Capítulo IV

288 Palavras
Os anos passaram e aqueles sentimentos ruins ficaram na memória. Memória esta, que ela tentava desesperadamente manter viva, pois, mesmo que o tempo estivesse fazendo seu trabalho em amenizar a perda, os detalhes dos bons momentos eram a única coisa que restavam. Helena tentava se distrair com as coisas mais simples possíveis, mas, não sentia-se tão viva como havia sido um dia. A rotina estava maçante, os dias eram longos e pesados, Helena olhou em suas mãos magras demais e percebeu que haviam calos doloridos, ela não gostava da dor que eles causavam, mas, aprendeu a aceitar como se fizessem parte de si. Sua mãe Catarina havia desempenhado um bom papel em manter as coisas em ordem, ainda que não de forma tão harmoniosa como havia sido um dia, mas a garota não tinha muito do que reclamar, não ouvia mais as histórias de seu pai, mas, ao cair da noite as duas se sentavam em frente ao fogão a lenha e apreciavam uma bela xícara de leite quente, mesmo que sem pronunciar uma palavra sequer, o calor da bebida e a presença da mãe pareciam suprir momentaneamente a sensação de vazio que carregava consigo durante todos os dias. De maneira forçada, ela tentava trocar algumas palavras com a mãe, mas era um esforço em vão, Catarina sempre respondia suas perguntas de maneira curta e grossa, ou dizia sempre a mesma coisa: - Deixa de bobeira menina. E assim encerravam as noites. Helena não sabia dizer se realmente desejava que as respostas da sua mãe fossem mais entusiasmadas, no fundo, ela usava seu pequeno diálogo para disfarçar a realidade de que estava perdida em si mesma, e não sentir culpa ou remorso por deixar a mãe para depois.
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