Capítulo 3: Serpente

1128 Palavras
-Calem a boca ! Gritei nervosa enquanto as três tagarelavam na minha cabeça. Não prestei atenção, não percebi o carro da frente parar na cancela do estacionamento, quando me dei conta já tinha batido na traseira dele. Fiquei imóvel segurando o volante com as duas mãos e vendo aquele homem grande e forte esbravejar enquanto dava tapas no capô do meu carro. Nisso elas se calaram... Só a Angel foi capaz de ficar comigo e me ajudar a falar calmamente com aquele homem. -Me desculpa ! Eu me distraí por um momento, não vi que estava tão próximo... Não se preocupa, eu pago tudo. Falei descendo do carro e sentindo meu corpo todo tremer. Quando ele percebeu que era uma mulher quem havia batido no carro dele se acalmou, baixou o tom de voz e me perguntou se eu estava bem... Nesse momento eu reparei na beleza daquele homem alto, corpo atlético e um olhar profundo. Cara a cara com ele, escutei minha voz interna gritar "gostoso" dentro da minha cabeça. Enquanto ele anotava meu contato, eu o admirei e meus pensamentos vaguearam em construir castelos. Ele é ruivo e eu sempre fui louca para ser mãe de uma menina ruiva... Pensei enquanto o analisava detalhadamente. Pronto ! Resolvido o problema da batida... Ele vai mandar consertar, eu vou pagar e acabou. Meu desejo dizia ao contrário, acabei de provocar um acidente, mas eu estava feliz, pois agora ele tem como me achar. Foi só entrar no carro para que a reunião de tagarelas voltassem a se manifestar. Gravei a placa do carro e o cheiro do perfume dele está tão forte na minha lembrança que ainda posso sentí-lo. -Otávio ! O que será que ele faz ? Tava bem vestido, social, blazer de alfaiataria... Mas percebi tatuagens nas mãos, ante braços e no peito, acima da gola da camisa justa o suficiente para marcar os músculos. -Não parecia um executivo com aquelas tatuagens ! Disse a Fernanda colocando suas regras sob um cara que acabamos de conhecer. -Que nada a ver, as pessoas tatuadas podem ser o que quiserem ! Retruquei em voz alta. -Gosto de tatuagens ! Opinou a pequena -Eu gosto é daquele corpo tatuado. Lú mais uma vez dando o ar da graça. Eu tinha mandado um "oi" mas ele não mandou nada de volta. Já havia passado mais de uma hora do contratempo quando ele me ligou, mas de um número fixo. - Natalie ? Aqui é o Otávio, tudo bem ? Estou ligando para perguntar se você se acalmou ? Não consegui nem mandar mensagem antes, estava numa apresentação de escola da minha filha... -Boa noite ! Sim, eu estou bem... Obrigada por perguntar. Você tem uma filha ? Que legal, qual a idade dela ? Perguntei já pensando no fato dele ser casado, ter esposa e filhos. - Tenho sim ! Ela tem cinco anos e se chama Leonora. - Que nome forte ! Lindo. -Para minha sorte eu ganhei no par ou ímpar da mãe dela, senão a coitadinha chamaria Belinda. -Eu acho bonito também. -Significa "serpente". Respondeu -Nossa... Então você está certo em não querer esse nome na sua filha. -Ela é tão doce, tão fofa que em nada combinaria com uma cobra. -Se bem que eu gosto de cobras ! Mas realmente não combina com uma menininha. -Gosta de cobras ? Sério ? Geralmente mulheres tem pavor... -Eu gosto, na verdade não tenho problemas com nenhum dos animais que causam repulsa nas mulheres, exceto por aranhas ! Tenho fobia, pânico... Mas sapos, cobras, ratos e morcegos não me incomodam em nada, acho todos bonitos. -Que diferente ! E interessante. -Me desculpa novamente pelo seu carro... Ainda não acredito que bati em você parado. -Acontece ! Fica tranquila. - O r**m é o transtorno que eu vou fazer você passar... Ficar dias sem carro. -Não me incomoda, o tanto que eu trabalho, acabo usando o carro bem pouco, geralmente uso a viatura. -Viatura ? Você é policial ? -Sim, delegado ! - Eu fiquei pensando em qual profissão você poderia ter, mas não pensei nem de longe em delegado. -Pois é... Sou delegado há oito anos já. -Nunca conheci um delegado... -Agora conhece ! Eu também fiquei me perguntando sua profissão sabia ? Tão impecávelmente vestida e maquiada. -Eu sou diretora financeira de uma rede de farmácias. -Olha só a coincidência.... -Qual ? Perguntei surpresa. -Também nunca conheci uma diretora financeira ! Falou rindo. -Agora conhece ! Respondi com as mesmas palavras dele. -Gostei de conhecer. Respondeu Eu senti meu coração disparar nesse momento. -Eu também gostei de conhecer um delegado ! Respondi repetindo as palavras da Luíza que estavam ecoando dentro de mim. -Desculpa a pergunta e me perdoe se achar invasiva, mas você é casada ? -Não ! Solteira e você ? -Divorciado ! Um alívio tomou conta de mim e ao mesmo tempo me perguntei se era sério que eu estava feliz por ele não ser comprometido. -Tem filhos ? -Não também ! Solteira e sem filhos... Antes eu não queria ter, após completar 30 anos, comecei a considerar a possibilidade de uma produção independente. -Sério ? Não prefere o método tradicional ? -Sim, claro que sim ! Porém eu estou solteira há mais de um ano, então o método tradicional está um pouco fora de cogitação no momento. -Tá nada, só você procurar um candidato direitinho. -Você só tem a Leonora de filha ou tem mais ? -Somente ela, nas pretendo ter mais uma, se Deus quiser ! Quero ser pai da Tamara ainda. -Já tem até o nome ? Que legal... Você tem bom gosto para escolher inclusive. -Gosto desse nome ! Faz mais de dois anos que escolhi... Ainda tava casado e queria uma segunda filha, mas não deu certo. -Porque separou ? Se quiser falar é claro... -Meu trabalho ! Ela alegava muita ausência minha... Agora ela tem outro namorado que trabalha online de casa, e está grávida novamente, segundo a Lelê me contou hoje. -Gosta dela ainda ? -Não mais... Percebi que estávamos a um tempão conversando e que eu já estava invadindo muito a privacidade dele, parei de perguntar sobre a ex. - Bom, eu também já tenho o nome da minha filha pré definido... Quero Maitê. -Se eu fosse o pai da sua filha, iríamos tirar no par ou ímpar também ! Retrucou. -Se você me desse uma filha ruiva, até te deixaria colocar o nome que quisesse. Falei isso no impulso e senti meu rosto queimar... Sorte que não estávamos cara a cara. -Se você me desse essa oportunidade... Podia chamar Maitê mesmo, já gosto até mais do que Tamara ! É impressão minha ou nós estamos flertando ? Pensei e um sorriso enorme enfeitou os meus lábios.
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