Milena narrando
— É claro que não — respondi, tentando disfarçar o incômodo — Só achei que ficaria com a Claudia e o GB...
— A casa deles é pequena. Não tem nem quarto de hóspede — ele explicou com um tom prático — Eles moram duas casas abaixo. Aqui é minha casa, mas quem mora comigo é minha irmã, Juliana. Cês vão se dar bem.
Assenti, meio sem saber o que pensar.
— Entendi... obrigada pela ajuda.
— Como eu disse, tô fazendo isso porque devo uma pro GB. E, bom... — ele me olhou de cima a baixo com um meio sorriso — sempre é bom ter mulher bonita em casa.
O encarei, sem saber se respondia ou ignorava.
— Relaxa, ruiva — ele completou, rindo com deboche.
Entramos na casa. Era bem arrumada, bonita até demais pra quem mora “na correria”. E, assim que cruzamos a sala, uma garota loira apareceu com um sorriso simpático.
— Juliana — DC chamou — essa é a Milena. Amiga da Claudia.
— Oi, Milena! — ela me cumprimentou com leveza. — E essa princesa?
— Essa é a Gabi — respondi, sorrindo ao ver minha filha ainda dormindo quando ele a colocou devagarinho no sofá.
— Vou te mostrar o quarto. Vocês devem estar mortas de cansaço — Juliana disse, com aquele jeitinho acolhedor.
— Fica à vontade aí — DC falou, já indo em direção à porta — Tô descendo pra boca. Qualquer coisa é só gritar, ruiva.
Ele piscou pra mim com um olho só, como se fosse engraçado, e saiu. Eu respirei aliviada. A presença dele me deixava em alerta o tempo todo.
— Obrigada por tudo, Juliana — falei sincera, enquanto ela pegava uma das mochilas.
— Deixa que eu te ajudo com essas coisas — ela disse, sorrindo. — A viagem foi longa?
— Um pouco... — respondi, sentindo o peso no corpo e na alma.
— Aqui é o quarto de vocês — ela abriu a porta e sorriu — Escolhi o maior. Vocês merecem conforto depois de tudo.
— Nossa... ele é enorme. É lindo! — falei, surpresa de verdade. — Obrigada, de coração. A gente vai ficar muito bem aqui.
— Qualquer coisa, tô lá embaixo. Vai ser bom ter companhia nessa casa. Eu vivo sozinha aqui.
— Já tô vendo que a gente vai virar amigas — brinquei.
— Espero que a Claudia não fique com ciúmes — ela riu.
— Claudia? Ciúmes? Acho que não... — dei uma risadinha também, sentindo pela primeira vez um pequeno calor no peito.
Ela se despediu e eu aproveitei pra colocar meu celular pra carregar. Ainda precisava dar notícias pra Claudia, avisar que chegamos bem. Mas o cansaço foi maior. Me joguei na cama e, antes que pudesse pensar em qualquer coisa, apaguei.
Acordei com um pulo. O lado da cama estava vazio.
— Gabi? — chamei, assustada.
Desci correndo as escadas e, pra meu alívio, encontrei as duas na cozinha.
— Oi, mamãe! — Gabi sorriu, segurando um copinho de suco.
— Que susto, meu Deus... — falei, levando a mão ao peito.
— Ela acordou e desceu — Juliana explicou com calma — Você tava tão cansada, achei melhor não te acordar. Tá com fome?
— Tô sim... obrigada, de verdade.
— Senta aqui. Come um pedaço de bolo que minha vó deixou mais cedo. Ela passou por aqui, mas a Gabi ainda tava dormindo.
Sentei com elas. O bolo tava uma delícia. Aquele momento de calma, de café com conversa leve, parecia tão distante da confusão que tinha sido minha vida nos últimos dias. Por um instante, eu quase esqueci que tava fugindo.
Mas aí DC apareceu na porta da cozinha, com o semblante sério.
— Milena, posso falar com você um instante?
O coração disparou.
Assenti devagar, me levantando.
Enquanto caminhava até ele, mil coisas passaram pela minha cabeça. Será que ele ia mandar a gente embora? Será que Thiago tinha descoberto? Será que... será que a minha chance de recomeçar tava escapando por entre os dedos?