— Poderia me devolver seu copo? Acho que eu te trouxe cachaça ao invés de cappuccino — não consegui conter a vontade de debochar e para a minha surpresa ela não se chateou, ao invés disso também riu da situação.
— Até foi engraçado, admito. Mas estou falando serio.
— Humm. Então o d***o quer me contratar? Seria por conta do meu charme? — passei a língua pelo lábio superior tentando parecer provocante, mas eu passava longe disso. Nunca me achei sexy ou algo parecido, não possuía s***s grandes, pernas grossas ou uma b***a enorme.
— isso eu não sei, mas se você aceitar o contrato poderá perguntar pessoalmente.
— Então satanás vai vir até mim?
— Não. Nós vamos te levar até ele.
Aquela conversa tomou um rumo engraçado e estranho ao mesmo tempo. Mas a cafeteria estava vazia e eu já havia limpado boa parte de tudo então decidi ficar ali e ver até onde aquela mulher iria com aquele papo sobrenatural.
— E o que eu ganho com esse contrato?
— Tudo o que quiser. Casa, carro, mansões e até mesmo uma ilha só sua. Você vai ser superior a todos que conhece.
— Nossa, tentador. E o que eu perco? Minha alma?
— Isso eu não sei. Não tenho permissão para ler o contrato.
— Deixe-me adivinhar, eu ganho todas essas coisas e vivo dez anos antes de ir para o inferno?
— Dez anos? — ela riu — criança, isso não é algo retirado das series que você assiste. Terá direito a viver quantos anos quiser, com a mordomia que quiser.
— E eu vou ver Lúcifer? O terrível Lúcifer?
— Sim. Você vai morar na mesma resistência que ele.
— Sabe o que eu acho?
— O que?
— Acho que você precisa de um tratamento medico. Mas gostei do papo, bem engraçado. Eu precisava me distrair um pouco.
— Aceite o contrato e verá que não estou brincando.
— Para a sua sabedoria eu não acredito nessas coisas. Não acredito no d***o.
— Mas ele acredita em você, por isso te escolheu a dedo.
— E o que eu tenho de tão especial a ponto do d***o me escolher?
— Essa é a questão, você não tem nada. Sem amigos, sem pais, sem parentes e sem vida social.
— Assim você machuca meus sentimentos — sorri, tentando disfarçar o fato de que ela estava completamente certa. Eu não tinha nada, eu não era nada.
— Kaila — ela balançou a cabeça negativamente — está na hora de dar a volta por cima, está na hora de colocar essas pessoas em baixo dos seus pés e mostrar a elas quem manda. É isso que ele está te oferecendo, um recomeço glorioso.
— Muito bonitinho esse seu papo de recomeço mas eu vivo na vida real. Se quiser mais alguma coisa é só me chamar — me levantei da cadeira e dei as costas indo em direção ao balcão.
— O dia esta frio hoje né — disse Hilary notando minha aproximação enquanto mexia no celular.
— Sim, acho que vai chover.
— Isso é bom. Eu amo a chuva.
— Você ama tudo, Hilary.
— Mentira, eu não amo o meu salario.
— Então dê ele pra mim.
— Só se você me fizer gozar?
Aquelas palavras me deixaram vermelha como uma maçã em seu estagio final de amadurecimento.
— Que nojo, sua pervertida.
— Você não goza não é? Deixe de frescura Kaila — ela riu notando minha timidez — todo mundo goza, eu aposto que existem milhares de pessoas gozando nesse exato momento.
— Você devia virar garota de programa.
— Claro, quer ser minha cliente? Eu sei usar a lingua de uma maneira que vai te levar a loucura — Hilary mordeu os lábios me olhando de cima a baixo e em seguida caiu na risada.
— Idiota...
— Sou mesmo.
— i****a e pervertida.
— Você que é muito fresca e tímida.
—Tenho princípios, sabia?
— Claro que tem e a julgar pelo seu jeito esses seus "princípios" nunca foram penetrados de jeito.
— Eu vou te matar.
— Mate, mas não agora. Estou no meio de uma conversa bem quente aqui — ela voltou sua atenção para o celular.
— A julgar pelo seu jeito essa conversa deve ser com o dono da cafeteria.
— Agora eu é que vou matar você. Está insinuando que eu sou interesseira?
— Eu não disse nada.
Dei as costas para o balcão e a mulher misteriosa havia deixado o estabelecimento. Sobre a mesa onde ela estava encontrava-se um pergaminho enrolado, o dinheiro do capuccinho e uma gorjeta bem gorda.
Peguei o pergaminho e havia uma fita vermelha amarrada nele. Seria aquele o tal contrato? Perto ao copo encontrei um bilhete deixado pela mulher:
"O contrato deve ser assinado com sangue."
Agora não me restava mais duvidas, aquele pergaminho realmente era o contrato bizarro do qual ela havia falado minutos antes. Uma grande idiotice ao meu ver.
Atualmente
Olhei para ambos os lados da calçada, depois para cima e em seguida voltei os olhos para o contrato no chão. Nada aconteceu aparentemente, minhas roupas ainda estão jogadas perto a mim e o frio começava a me maltratar. A noite ficava mais nebulosa a cada minuto e a movimentação nas ruas logo daria lugar ao deserto da madrugada. Eu não tinha para onde ir então fiquei ali sentada e encolhida enquanto fitava as luzes das casas se apagando aos poucos. Todos estavam indo dormir em suas camas confortáveis, ao lado de suas famílias amáveis. E eu, bom, eu estava a beira da loucura. Sem abrigo e agora sem sanidade, eu não acredito que realmente cortei o dedo para escreve meu nome em um papel i****a que me foi entregue por uma pessoa mais i****a ainda. Duas luzes fortes surgiram na rua a direita. Certamente os faróis de um último veículo que transitava por ali. Mas não era um veículo qualquer, era uma Limousine luxuosa que aparentava custar mais que todo aquele bairro brega. O veículo parou bem próximo a mim e aquilo me assustou. Me levantei rápido do chão e dei alguns passos para trás enquanto olhava em todas as direções para ver se mais alguém estava presenciando aquilo. O vidro da janela onde ficava o motorista se abaixou um pouco mas o interior da limousine estava escuro e eu não consegui enxergar nada.
— Senhorita Kaila Wight?
Era a voz de um homem.