou me alegrar de todo o jeito, comprou algodão doce, quando viu que meu corpo estava cheio de marcas cuidou deles. Depois daquele dia não soube mais da minha mãe, nem do meu pai, meus avôs me levaram para um avião enorme dizendo que me levaria a outro mundo. E eu fui para esse outro mundo. Era uma escola enorme e fantástica, um ano passou rapidamente, estava sendo muito bem cuidado pelas freiras do lugar, as professoras eram freiras, haviam garotos como eu naquele lugar e não foi difícil fazer amizades, com o passar de meses acabei me esquecendo de casa e da minha família, meus avós sempre me visitavam traziam brinquedos mas não era permitido na escola, então meu avô acabava me trazendo doces e cartas da minha mãe, que narrava uma história feliz em todas elas, sempre dizia estar bem mas nunca me mandou uma foto. E ao completar meus 12 anos, recebi sua visita inesperada, era natal permitirá a minha saída da escola por uma tarde, seu corpo estava mais magro do que eu me recordava, sua pele clara cheia de marcas disfarçada com maquiagem. Seus olhos não tinham mais aquele brilho de antes, e seu rosto parecia haver um bom tempo ser um sorriso, fiquei abraçado a ela por tanto tempo que ainda me lembro o cheiro de sua colônia de jasmim, conversamos, brincamos sentados na grama e somente no final da tarde quando a vi indo embora percebi que ela mancava de uma perna, tentei ir até ela, mas fecharam a porta da sala da diretoria, mãos me seguravam impedindo de gritar, chamar, ou correr atrás dela. Lá eu aprendi tantas coisas e a primeira delas foi que apenas meninos levados estava lá, porque seus pais não os queriam em casa. Tive educação rígida, mas não era eu que não prestava, era o meu pai, eu sempre soube disso sem ninguém me contar sobre isso. Aquela foi a única visita da minha mãe, as demais eram cartas onde ela descrevia que queria tocar em meus cabelos eu sonhava e imaginava a cena, o toque dela fazendo aquele gesto que eu sentia tanta falta, recebi suas cartas até os dezesseis anos de idade. Acredito que para meu pai não saber o meu destino, ela parou de escrever-me, minha avó chegou a me dizer algumas vezes que meu pai não poderia sonhar que eu estava ali em outro país, finalmente terminei o ensino médio, fui encaminhando para a área dos universitários, tinha opção de até três formação ali optei por três delas. Sabia que um dia ia ser útil para alguma coisa. E depois de três meses sem receber visitas de meus avôs, e nenhuma carta da minha mãe, fiquei desesperado, imaginei que o pior tinha acontecido algo dentro de mim gritava isso. Sem haver como sair daquele lugar eu nem sabia ao certo onde estava, alguns diziam que era Irlanda, Inglaterra, finalmente fui chamado para uma visita, fui correndo largando livros abertos na biblioteca, caderno de anotações para trás e todo o resto. Quando cheguei a sala de visitas havia uma mulher de pé com uma saia de renda branca, com bastante anáguas por debaixo, uma blusa azul, um chapéu que me impedia de ver todos os fios pretos de seu cabelo. A abracei pelas costas, tinha certeza de que era a minha mãe, mas o cheiro era diferente, ela virou-se para mim, me afastando de seu corpo eu não a conhecia. Parecia com a minha mãe, mas muitos anos mais jovem, o rosto limpo, os cabelos preso ao chapéu. Me olhou de cima a baixo. — Josué Mazzaropi? — Eu também falei ao mesmo tempo.— Quem é você?— Ela sorriu de canto, me avaliando. — Condessa Pérola Gonçalves irmã da sua mãe. — Ela tinha um sotaque português, era muito bonita, cheirava a chocolate. — Onde está os meus avôs? — Perguntei ignorando o seu sorriso. — Já são 13 anos indo e vindo te ver meu querido, agora eles estão cansados, não aguentam mais viajar por causa da idade. — Falou me rodeando, eu a observei, suas falas não eram verdadeiras. Havia meias verdades nelas. — O que aconteceu com eles? Pode me falar a verdade. — Pedi com coragem, mas muito temor por dentro. E ela me olhou, acho que a surpreendi, não havia muitas diferenças dela para minha mãe apesar do seu sotaque português de Portugal e não um derivado. — Papai morreu há dois meses de infarto enquanto discutia com o seu pai, depois dele espancar a minha irmã na sala de reuniões a frente de todos os funcionários, ela está cega de um olho. E mamãe morreu uma semana depois, deitou-se—se e não acordou mais. Quando os empregados a chamaram, não houve respostas. — Meu chão se abriu, eu tinha que matar o meu pai, isso era preciso para ele pagar por tudo que fez com a minha mãe e meus avós. — Ela me deixou esta carta. — Tirou a carta de sua bolsa pequena, colocou nas minhas mãos, eu me sentei e li com lágrimas nos olhos. Nela diziam assim. " Meu querido Neto, a vida nem sempre é como planejamos, agora estou me despedindo de