ADAM
Hoje na escola uma menina chamada Chloe veio falar comigo, me parou no meio do refeitório e perguntou ''O que você tem que a outra metade do mundo não tem?'' e foi embora, eu não me lembro de ter falado com ela nenhuma vez na minha vida, até porque eu só falo com as meninas que eu quero pegar ou com as que eu peguei e ela não está em nenhuma dessas definições, se eu não me engano, ela é lésbica.
Taylor me chamou para andar de skate depois da aula mas se esqueceu que ele quebrou o meu e quase foi agredido por isso. Nesse exato momento estamos em uma loja para comprar um novo. Ele não entende muito de skates então pra ele, uma tábua com quatro rodinhas já é uma ótima coisa, só que pra mim não, eu escolhi o melhor skate da loja, ou seja, o mais caro, e ele quase teve um filho por isso.
_Nossa Adam, tem mesmo que ser esse ai? -perguntou ele- eu não recebo mesada o suficiente pra te dar esse skate ai não mano, escolhe outro, aquele primeiro está ótimo!
_Não cara, você estragou o meu seu vacilão, agora eu vou te dar despesa pra ver se você toma vergonha nessa sua cara -falei pegando o skate enquanto ignorava a cara feia que ele estava fazendo para mim.
_Fazer o que né? -ele respiro fundo- Nem sei porque sou seu amigo -brincou.
_Vai pagar o cara logo meu escravo -dei uma gargalhada e levei o skate para o cara com uns alargadores mais grossos que o meu p*u colocar a lixa nele pra mim.
Taylor estava chorando para o cara abaixar o preço, preferi sair da loja do que ter que ouvir os argumentos dele, fui direto colocando o skate no chão pra testá-lo e confesso que eu menti, o meu outro skate era mil vezes pior que esse aqui! Isso aqui é uma maravilha! Comecei a andar em círculos com o meu novo bebê até o Taylor passar da porta da loja, então saí rumo a pista, só que o filho de uma vaca me gritou.
_Cara não posso mais ir não! -parei na mesma hora, pisei na ponta do skate fazendo ele saltar e peguei o mesmo com a mão.
_Por que, merda? Vai comer quem? -gritei com raiva.
Ele sempre faz isso, me chama pra sair e da pra trás porque achou algo melhor para fazer.
_Os pais da Ingrid não estão mais em casa, eles foram para praia e ela não quis ir, está na hora do papai aqui entrar em cena -gritou ele- se pá eu te ligo mais tarde ai nós dois saímos pra beber, beleza?
_Tanto faz! Vou andar mais um pouco com essa belezinha aqui -gritei sacudindo o skate- e a propósito, valeu mesmo por ter me dado um novo -falei e ele concordou batendo no peito antes de sair correndo para a casa de Ingrid.
Coloquei o mais novo amor da minha vida no chão e fui direto pra pista de skate, quase matei o gato de uma velhinha no caminho mas foi porque ela deixou ele na rua. Quando cheguei na pista, juntei com uns brothers meus, ficamos andando de skate a tarde inteira, nem percebi que o dia tinha passado, ainda bem que amanha é sábado e não preciso ir pra aula, ou seja? Vou ligar pra Paty, uma mina que eu estou ficando, e quem sabe rola algo a mais entre nós dois hoje. Peguei o meu telefone no bolso de trás da bermuda e disquei o numero dela, que atendeu na mesma hora.
_Oiiiiiii -disse ela do outro lado da linha.
_Oi princesa, esta tudo bem com você? -cocei a nuca como se ela estivesse vendo.
_Estou melhor agora porque eu estou falando com um gatinho aqui -brincou ela- posso saber a que devo a honra de você está me ligando?
_Esta sozinha em casa linda? -fui direto ao assunto.
_Não, meus pais estão aqui na sala. Por quê? Quer vim conhecer eles?
_To fora, isso não é pra mim não -falei.
_Nossa, você só pensa com a cabeça de baixo não é cara? -perguntou ela, sussurrando para que seus pais não escutassem.
_Quando eu estou falando com uma menina? Sim, só com a cabeça de baixo -falei, e a ultima coisa que eu ouvi ela falar antes de desligar na minha cara foi ''o****o'' .
Bom, aqui estou eu, em plena sexta-feira anoite sem nada pra fazer, os parças já foram embora porque ao contrário de mim eles namoram, não tenho nada pra fazer, só consigo pensar em como o fodido do Taylor se deu bem essa noite.
Quer saber? Vou pra casa.
