O relógio marcava quase meia-noite quando Lara entrou novamente no salão principal do cassino toda imponente.
As luzes eram as mesmas, mas o ar parecia diferente — mais forte, carregado de algo que ela não conseguia explicar.
Talvez fosse a presença dele.
Dante Moretti já estava lá, sentado na mesma mesa da noite anterior.
Camisa escura da mesma cor da calça, mangas dobradas, o blazer jogado de lado, o olhar relaxado... mas nada nele era realmente tranquilo.
Ele era aquele tipo de homem que parecia no controle até do tudo.
E isso a irritava.
Porque, por algum motivo, ela também queria ter esse controle — dele.
Assim que ela se aproximou, ele levantou o olhar e sorriu, um sorriso que era mais provocação do que gentileza.
— Pensei que não voltaria.
— Pensei o mesmo sobre você — ela respondeu, sentando-se.
— Ah, mas eu nunca fujo de um bom jogo. Especialmente quando o prêmio é bem hummm... interessante.
Lara ignorou o tom sugestivo e ajeitou as fichas.
— Vamos jogar ou conversar?
— Podemos fazer as duas coisas. — Ele se inclinou levemente a cabeça para frente. — Você parece tensa.
— É o efeito de ter inimigos por perto. — Ela lançou o olhar cortante e i********e, e Dante arqueou uma sobrancelha, divertido.
— Inimigo? Que palavra pesada.
Ela apoiou as cartas sobre a mesa, com o olhar fixo no dele.
— Eu chamo as coisas pelo nome que elas têm.
O silêncio que se seguiu foi quase intenso.
Os outros jogadores perceberam a tensão entre os dois, mas fingiram não notar nada.
Ali, naquela mesa, só havia Lara e Dante. O resto era ruído.
O dealer distribuiu as cartas.
Lara manteve o rosto impassível.
Cartas boas.
Mas Dante não parecia olhar as dele — olhava apenas para ela.
— Sabe, Lara — ele começou, com a voz baixa, quase um sussurro. — Você joga bem, mas ainda não entendeu a essência do pôquer.
— Que seria?
— Não é sobre o que você tem nas mãos. É sobre o que você faz o outro acreditar que você tem.
Ela ergueu o queixo, e o olhou desafiadora.
— Eu já aprendi isso. E aprendi também que todo blefe tem um preço.
Ele riu, um som grave que a fez estremecer.
— E está disposta a pagar o seu?
Antes que ela respondesse, ele se levantou, deu a volta na mesa e parou atrás dela.
Lara sentiu a presença dele — quente, próxima, perigosa.
O perfume amadeirado, o toque leve do hálito contra sua nuca.
— Você está tremendo — ele murmurou. — Isso pode entregar o jogo.
— Não estou — ela respondeu, firme, mesmo que o corpo dissesse o contrário.
Dante inclinou-se mais sobre ela.
A ponta dos dedos dele roçou de leve o braço dela, apenas um toque. Mas foi o suficiente para que o coração de Lara disparasse.
— Está agora — ele disse, com um sorriso quase inaudível. — E isso é o tipo de fraqueza que eu costumo explorar.
Lara virou-se de repente, o olhar em chamas.
— Se tentar me intimidar, vai se arrepender.
Ele a observou, os olhos escurecendo, e por um segundo o jogo pareceu sumir — restando apenas os dois, envoltos em uma tensão impossível de disfarçar.
— Eu não quero te intimidar, Rainha de Copas. Quero entender por que uma mulher como você está disposta a apostar a própria alma por algo que não conta a ninguém.
Ela hesitou.
Mas o orgulho falou mais alto.
— Porque algumas dívidas não se pagam com dinheiro.
Dante manteve o olhar preso ao dela.
Depois, com calma, voltou para o assento e recolheu as cartas.
— Então talvez estejamos jogando o mesmo jogo. Só que em lados diferentes da mesa.
++++++++++
Mais tarde, no estacionamento do cassino, Lara caminhava até o carro quando ouviu passos atrás dela.
Virou-se rápido — e viu Dante encostado em uma coluna, observando-a.
— Me seguindo agora? — ela perguntou, irritada.
— Te protegendo.
— De quê?
— De quem está realmente atrás de você.
Ela franziu o cenho.
— O que está dizendo?
— Que há pessoas neste torneio que não estão aqui apenas pelo prêmio. E uma delas já sabe quem você é de verdade.
O silêncio entre eles foi cortante.
Lara deu um passo à frente, o olhar afiado.
— E por que eu acreditaria em você?
Dante se aproximou, devagar, até que a distância entre os dois desapareceu.
— Porque se eu quisesse te derrubar, já teria feito isso logo na primeira oportunidade.
O ar pareceu desaparecer entre eles.
Os olhos dele baixaram para os lábios dela, e por um segundo o mundo inteiro se calou.
Mas Lara desviou o rosto, quebrando o feitiço entre eles..
— Boa tentativa, Moretti. — Ela passou por ele e entrou no carro. — Mas eu aprendi a não confiar em homens que jogam bem demais.
Dante sorriu, mas o olhar ficou sério quando ela arrancou com o carro.
Tirou o celular do bolso e fez uma ligação.
— Ela está lá dentro. Mas não sabe com o que está lidando.
Uma pausa.
— Sim. A filha de Eduardo Monteiro.
E do outro lado da linha, uma voz fria respondeu:
-Então faça ela lembrar por que o pai dela perdeu tudo.
Dante fechou os olhos.
E, por um segundo, pareceu alguém dividido entre a lealdade… e o desejo.