você, espero que perdoe a mim e a seu avô por ter permitido esta união do seu pai com a sua mãe, fomos obrigados, ele queria a sua tia ainda em idade adolescente, mas sua mãe optou por casar-se com ele, para salva- lá. — Parei de ler, olhando a mulher a minha frente, a fitei e ela olhava as coisas ao redor. — Seu pai não era assim quando aceitamos a sua proposta, era um bom homem, pelo menos era o que mostrava ser, nos enganou, mas sabíamos que Esmeralda não o amava, há desconfianças de que você nem seja o filho dele, mas isso é outra história, se fores filho de Antônio Albuquerque, garanto-lhe que é um alívio enorme para você, não serás filho de um monstro, como pedido de desculpas, deixo para a ti três da nossas casas, e um pouco de dinheiro, não há muito que podemos fazer por você neste momento. Espero que recomece a sua vida como foi solicitado por sua mãe, longe do seu pai e desta empresa maldita. Saiba que te amamos muito meu querido, seja feliz porque sua mãe se sacrificou para que você fosse. Te amo, com carinho vovó! " Terminei de ler a carta olhei para a mulher que me analisava pacientemente, era muito parecida com a minha mãe mais nova, sem hematomas e cicatrizes, eu não entendia por que ela precisava se sacrificar tanto por aquela empresa, mas iria fazer valer a pena seus sacrifícios. Fui aconselhado por minha tia a concluir meus estudos. E após três anos consegui me formar com três licenças gerais, meu destino foi Portugal recebi todo a herança da minha falecida avó, muito diferente do que havia dito, não era nada pouco o dinheiro, era dois milhões, fiquei morando com a minha tia que realmente é dona de uma enorme fábrica de chocolate, passei a trabalhar ali colocando as minhas habilidades em prática, nunca tive um retorno da minha mãe em cartas ou telefone. Até que um dia cansado de tudo, ficava horas pendurado no telefone sem sucesso. Minha tia acabou me contando o que realmente aconteceu a minha mãe, ela morreu de infarto agudo do miocárdio, há três anos, na sua visita ela veio para me contar a notícia, mas não teve coragem, a minha mãe havia pedido a meus avós para nunca falar da sua morte, que nunca deixasse que eu a procurasse. Viajei naquele mesmo dia para o Brasil, e confesso que me surpreendi com o mundo que eu encontrei. Visitei o túmulo dela, que estava abandonado, sem flores, sem nada, apenas sujeira e poeira, falei com o cuidador do lugar paguei por uma lápide decente, de mármore preto com detalhes em ouro, era o mínimo que a minha mãe merecia depois de tudo. Dois dias depois quando retornei já haviam feito a lápide, coloquei os crisântemos, fiquei ali por horas olhando sua foto, o que ela havia passado naquela casa? Naquela vida? Eram coisas que nunca ia saber, mas de repente me lembrei da Luzia, a empregada da casa, contratei um detetive dei algumas informações que ainda me lembrava e para minha surpresa ela continuava no mesmo lugar. Na casa da minha mãe. Fui para lá com a minha pequena mala, as outras deixei no meu apartamento em Copacabana, ninguém precisava saber que eu havia me tornado um milionário, vi Luzia se desmanchar em lágrimas ao me ver de pé no enorme portão da casa em que minha mãe foi morta, ela havia sido morta por ele. Após ser recebido com beijos, e abraços, eu não confiava na Luzia tantos anos e nada aconteceu a ela? Era estranho, sentei-me a mesa, ela me trouxe uma bandeja recheada de biscoitos e café. Mas eu não bebia café, os hábitos ingleses me deixaram assim, ela começou a me contar tudo em detalhes, enquanto comia os biscoitos comigo. Soube como a minha mãe foi morrendo aos poucos, ele a impedia de sair, de até escrever para meus avós, Luzia fazia tudo às escondidas. E por fim tudo acabou como acabou, minha mãe morta e ele presidente da Mazzaropi joias. Quando terminei de arrumar as coisas no quarto, tomei um banho, observei a casa inteira, fui ao quarto dele o cheiro de tabaco forte impregnou em meu nariz. Terminei, vesti uma blusa branca pedi um táxi, fui para a Mazzaropi e por lá as coisas pareciam ter mudado o bastante, agora ele tinha designers, logo fui barrado por um segurança que ao falar meu nome tremeu-se. Fui encaminhando a sua sala e de lá eu percebi que as coisas com nele não tinham mudado, o vi sentado na cadeira na sala da Presidente, havia mudado muitas coisas por ali, a cor cinza e azul agora era um tom palha sem vida nas paredes, as portas de madeira. Ele estava sentando cabeça baixa lendo um papel, quando ergueu a cabeça que me viu, vi como tremeu ao me ver. — Bom dia Pai. . — Falei ao cumprimenta, sendo esperto como é, abriu um sorriso e os braços para mim, me colocando dentro deles. Eu precisava saber o que estava acontecendo com urgência.
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