MAURÍCIO
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Me chamo Maurício Arcanjo, tenho 21 anos e moro com a minha mãe e meu padrasto.
Faço faculdade de direito e estou trabalhando atualmente como assistente de um advogado chamado Marcelo. Ele não foi muito com a minha cara, só por que eu derrubei café na camisa dele, mas ele é culpado por ter aparecido bem na hora que eu estava saindo... Mas eu não vou falar isso pra ele se não perco meu emprego e o George meu padrasto me mata.
Eu e minha mãe somos brasileiros e meu padrasto é o único americano que vive lá em casa. Eu tenho um namorado chamado Marck e um melhor amigo chamado Chris.
Posso dizer que minha vida era boa, tirando o fato do meu padrasto me odiar porque eu sou homossexual.
George não é o modelo perfeito de ser humano, na verdade nenhum ser humano é, mas aquele homem ganha de qualquer um. Ele não liga muito para aparência, higiene, é um porco e ainda trata a minha mãe como escrava, não sei como ela consegue amá-lo.
Meu namorado era o tipo de pessoa que só pensa nele mesmo, sabe aquelas pessoas lindas, mas que por dentro são horríveis? Esse é o Marck, e quando se trata do seu sonho de ser modelo, ele passa por cima de qualquer um.
Ele sempre diz que me ama, nunca levei fé nesse sentimento. Já eu o amo, bom, pelo menos eu acho que amo. Sempre fui o tipo de pessoa muito carente que se apaixona rápido, as vezes acho que eu estou apenas iludindo a mim mesmo e as vezes eu acho que é amor verdadeiro.
Já meu amigo Chris ele é mulato lindo de parar o transito. Nos conhecemos na faculdade e desde então uma amizade muito forte cresceu entre nós.
***
O meu dia não tido sido dos melhores, Marcelo não me tratou bem e para piorar antes de sair de casa para trabalhar, eu tive uma discussão com o meu padrasto. E minha mãe como sempre ficou do lado dele.
Antes do Marcelo voltar a trabalhar, eu era assistente de uma advogada muito simpática chamada Krysten, desde que entrei no escritório, acabamos nos dando muito bem a viramos amigos. Mas assim que ele voltou, eu percebi que não seria nada fácil trabalhar para ele.
Ele ficou fora por mais de 6 meses e ninguém nunca me contou o motivo do afastamento, mas eu também não ia ficar perguntando se quisesse manter meu emprego. Quando eu tinha voltado do almoço ele me pediu desculpas — pata deixar claro, eu fiquei chocado.
Ele disse que tinha passado por um momento muito difícil nos últimos meses e pude perceber que estava sendo sincero, sua voz não o deixava mentir.
Quando era 06:00 eu vi que já estava na hora de eu ir embora, como eu não tinha faculdade eu resolvi fazer uma surpresa para o Marck que morava por perto.
Tinha já alguns dias que ele disse que estava ocupado procurando agências de modelo e falou que não ia ter tempo pra mim, mas como ele não disse nada sobre hoje ele deve estar em casa sem fazer nada.
— Bom senhor Marcelo, eu já vou indo. O senhor precisa de mais alguma coisa? — eu perguntei arrumando minhas coisas.
— Acho que já esta tudo em ordem — ele disse me olhando por cima dos óculos. — Até amanha.
— Até amanha.
Quando chego na rua vejo que vai cair um temporal, mas como eu não tenho carro tive que ir andando. Foram mais ou menos 30 minutos de caminha e eu ainda não tinha pego chuva, cheguei no seu apartamento e falei com o porteiro:
— Boa noite Sr. Lews, o senhor sabe se o Marck esta em casa? — pude perceber que ele me olhou estranho.
— Desculpe Maurício, mas ele não está — quando ele disse isso eu fiquei decepcionado.
— Tudo bem então, obrigado — quando eu já estava saindo ele me chama de volta.
— Acabei de ligar lá em cima, ele esta lá sim, mas está entrando no banho agora.
Ele disse me entregando a chave reserva do apartamento.
— Entre com essa chave, acho que ele não vai ficar bravo — ele disse sorrindo e me entregando a chave reserva.
Eu agradeci sorrindo.
Estava sentindo que aquela noite ia ser a melhor de todas.
Quando cheguei no seu andar, eu me olhei no espelho e arrumei meu cabelo. Respirei fundo e abri a porta com um enorme sorriso no rosto. Pendurei o meu casaco e coloquei o guarda-chuva ao lado da porta.
