Descontrole/ 06 de maio de 2024.

1379 Palavras
06 de maio de 2004- 18:00hs. Não sei o que segura o ciúmes, esse sentimento que borbulha nas veias humanas. Penso que ninguém sabe, é algo que brota no cérebro e suplanta a alma. Não é nada muito lógico e pouco racional, nos deixamos levar, pelo temor de perder, pela ameaça, nem sempre real, de que um usurpador está tomando o nosso sagrado espaço no coração do nosso bem-amado e isso é um empurrão para a profunda escuridão que todos temos dentro do íntimo. Ninguém é todo bom e também puramente r**m, somos metades de cada um, complementos, e com esses vamos vivendo nessa corda bamba que é a vida. Penso eu que isso não é fruto carnal, mas de alma, como se o éter fosse composto de duas fórmulas distintas. Varuna por muitas vezes, ponderou isso, por inúmeras vezes refletiu sobre; ele sentia tudo como se ainda tivesse em posse do seu corpo, hoje lidava bem com a fome e a sede que o deixou deseperado nos primeiros anos de desencarne. Não é fácil livrar-se dos vícios, mesmo que esses sejam apenas algo mecanicamente sancionada por seu organismo. Foi por volta das dezoito horas, que Camila chegou em casa, estava suada, assustada e abatida. O colega saiu de ambulância da unidade escolar, a menina queria ficar perto do jovem Rui, sentia-se culpada por ter o derrubado e, possivelmente, causado algum tipo de ferimento interno no rapaz. _ A minha menininha chegou !- Evaristo falou esfusiante, logo o pobre perdeu o sorriso, olhando para a sua filha. O pai foi ao encontro da menina, intrigado com a energia esquista que sua flor transbordava. _ Oi, pai. Como foi a sua tarde? - perguntou a moça, encostando a bicicleta na parede lateral da casa. _ Foi, boa, meu bem. Mas e você, por qual razão está com essa carinha? - indagou, dando um abraço na garota. _ Aconteceu algo, estou me sentindo m*l por isso.- revelou com os pensamentos voltados para o acontecimentos de horas atrás. _ Houve algum desentendimento com algum colega? Tirou alguma nota r**m? - Arriscou alguns palpite o progenitor protetor. _ Não. - respondeu a moça olhando para o gramado impecável, sem excessos de folhas secas ou gravetos, estranhou. Um vendaval ocorreu na escola e parecia nem ter passado pela fazenda. _ Então, minha filha, fale a razão para estar com esse semblante perturbado.- pediu o homem, roendo-se de nervoso. _ Eu estava conversando com Rui, sobre espiritualidade, ele não sabe muito, mas gosta de ler sobre. Pai, eu tinha acabado de aborda-lo no corredor, estava meio sem graça de fazer algumas perguntas sobre o assunto. Acredito que não era para ser, porque deu um pé de vento, que saiu retirando tudo do lugar, levantou poeira. Isso acabou jogando terra dentro dos meus olhos, no meio da confusão, acabei caindo em cima do Rui. Nossa, pai, o menino teve que ser levado de ambulância para o hospital, ele berrava de dor. Acho que machuquei ele.- relatou, olhando tristonha para o patriarca da família. Evaristo não estava entendo coisa nenhuma. Perdeu-se no espiritual e dai não conseguiu manter raciocínio vivido para o restante. _ Calma, Camila, me explica isso direito! Você queria saber sobre espíritos? Por quê?- indagou com uma ruga enorme marcando a testa. A menina restesou, ficou com a língua travada, sem saber se confessava logo toda verdade ou mantinha sigilo sobre o mais novo amigo : um fantasma . _ Curiosidade, pai! Ouvi alguns relatos no canal Assombração da meia-noite e isso me instigou.- mentiu, jogando um lençol de seda fina sobre o fantasma do qual, não sabia absolutamente nada, somente a confirmação que é o espírito de um morto. _ Não gosto desses assuntos, filha. Para de ouvir, ver e querer distrinchar esses assuntos, tem certas coisas que foram feitas para não serem remexidas.- falou sério, munido do poder de pai, da autoridade que lhe era de direito. _ Tudo bem, eu não quero mais saber de nada sobre. - proferiu sem ânimo- Vamos entrar, preciso de um banho e tenho um trabalho para entregar amanhã. - disse, passando a mão pelas costas do pai. _ Vamos sim. Escuta, eu tenho uma surpresa para você, hoje consegui criar uma nova variedade de rosas de uma cor bem vívida, amarela como nenhuma outra, batizei com o seu nome: Rosa Camila.