Coloquei o skate no chão e dei impulso com o pé direito, comecei a desviar de umas pessoas que ainda estavam nas ruas, graças a deus o gato daquela velha não estava mais no mesmo lugar. Quando eu estava passando perto da biblioteca, uma pedra brotou do chão e me jogou longe quando freou o meu skate de uma só vez. Sai tropeçando até trombar em um cara que caiu no chão junto comigo espalhando os livros dele no chão, e o mínimo que eu pude fazer naquele momento ridículo era ajudar o cara a pegar eles.
_Foi m*l cara, uma pedra é a pior inimiga de um skatista -falei pegando os livros.
_Bom, eu não sei porque eu não ando de skate... -sussurrou ele.
Pera ai, eu conheço essa voz, ela é baixa demais. Levantei o olhar para o cara na minha frente e vi que era o Gary, só ele falava tão baixo, ele parece inseguro quando está do meu lado, parece... indefeso demais.
_Gary meu caro, temos que parar de nos trombar assim, qualquer hora um de nós sai com um osso quebrado ou um olho roxo -brinquei.
Um sorriso brincou nos lábios dele, até que ele ficou me olhando daquele jeito estranho.
_Esta tudo bem mano? -perguntei tirando ele de um tipo transe.
_Sim, sim -disse ele balançando a cabeça freneticamente- você está bem? Se machucou?
_Calma -dei uma risada- eu estou bem sim. Eu que tenho que perguntar se você está legal porque sei lá, você caiu por minha causa, e é isso que as pessoas fazem não é? -dei uma risada fraca.
_Aham -ele balançou a cabeça mais uma vez.
Eu sabia que ele não tinha nada pra falar, ele estava parecendo mais nervoso que antes, eu não vou deixar o assunto acabar aqui, é a segunda vez que eu trombo com esse cara.
_Gosta de ler né? -que p***a de pergunta foi essa que eu fiz? O cara está saindo de uma biblioteca Adam, seu retardado!
_Sim, e você? -respondeu baixo.
_Não, nunca tentei ler um livro, o máximo que eu li foi um conto erótico na internet quando eu tinha uns treze anos de idade, depois disso eu não li mais nada que tenha mais de cem linhas, por isso minhas notas são aquelas maravilhas.
Ele deu uma risadinha e então pegou os livros da minha mão.
_Eu gosto de ler, tipo, muito.
_Gosta de ler que tipo de livros? -puxei o assunto novamente quando ele estava ficando sem graça.
_Romance -disse ele- na verdade, eu leio todos os tipos de livro, mas romance é o meu preferido.
_Que gay cara -dei uma risada mas parei quando eu vi que ele não estava rindo.
Porra Adam, seja menos i****a pelo menos uma vez na vida!
_Foi m*l se eu falei alguma merda, é que eu não meço as palavras quando vou falar.
_Está tudo bem -disse ele e então se levantou- vou embora.
_Já? É cedo cara -peguei meu celular no bolso da bermuda e chequei as horas e isso não é hora de um cara da nossa idade ir embora pra casa- fica mais, se quiser posso te ensinar a andar de skate -falei na tentativa de convencê-lo.
Ele ficou paradão quando eu terminei de falar, e eu achei que o cara ia ter um troço.
_Se não quiser não precisa -falei me levantando- eu entendo -dei uma risadinha.
_Eu quero, claro que eu quero -disse ele e então se virou- só que eu não tenho um... um... um skate.
_Isso não é problema, eu ganhei um hoje -falei e então me levantei, ele pareceu ainda mais nervoso com a situação, tipo, ele queria ficar, estava escrito isso na testa dele, mas ao mesmo tempo parecia que ele também queria sair correndo dali o mais rápido possível.
Gary não disse nada, só fez que sim com a cabeça e começou a caminhar comigo, ele a pé e eu de skate, bem devagar pra acompanhar os passos dele, não demorou muito para chegarmos na pista de skate novamente, e pra nossa sorte, ela estava vazia, se ele caísse não teria ninguém além de mim pra rir da cena.
_Coloca esses livros ali em cima -falei apontando para um banco, e ele obedeceu na mesma hora.
_E agora? -perguntou ele.
_Bom, agora tenta subir no skate ai -chutei o skate pra ele e ele parou o skate com o pé no susto.
_Tem certeza disso? -perguntou ele.
_Sim, anda logo e para de enrolar, o chão é o limite mano -falei arrancando uma risadinha sem graça dele.
Gary ajeitou o skate e se preparou todo, eu fiquei olhando ele se segurar em um poste de luz pra subir na prancha e quando ele estava em pé na mesma ele tirou as mãos do poste dando um empurrão com o pé da frente e o skate foi parar longe, o b***a caiu de b***a no chão e minha reação não foi uma das melhores.