Quando cheguei perto do seu quarto, eu não ouvia o barulho do chuveiro, mas sim gemidos. Gemidos que foram ficando mais alto quanto mais eu me aproximava da porta, meu coração se apertou e meus olhos se encheram de lágrimas. Então tomei coragem e abri a porta.
Sabe aquelas malditas cenas que ficam na sua cabeça pelo resto da vida, uma coisa que você nunca mais vai esquecer? Era o que eu via. Marck estava por cima de alguém que nunca imaginei que me trairia. Chris sorria e passava as unhas nas costas do meu namorado, ambos estavam tão concentrado no que estavam fazendo que nem me viram.
Marck deitou com a cabeça no peito de Chris e os dois ficaram com os olhos fechados com um sorriso no rosto. E eu? Realmente não sei o que me deu para ficar parado observando aquela cena, acho que o meu sistema tinha dado pane.
— Sabe meu amor, eu não gosto de fazer isso com o Mau — Christian disse de olhos fechados curtindo o seu momentos pós f**a.
Eu fechei um pouco a porta e fiquei escutado o que eles estavam falando.
— Você sabe que eu também não gosto, mas eu não quero magoá-lo.
— Mas enquanto eu estou aqui, você esta lá transando com ele — ele diz com cara feia.
"E enquanto eu estou lá, ele está aqui transando com você."
— Não é verdade, eu e Maurício não transamos a dias. Tenta entender Chris eu te amo — aquelas palavras me doeram a alma, ainda mais porque ele raramente dizia aquilo pra mim.— Mas eu sinto pena do Mau por ter aquela família que ele tem.
Quando ele disse que tinha pena de mim, me subiu um 5 minutos e quando eu vi já estava dentro daquele quarto e eles me olhavam assustados. Marck nem fez muita questão de se levantar, quem veio falar comigo foi o Chris que levou um soco na cara assim que se aproximou.
Posso dizer que não sou muito bom nisso, então minha mão doeu muito.
— Eu não quero nada de você seu nojento, não quero o seu falso amor e muito menos a sua pena — eu disse segurando meu punho, eu queria chorar, mas não ia. — Se chegarem perto de mim outra vez eu... Não sei nem o que vou fazer.
Eu peguei o meu casaco e sai correndo daquele lugar nojento.
Quando entrei no elevador, eu me encostei na parede e senti meus olhos arderem por causa das lágrimas. Quando a porta estava se fechando, Marck ainda apareceu na minha frente, mas graças a Deus ele não conseguiu entrar.
Assim que a posta se fechou, eu não aguentei e cai no choro.
Muitos dizem que as pessoas traem porque os outros não são suficientes. Será que eu não era o suficiente para ele?
Quando as portas do elevador se abriram, eu sai correndo e passei pela portaria sem falar com o Sr. Lews. Estava chovendo e eu não sabia para onde ir, só sabia correr e correr até não aguentar mais. A chuva ficou muito forte e eu não sabia mais o que fazer.
Enquanto andava, eu fui para a rua sem prestar muita atenção e quase fui atropelado. O homem parou com o carro em cima de mim e fiquei parado tentando entender onde eu estava. O homem saiu do carro e eu vi que era o Marcelo.
— Maurício? — sem pensar nas consequências eu corri em sua direção e lhe dei um abraço apertado. — O que houve?
Ele perguntou enquanto passava a mão na minha cabeça, pude ouvir que alguns motoristas já estavam gritando e buzinando nos mandando sair do caminho.
— Me tira daqui senhor, por favor — ele olhou nos meus olhos e concordou me colocando dentro do seu carro. Eu tentei me acalmar e parar de chorar, estava passando vergonha.
Por que doía tanto? Eu não tinha nem certeza dos meus sentimentos, mas mesmo assim estava arrasado. Será que eu o amava de verdade? Ou será que esse sentimento é por causa da humilhação que eu passei?
Eram tantas perguntas, mas nenhuma resposta.
Nós fomos o caminho todo sem falar uma palavra e percebi que ele estava tenso. Eu já tinha parado de chorar, mas via que por alguma razão ele estava com medo de dirigir na chuva.
— Estou vendo que o senhor esta tenso. Quer que eu dirija? — eu perguntei e ele olhou pra mim e parou o carro.
— Obrigado — disse ele e nós mudamos de lugar.
— Para onde o senhor estava me levando? — eu perguntei.
— Minha casa, segue essa rua e quando estiver chegando eu te falo pra onde seguir — ele disse ficando mais calmo.
Quando chegamos a sua casa vi que era grande e muito bonita, que ao contrario da minha era pequena e muito simples, com esse pensamento eu fiquei até com vergonha.
