— Em quanto tempo você chega, babyboy?
— Estou no trânsito agora, mas chego aí em alguns minutos.
Jungkook dizia ao telefone para Jimin no outro lado da linha, enquanto passava o canivete lentamente sobre a bochecha do homem, vendo o sangue frio escorrer lentamente pela pele morta, sujar o objeto com a mesma.
— Te vejo daqui a pouco, Park. — disse, enquanto sorria grande, inconscientemente.
E desligou o telefone.
O casal havia finalmente morrido. E estava realmente surpreso por eles terem sobrevivido mais do que se esperava. Eram, de fato, humanos batalhadores
Já dizia aquela frase: "enquanto houver vida, há esperança".
Ou não.
E ninguém havia dado falta neles, já que ambas as famílias dos dois moravam no interior da Coréia.
Mas nem mesmo os amigos haviam reparado no sumiço, e Jungkook achou aquilo tudo uma bênção, mas ainda estava chateado que eles agora estavam, de fato, mortos.
Seus brinquedinhos haviam quebrado, e como qualquer criança, ele precisaria de novos.
— Meus amigos morreram — suspirou, triste, aprofundando a faca na bochecha do defunto azulado, observando a lâmina atravessar e sumir dentro da bochecha, fazendo muito sangue escorrer da área, já que o homem tinha bochechas tão gordas, que parecia um buldogue, quase espirrando em si. — Eu preciso de novos amigos... É tão sozinho aqui sem eles para gritar de dor, ou implorar por piedade— bufou, com tristeza na voz.
Mesmo que nem pudesse se quer sentir tristeza. Ou amor, ou qualquer outra coisa.
Sua mente era superficial — seus sentimentos também —, e um perigo para a sociedade.
Mas desde que saiu da clínica psiquiatra aos quatorze anos, sendo considerado como "mentalmente estável" pelos médicos da época, acreditou-se piamente estar curado, e de que tinha seus sentimentos de volta, e que poderia amar alguém para ser feliz.
Sua mãe tentara interná-lo novamente aos dezessete. Quando secretamente todos os animais da vizinhança em que moravam estavam morrendo, mas especificadamente, quando ela o viu abrir um gato ao meio, arrancando suas triplas, percebeu que era hora de mandá-lo novamente para um manicômio.
Mas Jungkook já era muito maior que ela, e não hesitou nenhum segundo em ameaçá-la com um facão de corte. E depois disso, fugira de casa, para nunca mais voltar.
Porque na cabeça dele, ela não o entendia. Ninguém o entendia.
Se pôs de pé e foi até a pia da cozinha, ligando a torneira e deixando que a água corrente lavasse a faca afiada, e observou o vermelho lentamente desaparecer do ferro brilhoso, colorir e diluir pelo liquido, escapando por um buraco central.
— É hora de encontrar o Jimin — sorriu para si, guardando a faca minuciosamente afiada no faqueiro.
Lavou as próprias mãos e enxugou-as. Abotoou os botões da sua blusa branca social que estavam abertos devido ao calor daquele dia e calçou suas botas pretas. Deu uma passada de mão pelos cabelos apenas para uniformiza-los e estava pronto.
Saiu do apartamento e sem demora, chegou no prédio vizinho, onde Jimin vivia e morava. O prédio que tão bem conhecia.
Havia mentido sobre o trânsito porque já que estava "hospedado" no prédio vizinho, não poderia chegar muito rápido. Entrou no elevador e apertou no botão para o décimo segundo andar, escorou-se na parede e esperou, enquanto alguma música irritante dos BTS — pelo que reconheceu — tocava baixinho ali dentro.
Yolo yolo yolo, ya. Arght, aquela droga viciava.
Quando chegara, saiu do cubículo móvel e procurou pelo apartamento 301, que Jimin disse na mensagem ser onde morava.
Com passos lentos, tentando prolongar aquele momento, chegou até a porta.
Soltou uma respiração, e deu três batidas seguidas na porta de madeira sofisticada. Já não estava mais tão nervoso quanto antes, estava até mais confiante, embora a ideia de que o veria depois de um mês, mexia um pouco consigo.
Na verdade, no que não estava conseguindo acreditar, era que Jimin havia realmente ligado para ele.
A porta foi aberta em menos de cinco segundos por um Jimin sorridente, e extremante, deslumbrante. Sem maquiagem, vestido de forma casual, com os cabelos um tanto bagunçados.
E imaginou, por um momento, como seria ter aquele Jimin para si, daquele jeito, todos os dias, ao acordar.
— Jungkook. — disse, quando viu o outro parado a sua frente, com as mãos nos bolsos.
— Jimin. — sorriu também.
E ele teria. Mas Jimin nunca mais iria ver uma manhã de sol.