_Eita -comecei a rir dele e ele ficou todo vermelho de vergonha, se levantou e limpou a poeira da sua calça com alguns tapinhas- o que você tentou fazer?
_Uma manobra -respondeu- mas nada bem sucedida.
_Cara, você nem aprendeu a ficar em pé no skate ainda, tem que ir com calma Gary, uma coisa de cada vez.
_Não sei se vou conseguir -ele olhou para baixo.
_Claro que vai, você não quer aprender?
_Sim -seu olhar se levantou.
_Então tenta mais! E nunca desista, porque não tem nada que você queira que você não possa ter -filosofei.
_Tem sim -disse ele, bem mais rápido e confiante que antes.
_Tipo? -perguntei enquanto andava até o skate pra pegar o mesmo.
_Nada não -disse ele- só que sempre tem exceções para as coisas, Adam.
_Bom, eu não sei -dei um sorriso- tentei ser f**a mas você me complicou, então apenas lembre, uma coisa de cada vez -joguei o skate pra ele- segura no meu ombro e sobe no skate.
Gary arregalou os olhos pra mim e voltou a ficar sem graça. O por que eu não sei.
_Calma cara, eu não vou te estranhar não -falei e ele sorriu- espero que não me estranhe também.
_Pode deixar que eu não vou -disse ele, e então ele caminhou até onde eu estava, no primeiro momento ele ficou com vergonha de de encostar em mim, então tive que fazer isso por ele, peguei as suas mãos e coloquei cada uma delas em meus ombros, ele deu um pequeno apertão ali e continuou envergonhado.
_Agora sim -dei um passo pra trás com muita calma e ele ficou em pé em cima do skate sozinho e sem encostar em nada- agora mantenha a calma, vou terminar de te ajudar com isso, ok? -Gary fez que sim com a cabeça concordando- espera ai então.
Dei meia volta e fui para trás dele, coloquei as mãos em sua cintura e ele se ergueu de uma só vez, o corpo dele endureceu e eu quase tirei a mão dali por pensar que estava o machucando.
_Agora tente manter o equilíbrio -falei e então o empurrei bem devagar, andando ao lado dele, ele sorriu quando tirei a mão e ele continuou de pé no skate.
_Ai meu deus! Eu aprendi? -ele pareceu feliz com a ideia de estar em cima de um skate sem cair de b***a no chão.
_Isso ai Gary, você aprendeu -dei um sorriso de canto- não tem nada que você não aprenda mano?
Gary ficou todo animadão. Depois que eu o ensinei a andar de skate ele não deixou eu subir nele de novo, toda vez que você olhava pro Gary, ele estava com o skate, e quando ele aprendeu a pegar impulso ficou impossível de pegar o mesmo da mão dele, o cara aprendeu bem mais rápido que eu.
Quando ele se cansou, nós dois nos sentamos no banco onde estavam os livros dele.
_Gostou de andar de skate? -perguntei e ele fez que sim com a cabeça.
Porra! Ele está evitando falar comigo por quê?
_Já está tarde, é melhor eu ir pra casa, nunca fiquei até tarde assim na rua -disse ele.
Peguei o celular e vi que eram onze e quarenta e cinco da noite, ainda sim estava cedo pra mim.
_Sabe o que eu quero? Tomar sorvete -falei- pega os seus livros que você vai comigo, e depois disso eu deixo você ir embora.
_Mas... mas -ele estava tentando pensar em alguma coisa para me dizer, que por acaso, não saiu de sua boca- ah, ok então - respondeu e sorriu quando se levantou.
Caminhamos até uma sorveteria que eu nem sei o que está fazendo aberta a essa hora, eu fui com o skate no braço porque não estava afim de andar, Gary pediu pra ir mais uma vez mais eu não deixei, ele ficou mais alegre depois que aprendeu a andar de skate, mas ainda sim não para de ficar nervoso, e eu não quero ficar dividindo essa belezura aqui.
Entramos e escolhemos nossos sorvetes, Gary pegou um de morango com cobertura de chocolate, e eu peguei um de chocolate, com granulado por cima, umas balinhas, um canudo de biscoito e muita, mas muita cobertura de chocolate.
_Você vai comer isso tudo? -disse Gary surpreso enquanto tirava a carteira do bolso.
_Vou -falei olhando ele pegar a carteira- o que acha que tá fazendo? Quem vai pagar essa p***a sou eu.
_Eu quero pagar -insistiu ele.
_Cala a boca e me chupa -dei uma risada apertando o meio das minhas pernas e ele continuou sem rir, depois de muito custo acabei ganhando a batalha e paguei os nossos sorvetes, ele insistiu que fossemos comendo no caminho e como o cara não estava acostumado a ficar até tarde da noite na rua, eu aceitei.
