Os dias de falta de vontade de ir à escola acabara, queria passar mais horas no colégio com o objetivo de observar mais o Luiz, mais precisamente, o seu belo rosto, suave e liso, suas bochechas um pouco avermelhadas, seus olhos castanho mel escuro, seu sorriso lindo e claro, como não esquecer o seu clássico cabelo moicano, tudo isso dava um toque final para sua beleza. Balanço a cabeça, desviando tais pensamentos, sentia receio de tudo aquilo, mas não sabia o por que, era tudo muito novo ainda...
Já estava pronto, esperando o meu irmão trancar o portão de casa e assim seguir a escola. Na ida, geralmente, vou com o meu irmão e às vezes o Rafael nos acompanha, pois o encontramos no caminho, já na volta, retorno sozinho. Meu irmão estuda numa escola seguindo mais à frente da minha, ele está no terceiro ano do ensino médio, em um colégio integral, por isso, ele sai mais tarde que eu.
Chego à escola e me dirijo à sala, como sempre coloco a mochila em cima da mesa e fico com os braços como apoio e deito a minha cabeça, esperando a professora chegar à sala. Estava tranquilo, boiando com os meus olhos fechados, quando de repente, sinto um cutucão em mim, levanto a cabeça e olho para o indivíduo, era o Geovanni, ele se aproxima e diz meio aflito:
- Tem um garoto espalhando boatos sobre você – Pisco o olho e arqueio uma das sobrancelhas incrédulo - dizendo que na época da creche, na hora de dormir, você fazia coisas improprias com os seus colegas enquanto eles estavam dormindo – ele deixa soltar um riso e eu reviro os olhos – é verdade isso?
- Nem preciso responder, né Geovanni! – Disparo um olhar sarcástico e ele assenti – mas quem é esse garoto?
- É um tal de Igor – reponde ele.
Ao ouvir aquele nome, foi como se o meu mundo caísse, Igor é um garoto que era da minha creche e até então éramos amigos no começo, mas não me recordo o motivo, viramos inimigos mortais desde então. E esse boato não é verdade, bem em partes, realmente, na hora de dormir havia uma sala com um monte de colchões no chão onde todos os meninos dormiam e nessa sala havia um garoto que esperava todos dormir para aproveitar e abusar deles, apalpando as partes intimas dos mesmos. Bem, não é preciso contar que fui uma das vítimas... enfim, esquece! Passado é passado, no entanto ninguém descobriu quem era esse garoto.
Geovanni ainda vem insistindo com esse assunto:
- Quer que eu bata nele?
- Geovanni, você não bate nem em uma mosca e vai bater nele - zombo, revirando os olhos entediado - não, deixa quieto, aposto que ninguém acredita nele por sua fama de mentiroso como bem conheço.
O sinal bate e nos despedimos, Sol, a coordenadora, novamente trouxe um novo aluno, e por ironia do destino, é o Igor, ela disse que ele vai fazer parte da sala e eu fiquei muito ah que ódio! O que você tem contra mim destino? Aparentemente a coordenadora Sol quer completar esta sala, por isso, ela trouxe eu e os outros. Ela se retirou após deixar o Igor na sala e uma nova professora entrou, e logo a reconheci, seu nome é Eunice e sua disciplina História, ela tem uma fisionomia estranha, seu corpo começa reto e se alarga nas bundas, tanto que o seu apelido, segundo o meu irmão, é b***a de airbags, deixo escapar uma risada baixa ao lembrar de meu irmão contando sobre ela. Ela propôs uma atividade em dupla e quando olho a minha volta, todos já tinham duplas, inclusive, reparei que o Luís sentara com outro menino, se não me engano o seu nome é Leo, até mesmo o Daniel tinha uma dupla, uma menina chamada Ester, a garota que veio a essa sala junto comigo e ele, porém, menos é claro, eu e o Igor, não tínhamos duplas e rangendo os dentes de raiva, já previra o que viria.
A professora forçou e insistiu, e eu não vendo jeito, tive que sentar com o Igor, que ódio... Ele ficou me irritando a aula inteira dizendo:
- Olha quem eu encontro – eu franzo a testa e desvio o olhar – Vou infernizar sua vida Wally Nasc – e dá uma risada de louco.
