Capítulo 32

1024 Palavras
Kenai avançava pelos corredores da casa de Cortez com passos silenciosos, sua arma firme nas mãos, os sentidos aguçados. Cada cômodo vasculhado só reforçava a sua frustração: Cortez não estava ali. O desgraçado havia fugido antes que pudesse sentir o gosto da própria ruína. Ao abrir a porta de um quarto no final do corredor, esperava encontrar mais nada — talvez um esconderijo vazio ou outro capanga covarde. Mas o que viu fez o seu peito se apertar. Ali, encolhida em um canto da cama, estava uma menina. Pequena, frágil, os olhos arregalados brilhando à luz fraca do abajur. Por um instante, Kenai ficou imóvel. Algo nele se retorceu, um sentimento antigo, esquecido. O seu corpo, acostumado a violência e guerra, estranhamente relaxou ao vê-la. Havia algo naqueles olhos que o fez prender a respiração. Medo. Inocência. E uma súplica muda por ajuda. Ele guardou a arma, aproximando-se devagar. Não queria assustá-la ainda mais. Kenai agia puramente por insistindo se deixando ser guiada até aquela bela criatura a sua frente. — Ei... — Sua voz saiu mais suave do que esperava. — Você está segura agora. A menina não respondeu. Apenas o observava, hesitante, como um animal encurralado. Kenai estendeu a mão, e ela estremeceu, mas não recuou. Foi o suficiente para ele tomar uma decisão. — Você vem comigo — disse, sem hesitação. Ele a pegou nos braços com cuidado, sentindo o peso leve contra o seu peito. Ela não resistiu, apenas escondeu o rosto contra o seu ombro. O calor do pequeno corpo contra o seu fez algo dentro dele se acalmar, um instinto que ele nem sabia que possuía despertando. Quando voltou ao ponto de encontro, Max o observou com curiosidade ao vê-lo carregando a criança. Kenai parou diante dele, olhando-o nos olhos. Leonardo já tinha lhe dito o que tinha acontecido assim que ficou sabendo por um soldado, mas olhando agora para Kenai ele podia perceber que o seu soldado não abriria mão da mulher em seus braços. — Quero ela para mim — disse simplesmente. Os seus olhos fixos em seu Don, deixando claro que ele não deixaria aquele lugar sem que a mulher em seus braços fosse com ele. Max ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços. Aquela era a primeira vez que ele via Kenai se comportar daquela forma e entendia bem o motivo. — Para quê? — Pergunta ele examinando com atenção o rosto do seu soldado. — Para cuidar dela. Para protegê-la. — Kenai respirou fundo. — Ela precisa de alguém. Eu quero ser esse alguém. Max ficou em silêncio por alguns instantes, avaliando o seu homem. Conhecia Kenai bem o suficiente para saber que ele não fazia pedidos à toa. Finalmente, assentiu. — Então prometa — disse Max, a voz firme. — Prometa que vai cuidar dela, que nada vai acontecer com essa menina enquanto estiver com você. Kenai apertou os lábios, segurando a menina com mais força. Aquela era uma promessa que ele poderia cumprir e ficaria feliz em lhe prometer. — Eu prometo. Max soltou um longo suspiro e assentiu, dando de ombros. — Então ela é sua. Kenai sentiu uma onda de alívio percorrer o seu corpo. Ele não sabia o que viria depois, mas tinha certeza de uma coisa: jamais quebraria aquela promessa. — Qual o seu nome? — Pergunta Max de forma firme. A mulher nos braços de Kenai olhava para Max com desconfiança, mas não havia nada que ela pudesse fazer, a sua vida estava nas mãos daquelas pessoas e se não as obedecesse ela temia pelo que viria. — Me chamo Fiorela, senhor. — Responde ela com a voz baixa desviando o seu olhar de Max. — O que você era de Cortez? — Max precisava saber se a menina tinha algum parentesco com Cortez para que pudesse tomar as medidas necessárias caso fosse. — Sou apenas uma empregada na casa dele senhor. Ouvi os sons de tiro e me escondi em um dos quartos. — Diz ela ainda sem olhar para Max. Ela não desejava olhar no seu rosto novamente e ver os seus olhos sombrios sobre ela. — Sabe o que ele esta te pedindo Fiorela? — Pergunta Max. Ele não permitiria que a mulher a sua frente entrasse na sua máfia sem saber do que se tratava, ele podia ver nos seus olhos o quanto ela estava assustada com tudo aquilo e ainda não entendia o porquê ela não havia se assustado com Kenai. Max observa a mulher olhar para Kenai atentamente antes de se voltar para Max novamente. — Ele deseja que eu trabalhe em sua casa? — Pergunta ela um tanto quanto confusa e Max assimilava aquilo a situação que ela estava passando. — Não, se você vir conosco será como noiva dele, é isso que quer? — Max ve os olhos da menina se arregalarem e se voltarem novamente para Kenai, mas ele não deixava nada passar na sua expressão. — Vou cuidar bem de você, meu beija-flor, eu prometo. — Diz ele com uma voz tão suave que Max duvidava que fosse o soldado letal da sua confiança a sua frente. Max aguardava com paciência que a mulher se decidisse, ele não poderia a levar a força, e mesmo que já tinha lhe dado a Kenai ele merecia o direito de escolha já que era da sua vida que eles estavam tratando, mas ele também não a iludiria em para onde estava indo. — Você bate em mulheres? — Pergunta ela a Kenai. — Por deus, não! A minha mãe arrancaria o meu couro se fizesse isso. — Diz ele para alívio dela. Fiorela se vira novamente para Max e observa com atenção o seu rosto. Ela sentia uma áurea de perigo vindo de Max, mas naquele momento ela percebia que aquilo não era direcionado a ela. — Tudo bem, eu vou. — Diz por fim com um olhar decidido. — Então vamos, temos muito o que fazer ainda. — Diz Max passando por eles. Kenai caminhava atrás deles segurando Fiorela apertada contra o seu peito, como se quisesse a esconder dos olhares dos soldados a sua volta, ela era sua.
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