_E é por isso que eu gosto de romances -explicou ele.
_Eca mano -dei uma risada- não discuto, cada um gosta do que quiser, o resto que se f**a.
_Assim que se fala -disse ele, e então com muito esforço ele passou os livros da mão livre para a mão que segurava o sorvete e pegou o celular no bolso, por relance eu vi que é a mãe dele que estava ligando, ele atendeu- ah sim... eu já estou chegando... ok... eu sei onde a chave está... ok mãe... já entendi! -e então ela desligou.
_O que foi?
_Ela disse que está tarde pra mim ir embora sozinho -disse ele- ela acha que eu tenho cinco anos.
_Eu te levo -falei.
_Você o que?!? -ele pareceu com medo do que poderia acontecer.
_Eu te levo Gary. -falei dando de ombros- Posso?
_Olha, você já fez demais, já pagou o sorvete pra mim e me ajudou a andar de skate, se quiser me bater, me bata de uma vez, ou se os seus amigos estão em algum lugar aqui esperando pra me bater, chama eles e faz isso logo, mas para de ser gentil comigo -disse ele.
_Como assim cara -dei uma gargalhada- não tem ninguém querendo zoar com a tua cara aqui não, muito menos te bater, eu só ofereci companhia porque eu sei que está tarde, e você é muito inseguro, se alguém for te assaltar, o máximo que você vai fazer é correr, e olhe lá!
_E você? Faria o quê? -perguntou ele.
_Ué, bater no cara enquanto você corre -então ele deu um sorriso.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
_Vamos então -disse ele, um pouco mais calmo antes de voltarmos a caminhar.
Gary ficou calado o tempo todo, algumas vezes eu percebi que eles estava me olhando mas preferi ignorar o fato de que eu estava achando isso muito, mas muito estranho -pra não dizer gay. Quando viramos uma rua, um carro passou em cima de uma possa de água e molhou ele. Não me aguentei e comecei a rir, o que o deixou mais sem graça ainda.
_Nossa, eu estuo todo sujo -disse ele olhando para as suas roupas- vou me ferrar quando chegar em casa, minha mãe vai me matar!
_Não vai não, relaxa -falei, e então tirei a minha camisa- tira a camisa ai Gary.
_P-p-pra quê? -ele começou a gaguejar enquanto mantinha os olhos fixos na minha barriga.
_Porque além de você poder pegar uma gripe com essa camiseta molhada, sua mãe vai te matar se chegar com ela suja, usa a minha depois você me devolve ela cara.
_Eu não vou tirar a camisa na sua frente -disse ele, como se isso fosse algo estranho.
_Para com isso mano! Eu disse que não tem problema.
_Vira pra lá que eu tiro.
_Affs mano -dei uma gargalhada e virei de costas quando ele pegou a camisa da minha mão, esperei por um tempo- posso virar já?
_Pode -disse ele e quanto me virei ele já estava com minha blusa no corpo, ela ficou um pouco larga e grande nele, mas ainda sim era melhor do que o cara levar ferro por minha causa.
Não demorou muito para que nós dois já estivéssemos na frente da casa dele, ele morava em um prédio pra ser mais exato e sua casa não era nem um pouco perto da minha, o f**a é que vou ter que atravessar a cidade pra ir embora, mas preferi não dizer nada sobre isso.
_Bom, vou indo embora, até mais cara -me despedi dele.
_Obrigado por me ajudar a andar de skate, por pagar o meu sorvete, por me emprestar a blusa e por não ter me batido -ele parou por um tempo- vai na aula segunda?
Porra cara, disparei a rir quando ele disse isso, com mil e um assuntos pra nós dois conversarmos ele me pergunta se eu vou na aula na segunda? Isso são atitudes que deixam o Gary estranho, ele nem tinha que agradecer por nada que eu fiz, e nem ficar me olhando toda hora, parece até que o cara tem uma tara por mim.
_Não sei, isso só deus sabe -falei dando uma gargalhada- tenho que ir mano, a Paty acabou de me mandar um SMS perguntando se eu posso ir na casa dela, e é claro que eu não vou perder essa chance, né?
_É... -sussurrou ele olhando pro lado- tenho que ir agora, tchau.
E então ele entrou, fiquei parado na porta da casa dele por uns segundos e então coloquei o skate no chão e fui embora pra casa, e sim, eu menti, menti sobre o fato da Paty ter me chamado pra ir na casa dela, isso foi só uma desculpa pra sair dali depois que eu cogitei a ideia do Gary estar sentindo algo por mim.