- Igor, você não tem coisa melhor para fazer, tipo focar nos exercícios? – Aponto para a folha da atividade e ele dá de ombros.
- Alias Wally, gostou do showzinho hoje na entrada?
- Para Igor! Vamos ter uma trégua e terminar isso, por favor?
- Me poupe seu b****a, não me importo com nada disso, a não ser me divertir um pouco com você, vou revelar vários podres de sua infância – bufo, sabendo que era um blefe e dou de ombros.
- Como se você soubesse algum.
- Ah! Realmente, mas posso inventar – ele coloca um dedo no peito como se estivesse orgulhoso e prossegue – que aliás é o que eu faço de melhor – e dá um sorriso maligno.
Dou uma olhada para as meninas atrás e elas cochicham algo, que aparentemente parecia ser sobre mim, retorno meu olhar para o Igor e ele dá um sorriso novamente pernicioso.
- O que você fez dessa vez? – Digo estressado.
- Nada de mais – ele diz desviando o olhar cínico.
- Já chega! – Bato o meu caderno com força na mesa chamado a atenção de todos, inclusive da professora.
A professora dispara um olhar preocupado e pergunta:
- Algum problema aí?
- Tudo! O Igor não para de me encher o saco e não ajuda a fazer a lição.
De repente uma voz lá no fundo me corta e diz:
- Você pode fazer com a gente então.
Reviro os olhos para trás e era justamente a pessoa que eu esperava, o Luiz, olho para a professora e ela não contesta, então pego minha cadeira e me sento ao lado do Luiz e do Leo que este, não pareceu estar muito satisfeito.
- Problemas com aquele garoto? – Diz o Luiz.
- Sim – digo abaixando o olhar – um b****a que conheço há tempos - completo.
- Eu e o Leo também não gostamos dele – o Leo assentiu.
Despois que acabamos os exercícios ficamos conversando sobre fatos e curiosidade da escola, até mesmo falei da lenda que meu irmão me contara, da balança maldita: "atrás da escola há um rio e logo depois uma mata, que possui árvores com as copas muito altas, meu irmão disse que nessa mata, tem uma balança em formato de pneu que quem senta nela está sujeito à morte, já que logo à frente há um barranco que dá direto ao rio, pois a mata tem um formato íngreme". O Leo coloca as mãos sobre meus ombros e diz.
- Você não é tão chato quanto eu pensei, devia andar com a gente.
- Foi o que eu disse também – o Luiz confirma. Deixo sair um sorriso lúdico.
- Está bem! – Disse tímido.
Embora o convite, não passei o intervalo com eles, ainda tinha receio de os outros da turma não gostarem de mim. O sinal para hora de ir embora havia tocada, arrumei as minhas coisas e fui embora, no caminho estava distraído, e senti alguém encostar na minha mochila, arrepiei, com o canto do olho, vi que era o Luiz acompanhado do Helton, um menino que mora perto, mas nunca troquei uma palavra com ele, pois não saio muito de casa, eles me cumprimentaram e o Luiz diz:
- Então você também faz esse caminho? – Concordo com a cabeça.
- Ele mora próximo a minha casa, sabia Luiz? – Diz Helton, eufórico.
- Então bem que você poderia começar a ir com a gente – diz ele dando um sorriso divertido.
Eu coro e assinto tímido. Então, conversamos o caminho inteiro até nos despedirmos, ele desceu uma virada e tive que ir o resto do percurso com o Helton, apesar de não termos tanta afinidade, conseguimos achar uns papos, descobri que Helton é nordestino e veio de alagoas, seu apelido na escola é serrano.
Chego em casa e a TV da sala estava ligada sozinha, meu irmão ainda estava na escola e minha mãe devia estar na casa da vizinha, pois ela adora tomar chá lá, me dirijo para desliga-la, porém reparo melhor no programa que estava passando, era um programa bíblico sobre um pastor, e uma de suas palavras proferidas me atingiu como um tiro em uma ave. Eu não entendia o porquê... não! Na verdade, bem no fundo eu sabia exatamente o porquê me atingiu, suas palavras foram as seguintes:
"Nenhum homem, jamais se deitaras com o outro, pois estará cometendo um pecado, sodomia! E sabemos para onde os pecadores vão?"
Aquela pergunta, respondi mentalmente, "para o inferno"...