Entramos na sua casa que por dentro era tão bonita quanto por fora, ele percebeu que eu estava olhando a casa e ficou me olhando.
— Quer um copo d'Água? — ele me perguntou e eu aceitei.
Ele foi na cozinha e eu me sentei no sofá colocando a mão no rosto e me lembrando do que aconteceu mais cedo. Ele voltou com o copo me deu e perguntou:
— Então, qual o motivo de você estar correndo daquele jeito na chuva? — disse me entregando uma toalha.
— Obrigado — eu disse pegando a toalha. — Eu encontrei o meu namorado na cama com outro.
Eu disse com vergonha.
— Nossa, que barra — ele disse sem saber como agir, ou o que falar.
— E sabe qual é o pior? — ele negou com a cabeça. — Era meu melhor amigo.
— Eu não sou muito bom em dar conselhos — ele disse sorrindo sem graça e eu ri logo em seguida. — Mas não fique sofrendo por isso, eu aprendi da pior maneira que temos que seguir em frente.
Ele disse com uma carinha triste que me deixou com vontade de abraçá-lo.
— Mas por quê? — eu perguntei sem entender. — Sua esposa te deixou? — quando eu perguntei ele deu um sorrisinho de lado com os olhos cheios de lágrimas, e logo eu fiquei com vergonha por ter perguntado.
— Meu marido morreu em um acidente de carro à 6 meses atrás — ele disse de cabeça baixa.
— Sinto muito pelo senhor e por ela — quando ele disse isso caiu a ficha do que ele tinha dito. — O senhor disse marido?
— Sim — ele se levantou e pegou um porta retrato que estava em cima do piano de calda que tinha na sala. — David, estávamos juntos há 10 anos, ficamos três meses casados e ele morreu em um acidente de carro.
Quando ele disse isso eu me lembrei o porque dele estar muito tenso dirigindo na chuva.
— Ele que fez a decoração da casa, gostava de tocar piano.
Ele disse com uma olhar triste para o instrumento, mas mesmo assim com um pequeno sorriso no rosto.
— Eu também sei tocar — eu digo com um sorrisinho de lado, me lembrando de quando era criança e meu pai me ensinou a tocar piano. — Ele era muito bonito, e vejo que o amor de vocês era verdadeiro.
— Ainda é — Ele diz pegando o quadro da minha mão e colocando em cima do piano. — Então, toca piano?
Quando ele perguntou isso sentir meu rosto ficar vermelho.
— Não fique com vergonha, toque um pouco pra eu escutar.
— Imagina senhor, eu duvido que toco melhor que seu marido — eu disse olhando pra baixo.
— Mas eu nunca vou saber se você não me mostrar.
Ele diz sorrindo e pega na minha mão, eu sinto uma coisa diferente uma coisa que eu nuca senti quando eu peguei na mão do Marck ou de qualquer outro homem.
Quando me sentei na frente do piano, eu me senti com tinha 8 anos novamente e meu olhos se encheram de lágrimas, eu comecei a tocar uma música que eu sempre gostei e pela primeira vez naquele dia eu me senti bem.
(My Immortal - Evanescence)
Quando eu comecei a tocar eu não conseguir segurar minhas lágrimas e tudo o que aconteceu na minha vida se passou na frente dos meus olhos com em um filme. Enquanto as melodias saiam das teclas do piano eu olhei para o Sr. Marcelo que estava na minha frente assustado e com os olhos cheios de lágrimas, ele me olhava nos olhos e eu senti como se estivesse olhando minha alma e aquilo me fez flutuar e esquecer daquela noite sombria por um momento.
Quando eu parei de tocar eu enxuguei minhas lágrimas e sai do banquinho que ficava na frente do piano, quando eu menos esperava o Sr. Marcelo me deu abraço apertado e senti suas lagrimas no meu ombro, fiquei assustado, porquê eu podia ter feito uma coisa r**m que lembrou o seu amor que se foi tão de repente.
— Essa foi a primeira música que ele aprendeu a tocar quando tinha 14 anos — ele disse me largando e ainda olhando nos meus olhos, era a primeira vez que eu o via sem o óculos e mergulhei em seus olhos verdes. — Obrigado por me proporcionar esse momento.
E me abraçou de novo, eu não sabia explicar, mas eu não queria sair daqueles braços nunca mais. Quando ele me soltou eu o olhei e sem pensar dei um beijo em sua boca, quando ele correspondeu eu me senti em outro mundo, eu me senti seguro.