Duas semanas se passaram, e eles não tocaram mais naquele assunto de contrato, acho muito melhor assim. Só a Polly que vez outra perguntava se eu tinha pensado, mas eu não deixei o assunto esticar.
Estou fazendo uns dia de hora extra, o chefe do setor me pediu, e eu claro não recusei, realmente preciso desse dinheiro extra. É bem mais cansativo, quando chego em casa minha filha já está no ponto de dormir, e acabo não tendo muito tempo com ela. Confesso que isso me faz pensar um pouco no contrato, e no Murilo também, não tive coragem de jogar fora nem rasgar aquele papel. Eu me sinto entre a cruz e a espada, por um lado eu quero aceitar, e por outro meus valores falam mais alto, penso no que meus pais vão pensar, se o Lucas descobrir será um inferno.
Ao sai da empresa, pego meu carro e sigo pra casa, cantando como costumo fazer.
— Ah não acredito, engarrafamento! Que Merda ! — resmungo sozinha.
A fila quilométrica de carros parados, olho para o relógio no celular, fico agoniada pois já está tarde. Enviei uma mensagem para Bia avisando, e uma foto de como estava o trânsito em plena quarta-feira, o nível de estresse estava bem alto.
— Aconteceu uma acidente grave ali na frente, está tudo interditado, é melhor voltar, e ir pela outra avenida, pode ser um caminho mais longo, mas está mais livre! — O guarda de trânsito falou em voz alta, nos informando o que estava acontecendo.
Então eu fiz o que ele disse, voltei e fui pelo outro caminho, esse caminho passava pela matriz, e por dentro de um bairro mais nobre. Passava por bares mais sofisticados, onde só os barões frequentavam. Eu estava igual uma criança admirada com tudo, olhando cada detalhe de dentro do carro, até que um detalhe me chamou atenção, um homem muito bem vestido, sentado sozinho em uma mesa do lado de fora do bar, bebendo aparentemente cabisbaixo, olhar longe. Olhei direito, olhei mais um pouco
— Não acredito, é o Murilo, o que ele faz sozinho ali ?
Lembrei do dia em que quase atropelei ele, estava triste, e queria beber sozinho. Não sei o que deu em mim, parei o carro e estacionei mais a frente.
— Murilo
— Luiza — falou admirado levantando o olhar
— O que faz aqui sozinho?
— Precisava colocar os pensamentos em ordem — sorriu sem humor — e você o que faz por aqui? Esta voltando da empresa? — perguntou com ar de surpresa, olhando a minha roupa formal
— Sim, estou fazendo hora extra esses dias. Na outra via estava tendo um grande engarrafamento, tive que vim por aqui.
— Se tivesse assinado o contrato não precisaria mais nem trabalhar— sorrimos — Senta, toma uma comigo
— Nossa — abri a boca admirada — Quem é você? E o que fez com o Murilo frio? — ele sorriu
— Eu não sou frio— tentou se defender — Sério Luiza, a vida, as lapadas da vida, o trabalho as vezes faz a gente se perder, esquecer que a vida não é só obrigações. Por muito tempo minha vida se resumiu apenas a trabalho.
— Nós temos que saber dosar, tudo que é demais não faz bem. O nosso corpo, a nossa mente precisam de descanso. Eu trabalho a semana inteira, mas no final de semana, eu tiro pra mim, quando minha filha está comigo sempre faço algo diferente com ela, mesmo que em casa.
— Quantos anos sua filha tem?
— Tem 4 anos
— bem pequena ainda
— Sim sim
— Luiza, eu tenho que me desculpar com a forma que tratei você aquele dia. Eu falei para a Bárbara e o Renan que você não aceitaria. Que isso é uma grande loucura. Eu entendo que eles estão fazendo isso para me ajudar, mas eu já estou me conformando que esse negócio não vai acontecer.
— É muito importante para você né ?
— A Bárbara exagerou quando falou que a empresa anda m*l — sorrimos — mas eu me dediquei tanto a esse projeto, abdiquei de muita coisa, estudei muito, praticamente morei na empresa pra prepara tudo pra fechar esse negócio. Talvez por isso a Gisele fez o que fez comigo. Eu não saía com ela, não jantava em casa, não dei assistência nenhuma, minha dedicação foi extrema, por isso a frustração tem sido tão grande.
— E essa negação do empresário é por causa de uma besteira, eu entendo, também sofreria assim.
— Não tem sido fácil para mim, mas tenho que aceitar
— Você deve ser um mimadinho que tem tudo que quer — o provoquei
— Não sou mimado — fez um bico lindo, meus olhos brilharam
— Murilo, e se por acaso eu aceitasse, assim por pena da sua triste história…
— Você não faria isso, é contra seus valores — provocou — uma mulher tão honesta — sorrimos
— Você precisa mais de mim do que eu de você! Não me testa — fingi que ia levantar
— Tô brincando Lu! Fica, tua companhia é agradável — nossos olhares se encontraram, mas eu disfarcei e abaixei os olhos
— Então, eu tenho que ir já está tarde, quero está em casa antes da minha princesa dormir. Mas assim, amanhã eu passo na empresa e nós conversamos sobre o contrato
— Sério? Você vai aceitar ? — apenas acenei positivo, envergonhada — Luiza, você é perfeita — ele levantou me pegou no colo e me girou empolgado
Quando ele percebeu o que estava fazendo me desceu sem graça.
— obrigado Luiza, de verdade.
— Então até amanhã! — dei a última golada da cerveja — não demora a ir pra casa viu— pisquei, e dei um beijo em sua bochecha — tchau Murilo
— tchau futura esposa — sorrimos
Sai andando, dei uma olhada para trás, ele estava com mesmo sorriso lindo, que sorriso, sem nenhum defeito.
Entrei no carro e segui para casa em êxtase, a Bia e Polly não vão acreditar nisso que aconteceu aqui.