Capítulo 65

1077 Palavras
Max vai até a casa de Kenai com um sorriso no rosto. Depois da sua manhã com Isabel, ele se sentia mais leve. Assim que ele bate na porta, Fiorella atende, surpreendendo-se com o seu Don aquela hora. — Bom dia, Fiorella. Kenai está? — pergunta ele. — Sim, Don, irei chamá-lo — diz ela, afastando-se rapidamente. — Bom dia, Don — diz Kenai, aparecendo na porta com um sorriso no rosto. — Venha comigo, os soldados prepararam algo para você — diz Max. Aquilo deixa Kenai surpreso. — Me dê um minuto — diz ele, correndo para dentro. Ele volta segundos depois, vestido e pronto. — O que estão aprontando agora? — Você não teve uma despedida de solteiro, meu amigo. Eles desejam apenas beber um pouco com você. Achei que não se importaria — diz Max, vendo a surpresa nos olhos dele. Kenai não esperava por aquilo. Ele estava tão acostumado a ser tratado como um pária no meio deles que aquele gesto o pegou desprevenido. — Não me importo, Don. Não os convidei porque achei que eles não desejassem participar de uma cerimônia indígena — diz ele, passando a mão pelos cabelos. — Você tem provado o seu valor, Kenai, e todos eles podem ver isso. As coisas estão mudando por aqui — diz Max enquanto caminhavam em direção ao galpão de treinamento, onde os soldados os aguardavam. — Graças a você, Don — Kenai jamais esqueceria que todas as boas mudanças que estavam ocorrendo eram por causa de Max e da maneira como ele lidava com os seus homens. Assim que abrem a porta do galpão, uma chuva de confetes cai sobre eles. Os soldados gritavam e aplaudiam Kenai enquanto ele entrava. Gratidão enchia o seu peito, assim como o sentimento de aceitação. Uma vez, aqueles homens já tinham o odiado e desprezado por suas origens, mas agora estavam ali, demonstrando o seu apoio a ele como sempre deveria ter sido. — Obrigado a todos. Eu não esperava por isso, mas estou feliz por tê-los aqui comigo. As coisas estão mudando, e agora realmente somos uma família, e a família se apoia de forma incondicional, como estão fazendo agora. — Você é irritante, mas é um bom soldado, Kenai. Temos que reconhecer isso — diz Leonardo, sorrindo. — Você continua chato como sempre, Leo — diz Kenai, fazendo-os rir. — Eu não os convidei para o meu casamento porque não pensei que vocês gostariam de participar dos nossos ritos, mas, se estiverem confortáveis, ficarei feliz em tê-los comigo neste dia. — Não fique tão animado, Kenai. Você não é o único mestiço por aqui — diz Rocco, sorrindo. — E estaremos lá para apoiar o nosso irmão de armas. Os soldados reagem com gritos entusiasmados às falas de Rocco. Eles começam a conversar e a beber; a festa deles havia começado, e Kenai se sentia acolhido como nunca antes em sua vida. O sol poente tingia o céu de tons dourados e avermelhados, espalhando uma luz cálida sobre a clareira sagrada onde Kenai e Fiorella uniriam os seus destinos. O vento soprava suavemente, carregando o aroma terroso das folhas e flores silvestres, enquanto o som ritmado dos tambores ecoava pela floresta, ressoando como um chamado ancestral. Fiorella, vestida em um traje cerimonial indígena adornado com penas e bordados em tons vivos, sentia o seu coração pulsar com força. O seu olhar se perdia na beleza rústica da cerimônia, nos guerreiros e anciãos que entoavam cânticos sagrados, nas mulheres que dançavam em círculos, espalhando pétalas pelo chão. Tudo era novo, desconhecido, mas profundamente encantador. A melodia dos cânticos parecia contar histórias que ela ainda não compreendia, mas que a envolviam num abraço espiritual. Kenai estava ao seu lado, imponente e sereno, com o olhar repleto de orgulho e ternura. O seu peito estava adornado com colares de contas e um cocar de penas simbolizando a sua linhagem e a sua conexão com os espíritos da natureza. Ele pegou a mão de Fiorella com delicadeza, e naquele toque, ela encontrou um ponto de ancoragem para suas emoções turbulentas. Se tinha algo que Kenai se orgulhava era das suas origens, e ver que Fiorella o aceitava tão bem o fazia extremamente feliz, e ele podia ver aquela mesma felicidade no olhar da sua mãe. O pajé, um homem de idade avançada e olhos cheios de sabedoria, se aproximou, segurando um ramo de ervas aromáticas. Ele começou a abençoá-los, desenhando símbolos invisíveis no ar enquanto murmurava palavras na língua ancestral da tribo. Fiorella sentiu um arrepio percorrer a sua pele; havia algo mágico e sagrado naquele momento. Ela não compreendia as palavras, mas sentia a sua alma sendo acolhida por aquela cultura, por aquela terra, que mesmo que ela soubesse que não era seu lugar original de moriadia, ainda tinha um grande significado para aquele povo. Então, veio a troca dos presentes simbólicos. Kenai entregou a Fiorella uma pulseira trançada de fibras naturais e pequenos dentes de animais, símbolo de proteção e união. Ela, em resposta, ofereceu-lhe um pequeno medalhão de prata, herança da sua família italiana, um gesto que representava a fusão dos seus mundos, a única coisa que ela tinha de valor dos seus pais, e que naquele momento confiava a ele. O pajé sorriu, reconhecendo a aceitação mútua entre os dois. Por fim, ambos foram envolvidos por um manto tecido pelas mulheres da tribo, um símbolo de que agora a suas vidas estavam entrelaçadas como os fios daquela peça. Quando os cânticos cessaram e o silêncio reverente se instalou, Kenai inclinou-se e tocou a testa de Fiorella com a sua, um gesto sagrado de união e respeito. Ela fechou os olhos, deixando-se tomar por uma onda de emoção indescritível. Fiorella não sabia colocar em palavras o que sentia. Era um misto de deslumbramento, e uma pequena ponta de medo do desconhecido. Mas, ao abrir os olhos e encontrar os de Kenai, percebeu que o amor era a ponte entre as suas culturas. E naquele instante, ela soube que pertencia àquele momento, àquele homem, e àquela nova vida que começava sob a benção da floresta e dos seus ancestrais. — Agora vocês são um, que os espíritos que nos guiam estejam com vocês nesta nova jornada. — Diz o pajé segurando a mão de ambos com um sorriso no rosto. Ele se vira para os convidados erguendo a mão de ambos entrelaçadas, o povo irrompe em vivas ao ver que os dois finalmente estavam unidos.
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