Arado

2101 Palavras
Capítulo-IV. Arado "Na terra do teu coração, passei o arado do amor e recebi os frutos da desilusão. As sementes não germinaram, porque o vento desfez as nuvens de chuva, restando apenas o sofrimento deste que vos fala." Cícero Era um dia escaldante, onde o vento quente levantava uma fina camada de poeira e o canto das cigarras ecoava do tronco de uma árvore seca. Eu havia voltado mais cedo da trabalho, pois durante a madrugada as vacas havia derrubado parte da cerca dos fundos. Como conseguiram essa proeza eu não sei, mas elas fizeram. Quando fui ordenha as bonitas, não achei ninguém, ti ve que montar em Soluço e partir para campear atrás das fujonas. O estrago foi daquele, precisarei de ajuda para reinstalar os mourões que ficaram frouxos. Demorou mais consegui reunir as vacas, levei-as para um pasto cuja as cercas tem uma corrente de energia para espantar as bonitas caso queiram bancar as fujonas outra vez. Retornei para casa por volta das sete horas, doido por um banho. Assim que entrei Marrynna ainda dormia, aquela mulher tinha e tem o sono de pedra, a casa pode cair que ela não acorda. Peguei as roupas me meu quarto e segui para o banheiro, fechei a porta me despir e mergulhei debaixo da água, Lavando o meu corpo retirando a camada fina do suor. Estava pensando em Rafaela, uma morena que andava me enviando algumas mensagens picantes que fazia meu corpo tremer. A necessidade de sentir o cheiro de uma fêmea e de colar meu corpo com o de uma mulher era grande. Terminei o banho puxei a cortina de plástico que faz a divisão entre a área do chuveiro e a do vaso sanitário e foi grito para dar e vender. Marrynna gritava e eu também, ela estava abaixando a calça do pijama que usava e eu pelado. _ Que p***a é essa? Que p***a é essa?- gritei puxando a toalha para cobrir a linha abaixo da minha cintura. _ Você está nú! Está pelado, peladinho, sem nada, nadica de nada! - gritou virando-se de costas. _ Estava tomando banho! Não se toma banho de roupas e...como conseguiu abrir a porta?- estava muito nervosos não conseguia enrolar a toalha na cintura, meu sangue corria mais quente e meu rosto estava pegando fogo, ardia feito o inferno. _ Como abri, com as mãos, ora essa! Com os pés que não iria ser!- a mulher também levantou as calças apressada, uma parte da alça da calcinha vermelha ficou fazendo um contraste com a pele branca e cheia de sardas pequenas, pareciam mais pequenos carrapatos. _ Diacho! Perguntei como porque eu fechei com chave. - falei passando perto da mulher, esbarrando em seu corpo, uma das minhas mãos segurava a toalha para não cair e com a outra fui testar a fechadura. _ Capaz! Está escangalhada! - bufei e vi a mulher me espiar por entre os dedos. _ Está coberto, ainda bem. - olhei para o rosto de Marrynna que estava mais vermelho que os fios ruivos que tem na cabeça. _ A porta está com a fechadura r**m. - falei sem graça. A mulher me olhou de cima em baixo e virou o rosto. _ O que por aqui não está escangalhado? Ela saiu pisando duro e eu me segurei para não lhe dar aquela resposta. Fechei a porta com baque e travei os dentes. Terminei de me trocar, sai do banheiro bem a tempo de ouvir a mulher soltar algumas palavras em sua língua Natal. Corri para a cozinha, quando cheguei o fogo lambia a frigideira. _ Apaga! Apaga, Cícero! - gritava com uma pano de prato em mãos. _ O que você tentou fazer? - perguntei correndo até a pia é molhando uma toalha de prato e jogando por cima do fogo. _ Fui tentar flambar a salsichas. - perguntou se apoiando em mim e estocando o pescoço em direção ao fogão- Será que apagou mesmo? - indagou olhando para a frigideira como se ela fosse um monstro. _ Apagou, Marrynna. - me afastei puto com a mulher - p***a! Você tem que ter cuidado, fogo não é brincadeira, e se eu não estivesse aqui, como iria fazer? Deixaria a casa queimar? Ela me olhou com raiva, eu não estava tendo um início de dia muito bom, estava num sequencia de acontecimentos muito chatos e que vinha minando o meu humor e paciência. Respirei profundamente, colocando as mãos na cintura. _ Não tente fazer nada que não tenha feito antes, estando sozinha. É perigoso como você acabou de ver. _ Não tenho culpa se meus pais me criaram de uma maneira diferente! - jogou o pano de prato em cima da mesa e saiu bicuda. Olhei para o chão de piso vermelho, estava pensativo. Decidi ir trabalhar, achei que seria o melhor para aliviar a tensão e o meu nervosismo. " Essa mulher está me colocando louco." Pensei em levá-la para a casa dos meus pais, conversar com os meus coroas e pedir uma ajuda. No entanto, não considerei justo empurrar o problema para os dois que querem desfrutar de uma velhice de paz. Montei na moto e disparei para a fazenda do Senhor Florian. Fui tratar dos cavalos, trocar as ferraduras, escova- los e por último fazer a lista que do que estava em falta, tanto da ração quanto da medicação. Na hora do almoço retornei para casa, não quis almoçar na fazenda e isso chamou atenção de alguns colegas de trabalho. _ O que foi, arrumou uma prenda que está fazendo aquele frango caipira com quiabo para você? - Jorge perguntou rindo. _ Nada, ela deve estar preparando um torresmo no capricho para comer com aquela pinga. - Aluísio se intrometeu. Sorri, com a falácia dos dois. _ Nem uma coisa e nem outra, as vacas arrebentaram a cerca e preciso arrumar. - não menti, mas também não revelei para os dois que a mulher que está em minha casa só me traz dor de cabeça. Acelerei a moto e parti, com o estômago roncando e a pele grudando de suor. Assim que me aproximei da casa, Marrynna estava na varanda, vestia um vestido florido de tecido fino, a ruiva estava folheando uma livro. Ao ouvir o barulho do motor da moto, ergue os olhos. _ Chegou cedo, veio conferir se não mastiguei um pedacinho da sua casa?- foi sarcástica. _ Tenho serviço aqui para fazer, aproveitei o horário do almoço. - desci da moto entrei em casa depois de retirar as botas, fui ao banheiro lavei as mãos e o rosto, depois segui para a cozinha, a pia estava daquele jeito, o chão cheio de farelo de pão. Não suportei, estava passando da conta. _ Marrynna, vem aqui!- berrei mesmo e cheio de raiva. A ruiva apareceu branca igual uma folha de papel. _ O que foi?- perguntou arregalando os olhos. _ Limpa essa bagunça! Não é porque eu tive piedade de você e te trouxe para dentro da minha casa que serei o seu empregado! Chega! Tudo tem limites! Sujou limpa, bagunçou arruma, a regra é simples. Aqui você não está na sua casa ou na casa do senhor Florian, onde há vários funcionários para organizar o que você não tem coragem de fazer. _ É, e no que você quer me transformar em sua serviçal? - foi ignorante. _ Não. Quero que tenha consciência, menina, apenas isso! Você não é nada minha, está aqui de graça e o mínimo que pode fazer é manter tudo como encontrou. _ Está jogando na minha cara, Cícero? _ Não, estou te trazendo para a realidade que você ignora. _ Você é um grosso! _ E você uma m*l educada! _ Seu matuto sem eira nem beira! _ Olha bem se sou eu mesmo que estou dependendo de alguém por aqui. A ruiva travou os dentes. _ Eu vou embora, seu, seu, seu, arrogante! _ Fique à vontade. - fiz menção com a mão para a porta da sala. A mulher se afundou para o banheiro, não demorou e retornou com o queixo erguido. _ Você quer se livrar de mim, mas não vai! Eu encaro a merda dessa louça, vou acabar com as minhas unhas, mas lavo. Ela sabia que não teria para onde ir e passaria até fome nas ruas, não tem disposição de fazer nada. Sentei à mesa fazendo um lanche com pão e queijo, tomei um gole de café da garrafa e fui até o quartinho de ferramentas, pegar o material necessário para arrumar a cerca. Marrynna brigava com a louça, com a esponja e com o detergente. Deixei tudo o que necessito perto da porta da cozinha, entro e vou escovar os dentes. Aproveito para marcar um encontro com Rafaela, preciso muito dá aquela namorada gostosa, sentir a cabeça do p*u sendo esmagada e lubrificada enquanto a mulher goza. Só de pensar minha boca enche de água. Deixo o banheiro, com uma sensação boa no corpo, porque Rafaela aceitou o encontro que ocorrerá hoje depois da faculdade. Chego na cozinha, Marrynna está terminando de lavar a louça. — Ei, você pode me dar uma mão com a cerca? Só preciso que segure as estacas enquanto eu soco a terra para poder firma-las no lugar. Ela olhou por cima do ombro e fez uma careta. — Eu? Ajudar com cerca? — Isso mesmo. É tranquilo. Não vai estragar sua roupa Ela jogou a esponja dentro da pia e soltou aquele tom que me irritava: — Sabe o que mais me incomoda aqui? Essa ideia de que tudo é fácil. Que tudo pode ser resolvido com boa vontade e um pouco de barro nas mãos. Olhando para esse excesso de verde, ouvindo os sons desses bichos chatos. Por que que as galinhas precisam gritar quando estão colocando ovos? Por que escuto as vacas mugindo quase o tempo todo? É de enlouquecer! Cruzei os braços. — Marrynna aqui é roça, o que vai ouvir e ver é barulho de bicho e mato. E sim, as coisas são mais simples por aqui do que em qualquer cidade grande. — Não! — disse, de repente — Não é ! Isso pode ser bonito pra você. Mas eu fui criada pra outra coisa! Sou filha de um homem culto e de uma mulhe rrefinada! Estudei em escola francesa, fui criada com babá e governanta! Não nasci pra viver numa casa perdida dentro dos matos, onde a pia é minuscula e a internet falha! Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Fiquei parado sem saber se ria ou gritava. — Então por que ainda está aqui, hein? Se essa vida é tão abaixo do seu nível? Ela avançou um passo, o rosto vermelho de raiva. — Porque não tenho pra onde ir! Fui chutada, traída, humilhada! E, por mais que esse lugar me irrite, foi o único que me acolheu! Você foi a única pessoa que me estendeu a mão! Mas não venha me cobrar gratidão como se isso fosse um favor que eu devesse pagar abaixando a cabeça! Foi a minha vez de perder a paciência. — Eu não te pedi gratidão, mulher! Só pedi ajuda! Aqui, nesse lugar, todo mundo se esforça, porque ninguém é melhor que ninguém! Mas você... você anda pela casa como se fosse uma rainha caída, esperando que alguém te reconstrua! Aqui, Dona, a gente se reconstrói sozinho! — Eu não sou feita desse barro duro que você é! — ela gritou, os olhos brilhando de lágrimas. — Você acha que é melhor que eu porque suporta tudo calado! Mas sabe o que você é, Cícero?Um pobre coitado, um ninguém que não faz falta e muito menos diferença no mundo! Que se esconde atrás da simplicidade porque tem medo de ser rejeitado se tentar voar mais alto! Por isso se contenta com pouco, com migalhas e vive como se sua vida fosse perfeita. Acorda, Cícero! O silêncio que se seguiu foi mais doloroso que o grito. Ficamos parados, ofegantes, como se tivéssemos lutado fisicamente. — Você não me conhece, Marrynna — falei em um sussurro, quase rouco. — Não faz ideia do quanto lutei para estar aqui. Do caminho longo que percorri. Da minha luta para manter todo dia esse rancho de pé. Mas se você acha que sou um infeliz porque escolhi a paz em vez do caos... então talvez você nunca entenda nada sobre mim. Ela mordeu o lábio, desviou o olhar e, em vez de retrucar, foi para a sala, sentou no sofá. Sai pela porta batendo a madeira abruptamente. Tinha raiva dentro de mim, muita raiva.
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