- confessou, orgulhoso de si, do seu talento e das suas aptidões como botânico. Felicidade não cabia na jovem, que olhou para o progenitor de olhos arregalados e mui brilhantes. _ Para mim! Amei, pai! Muito obrigada! - proferiu sorrindo, era um sorriso puro cheio de agradecimento genuíno. Ambos entraram, Camila foi direto para o quarto. Preocupada com o amigo e com o trabalho de Química. Adentrou ao quarto, livrando-se dos sapatos, da mochila e indo para o guarda-roupas. Não protelou, em posse de toalha e munida de peças limpas de roupas, tratou de banhar-se, naquela altura do dia, sequer pensava em Varuna. Tinha esquecido completamente do fantasma, sua cabeçinha estava voltada para o trabalho e para o amigo. Ao sair, arrumada do banheiro, toalha enrolada nos fios úmidos, pegou o aparelho celular no bolso pequeno da mochila, era um modelo antigo, tela trincada, mas funcionava para o que foi progetado e executado: fazer e receber chamadas. Vasculhou a lista minguada de contatos e encontrou o número do colega. Colocou em chamada; no entanto, sua tentativa foi infrutífera. Persistiu por mais duas vezes e nada conseguiu. _ Desce Camila, mamãe quer todos na mesa para o jantar.- a irmã avisou da porta. _ Você acredita que uma queda possa machucar muito uma pessoa, uma queda boba, nada do tipo como cair de uma escada, de um penhasco, das pedras e lugares altos?- indagou aflita. A primogênita estranhou a pergunta. _ Não sei, Mila, depende. Certa vez li uma reportegem sobre uma moça que estava bêbada, tropeçou caiu e depois de uns dia morreu por complicações do tombo. Tem pessoas que levam quedas horrosas e ficam intactas. Vai entender, não é mesmo? - disse sem muito interesse de continuar falando sobre esse assunto. A irmã de Camila, queria mesmo que todos jantassem e fossem dormir para poder encontrar com o filho do dono da fazenda vizinha. _ Pode ser.- respondeu mordendo a parede interna da bochecha. Camila desceu, sendo seguida por Tabata; quase não tocou na comida, ainda com a tolha enrolada nos fios, usou a desculpa propícia para poder evadir-se da mesa. _ Não é para lavar o cabelo a noite, menina! Vai te dar dor no ouvido. Usa o secador, antes de dormir!- ralhou a mãe, enquanto a jovem afastava-se. A moça subiu a escada, seguindo para o seu quarto, cogitava tentar, mais uma vez, uma comunicação com o colega de escola, mas temeu perturbá-lo, afinal, ele poderia estar descansando. Enquanto Camila ia caminhando pelo corredor, Varuna se encontrava dentro do cômodo que tinha como seu aposento, mas que estava em empréstimo para a garota que conseguiu balançar algo em seu ectoplasma. O fantasma estava em ruínas, uma áurea n***a jazia em si, era apenas um amontoado de fumaça espessa e escura. Circulou pelo ambiente, sentindo o cheiro da menina, era o seu vício, seu narcótico . Um toque suave encheu o quarto, era baixo, o espectro percebeu o som e foi em direção ao aparelho, observou o nome, leu e sua fúria ficou agigantada. Era o nome de um homem. Um macho ligava para sua preciosa Camila. Pegou o aparelho e jogou longe, o barulho seco de algo caindo, fez camila apressa os passos. Ao chegar e abrir a porta, as gemas castanhas procuraram pelo objeto que tinha caído e viu o celular, arrebentado no chão. Foi na direção do que tinha tornado-se sucata. _ Droga! Como pude ser tão desastrada e deixa-lo na prateleira de livros, só poderia acontecer isso mesmo!- reclamou consigo mesma, aborrecida pelo descuido que não ocorreu. Camila ergueu-se com a carcaça nas mãos, não tinha concerto, o destino certo foi o lixo. Em seu âmago a garota atribuia o seu dia r**m como uma maré de azar, muito mais do que um simples vento aziago, aquele, pensou tristemente, definitivamente não era o seu dia de sorte. Ela sequer poderia cogitar que a noite, também não seria das melhores.
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