Capítulo 4

902 Palavras
O relógio marcava quase meia-noite quando Lara entrou novamente no salão principal do cassino toda imponente. As luzes eram as mesmas, mas o ar parecia diferente — mais forte, carregado de algo que ela não conseguia explicar. Talvez fosse a presença dele. Dante Moretti já estava lá, sentado na mesma mesa da noite anterior. Camisa escura da mesma cor da calça, mangas dobradas, o blazer jogado de lado, o olhar relaxado... mas nada nele era realmente tranquilo. Ele era aquele tipo de homem que parecia no controle até do tudo. E isso a irritava. Porque, por algum motivo, ela também queria ter esse controle — dele. Assim que ela se aproximou, ele levantou o olhar e sorriu, um sorriso que era mais provocação do que gentileza. — Pensei que não voltaria. — Pensei o mesmo sobre você — ela respondeu, sentando-se. — Ah, mas eu nunca fujo de um bom jogo. Especialmente quando o prêmio é bem hummm... interessante. Lara ignorou o tom sugestivo e ajeitou as fichas. — Vamos jogar ou conversar? — Podemos fazer as duas coisas. — Ele se inclinou levemente a cabeça para frente. — Você parece tensa. — É o efeito de ter inimigos por perto. — Ela lançou o olhar cortante e i********e, e Dante arqueou uma sobrancelha, divertido. — Inimigo? Que palavra pesada. Ela apoiou as cartas sobre a mesa, com o olhar fixo no dele. — Eu chamo as coisas pelo nome que elas têm. O silêncio que se seguiu foi quase intenso. Os outros jogadores perceberam a tensão entre os dois, mas fingiram não notar nada. Ali, naquela mesa, só havia Lara e Dante. O resto era ruído. O dealer distribuiu as cartas. Lara manteve o rosto impassível. Cartas boas. Mas Dante não parecia olhar as dele — olhava apenas para ela. — Sabe, Lara — ele começou, com a voz baixa, quase um sussurro. — Você joga bem, mas ainda não entendeu a essência do pôquer. — Que seria? — Não é sobre o que você tem nas mãos. É sobre o que você faz o outro acreditar que você tem. Ela ergueu o queixo, e o olhou desafiadora. — Eu já aprendi isso. E aprendi também que todo blefe tem um preço. Ele riu, um som grave que a fez estremecer. — E está disposta a pagar o seu? Antes que ela respondesse, ele se levantou, deu a volta na mesa e parou atrás dela. Lara sentiu a presença dele — quente, próxima, perigosa. O perfume amadeirado, o toque leve do hálito contra sua nuca. — Você está tremendo — ele murmurou. — Isso pode entregar o jogo. — Não estou — ela respondeu, firme, mesmo que o corpo dissesse o contrário. Dante inclinou-se mais sobre ela. A ponta dos dedos dele roçou de leve o braço dela, apenas um toque. Mas foi o suficiente para que o coração de Lara disparasse. — Está agora — ele disse, com um sorriso quase inaudível. — E isso é o tipo de fraqueza que eu costumo explorar. Lara virou-se de repente, o olhar em chamas. — Se tentar me intimidar, vai se arrepender. Ele a observou, os olhos escurecendo, e por um segundo o jogo pareceu sumir — restando apenas os dois, envoltos em uma tensão impossível de disfarçar. — Eu não quero te intimidar, Rainha de Copas. Quero entender por que uma mulher como você está disposta a apostar a própria alma por algo que não conta a ninguém. Ela hesitou. Mas o orgulho falou mais alto. — Porque algumas dívidas não se pagam com dinheiro. Dante manteve o olhar preso ao dela. Depois, com calma, voltou para o assento e recolheu as cartas. — Então talvez estejamos jogando o mesmo jogo. Só que em lados diferentes da mesa. ++++++++++ Mais tarde, no estacionamento do cassino, Lara caminhava até o carro quando ouviu passos atrás dela. Virou-se rápido — e viu Dante encostado em uma coluna, observando-a. — Me seguindo agora? — ela perguntou, irritada. — Te protegendo. — De quê? — De quem está realmente atrás de você. Ela franziu o cenho. — O que está dizendo? — Que há pessoas neste torneio que não estão aqui apenas pelo prêmio. E uma delas já sabe quem você é de verdade. O silêncio entre eles foi cortante. Lara deu um passo à frente, o olhar afiado. — E por que eu acreditaria em você? Dante se aproximou, devagar, até que a distância entre os dois desapareceu. — Porque se eu quisesse te derrubar, já teria feito isso logo na primeira oportunidade. O ar pareceu desaparecer entre eles. Os olhos dele baixaram para os lábios dela, e por um segundo o mundo inteiro se calou. Mas Lara desviou o rosto, quebrando o feitiço entre eles.. — Boa tentativa, Moretti. — Ela passou por ele e entrou no carro. — Mas eu aprendi a não confiar em homens que jogam bem demais. Dante sorriu, mas o olhar ficou sério quando ela arrancou com o carro. Tirou o celular do bolso e fez uma ligação. — Ela está lá dentro. Mas não sabe com o que está lidando. Uma pausa. — Sim. A filha de Eduardo Monteiro. E do outro lado da linha, uma voz fria respondeu: -Então faça ela lembrar por que o pai dela perdeu tudo. Dante fechou os olhos. E, por um segundo, pareceu alguém dividido entre a lealdade… e o desejo.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR