Matheus nos trouxe para comer no nosso restaurante favorito. Sorrio imediatamente quando atravessamos a porta e o cheiro de torresmo de porco chega às minhas narinas. Deus abençoe o torresmo de porco. Amém.
Caminhamos juntos até a mesa de sempre e sentamo-nos um de frente para o outro.
— Como vai, Betty? Cumprimenta meu pai, e Betty sorri para ele com carinho. Betty é a dona do lugar e a nossa pessoa favorita da cidade, porque quando sobra alguma coisa, ela sempre leva para nossa casa e jantamos delicioso graças a ela.
— Muito bem, meu amor. E vocês? Cada vez você fica mais linda, minha menina. Ela me elogia, beliscando a minha bochecha. Evito enrugar o rosto e apenas sorrio.
— Bem, Betty. Pode nos trazer o de sempre, por favor. Pede o meu pai e a Betty assente, afastando-se para entrar na cozinha. — Como foi seu dia? Ele pergunta.
— Bem. A senhora Noris é muito boa em nos deixar trabalhar às três quando não é necessário tanto pessoal naquele café. Admito e ele ri, aceitando a cerveja que Betty deposita em frente a ele na mesa. — Obrigado. Digo a Betty e pego a Coca-Cola para beber igual a Matheus, acomodando-me no assento.
— Faltam apenas mais alguns meses para que o seu ano sabático termine e você possa ir estudar na universidade. Já pensou no que vai estudar? Ele pergunta, mas noto o timbre na voz dela, essa mudança. Na cidade não há universidades, teria que ir para a cidade para poder estudar. Seriam três anos fora de casa. Longe dele e das pessoas que conheço.
— Ainda não sei se vou estudar algo fora. Admito, me escondendo atrás do meu cabelo enquanto tomo da minha garrafa.
— Querida. Adverte. Suspiro fundo.
— Você ficaria com uma garota mais nova que você? Solto de repente e ele começa a tossir, engasgando com a cerveja. Abro os olhos e me levanto, movendo-me para dar tapinhas nas costas dele até que ele se recupere e eu volte para o meu lugar. Não consigo levantar a cabeça quando ele me pede para fazê-lo.
— Querida, olha para mim. Insiste. Mordo o meu lábio inferior e faço isso. Os seus olhos me olham entre confusos e surpresos. — Que tipo de pergunta é essa? Ele questiona. Pego ar, mas não devo responder porque Betty chega até nós, depositando dois pratos com bastante torresmo de porco, limão e arroz.
Agradecemos e ela se retira, acariciando o meu cabelo.
— Amor. Adverte novamente Matheus.
— Só quero saber. Você nunca leva ninguém para casa, não sei se depois da mamãe você esteve com alguém, mas caso não saiba, todas as garotas que estudaram comigo querem você. Me pergunto se você se interessaria por uma garota mais nova que você. Sussurro, não querendo dizer a verdade de que as que querem ficar ele são justamente minhas amigas.
Presto atenção nele quando ele saboreia os lábios.
— Não estaria com nenhuma das tuas amigas, Babi. Ele declara. Suspiro fundo.
— Por quê? Insisto e ele grunhe.
— É sério? Ele replica. Dou de ombros e ele bufa. — Porque sou muito grande para elas, Babi. Porque vocês devem estar com garotos da idade de vocês, não com um homem vinte e dois anos mais velho. Ele sentencia.
— São apenas números, garanto que nenhuma delas se importa. Além disso, os garotos da nossa idade não sabem pegar. Admito, mas quando ele me olha surpreso, eu coroo imediatamente de vergonha.
— Na sua idade, eu já sabia pegar. Ele declara, muito seguro de si. Essa confissão me tira o fôlego, então pisco e ele suspira. — Só coma e procure não se juntar com aquelas meninas que enchem a sua cabeça de coisas loucas. Ele sugere.
— Não é tão louco desejar um homem mais velho, papai. Asseguro.
— É m*al, Babi. Sem mencionar que parece que as suas ex-amigas, o homem mais velho que elas querem é seu pai. Ele acrescenta.
— Padrasto. Esclareço e ele me olha m*al. Me mexo desconfortável. — Não me olhe assim, é o que elas sempre dizem quando eu lembro quem você é. Me defendo. Ne*ga com a cabeça, pegando o seu torresmo para espremer limão por cima.
— Elas devem ter as suas próprias experiências, Babi. Não podem desejar um homem mais velho. Não está certo.
— Mas você não respondeu. Murmurei, não conseguindo ficar calada.
— Eu te disse que não ficaria com nenhuma delas. Ele reforça. Revirei os olhos.
— A minha pergunta foi se você estaria com uma garota mais nova que você, não se você estaria com as minhas amigas. Lembro-o. Ele grunhe e eu sorrio inocentemente.
— Não, querida, eu não ficaria com nenhuma garota mais nova que eu. Contente?
— E se, por exemplo, a Paula fosse um pouco mais velha, você estaria com ela? Insisto, porque a Paula faz anos no próximo sábado.
A que está mais longe é a Fernanda, que ainda tem dois meses e meio para o aniversário.
— Não. Ele responde muito seguro. Sorrio porque era isso que eu queria ouvir. Eu sabia que ele jamais se meteria com minhas amigas. Eu sabia.
— De acordo, obrigado. Murmuro e agora, sim, me dedico a comer o meu delicioso torresmo.
O resto da refeição é silencioso. Nunca comemos em silêncio, mas depois das minhas perguntas, já me dá vergonha falar com ele. E suponho que ele está me deixando viver a minha vergonha em silêncio, porque também não me tirou assunto de conversa. Ao final, ele cancela o pedido de Betty e ela nos dá um pouco mais de torresmo para levar para casa.
Ao chegar na moto, Matheus ajeita o capacete e olha nos meus olhos. Nos olhamos por muito tempo, tanto, que começo a ficar nervosa com o olhar dele. Não sei muito bem o que me transmite, mas é muito intensa. Depois, ele só abaixa a viseira, suspirando fundo e me ajuda a subir atrás. Ele coloca o seu próprio capacete e sobe com cuidado na frente para dar a partida.
Estou com ele praticamente a vida toda, começou com a minha mãe quando eu tinha três anos e ela morreu três anos depois, então, estou com Matheus há mais tempo do que com qualquer outro parente meu, porque a família da minha mãe mudou-se após a morte dela e a de Matheus não mora perto, embora nos visite de vez em quando. Viajei com ele na moto muitas vezes, mas agora que estou abraçada ao corpo dele por trás, sinto-me diferente.
Acho que realmente o deixei desconfortável com as minhas palavras e isso também me deixa desconfortável. Sem mencionar, é claro, o fato de que as palavras das garotas ainda estão gravadas na minha cabeça e a lembrança dos meus pensamentos está me deixando louca.
Não consigo mais imaginar o Matheus tra*nsando com minhas amigas.