Christopher
Acordei com o barulho do despertador pela manhã, tomei banho e fui arrumar minha mochila para ir à escola. Acabei encontrando um álbum de fotos de quando era criança e comecei a olhar. Em uma das fotos eu estava acompanhado de Danna. Nós devíamos ter uns 10 anos ali.
— Distraído? — ouvi a voz de minha mãe à porta.
— Ah, oi mãe! Achei esse álbum antigo e estava dando uma olhada.
— Eu adoro essa foto. — falou sorrindo pegando o álbum nas mãos. — Sabe que eu sempre achei que vocês iriam namorar?
— Mas por que? — franzi a testa.
— Vocês não se desgrudavam e eu lembro bem que você me dizia que gostava dela.
— Ah, é verdade, eu nem lembrava disso. — falei rindo. — A Danna vai tirar muito sarro da minha cara quando eu contar isso pra ela.
— Bom, eu ainda acho que um dia vocês vão ficar juntos.
— Mãe, não viaja!
— Você ainda vai dizer que eu avisei. Agora vai tomar café da manhã logo pra não se atrasar. — ela beijou minha testa e saiu. Guardei as fotos e desci as escadas. Ana já estava na mesa comendo, eu sentei ao seu lado.
— Aproveita bem o teu último dia de vida. — falou.
— O que? — franzi a testa.
— Becky soube que você e Danna andaram olhando o pôr do sol lá no penhasco onde vocês se pegam. — respirei fundo.
—E o que tem demais nisso?
— Ela odeia a Danna.
— Ela nunca disse que odeia a Danna.
— Não disse pra você. — deu de ombros. — Enfim, boa sorte. — ela se levantou e eu pude ouvir ela sair de carro com Christian.
Terminei meu café da manhã e saí de casa. Danna já estava me esperando. Nos abraçamos, depois entramos em meu carro para ir até o colégio.
— Encontrei algumas fotos nossas de quando éramos crianças.
— Sério? Depois eu quero dar uma olhada.
— Sabe uma coisa louca que eu acabei lembrando? Eu era apaixonado por você. — dei risada e estranhei quando vi que ela ficou boquiaberta. — O que foi?
— Tá zoando com a minha cara?
— Não. — ri. — Tem algum problema nisso?
— Por que você não me contou?
— Tipo, na época? — ela assentiu. — Porque a gente tinha dez anos. — dei de ombros. Ela ficou realmente muito estranha. — Te contei isso pra você rir, não pra ficar com cara de enterro.
— Não tô com cara nenhuma, só não vejo motivo pra achar graça. — falou como se estivesse ofendida.
— Uou... Relaxa.
— Por acaso é engraçado alguém se apaixonar por mim?
— Eu não disse isso.
— Deve ser porque ninguém nunca se apaixona por mim, deve ter algum problema comigo. — bufou.
— Não tem problema nenhum com você. E sinceramente, aposto que tem vários caras que dariam tudo pra sair com você.
— Anrram. — falou com ironia.
— Você tá bem? — ela esfregou os olhos e suspirou.
— Tô, desculpa pelo estresse, deve ser TPM.
— Ah bom, achei que eu tinha feito algo errado.
— Posso fazer uma pergunta?
— Pode.
— Por que deixou de gostar de mim?
— Não sei, talvez o tempo só tenha passado e eu vi que não era pra ser. Bem, eu era criança.
— Ok...
Não falamos mais sobre o assunto até chegarmos ao colégio. Danna foi direto pra sala de aula e eu fiquei conversando no corredor com Christian.
— Por que ela tá com essa cara de poucos amigos? — perguntou ele referindo-se a Danna.
— Ela disse que era TPM, mas ficou assim depois que falei que já fui apaixonado por ela.
— Já foi? — perguntou surpreso.
— Nós éramos crianças. — dei de ombros.
— E ela ficou nervosinha por causa disso?
— Mulher é tudo doida, não é? — ri.
— Sei não... sabe, sempre achei que ela gosta de você.
— Que?
— Eu costumo reparar nessas coisas e tá bem na cara que ela é amarradinha em você.
— Você deve estar confundido as coisas por nós sermos muito amigos.
— Escuta o que eu tô dizendo, eu sei das coisas.
— Você ACHA que sabe. — dei risada.
— Pensa só, ela nunca pegou ninguém na vida dela e odeia toda garota com quem você fica.
— É ciúme de irmã. — dei de ombros. — Quanto aos caras, Danna é bem reservada e eu acho até melhor que ela seja seletiva, poucos homens valem a pena.
— Ou ela só tem olhos pra você.
— Deixa de ideia errada. — dei um leve tapa em sua cabeça.
— Então, será que ela aceitaria sair comigo?
— Como é que é? — arqueei a sobrancelha.
— Sempre achei a Danna muito bonita, além de que ela é super inteligente também e você vive dizendo o quanto ela é legal e interessante...
— Ou talvez você só queira colocar ela na sua lista. — falei com ironia.
— Qual é, irmãozinho! Juro que com a Danna será diferente, eu não machucaria alguém que é importante pra você. — sorriu.
— Eu vou pensar no seu caso.
— Valeu! — deu um leve tapa em meu ombro. — Vish... — falou olhando atrás de mim. Quando virei para ver o que era, Becky vinha andando na nossa direção. — Boa sorte, irmãozinho! — Christian se retirou.
— Oi, meu amor! — fui para beija-la, mas ela desviou.
— Que tipo de desculpa esfarrapada você vai me dar?? — perguntou com raiva.
— Como assim?
— Você saiu do colégio pra ficar com ela no nosso local de encontro!! Como você tem coragem??
— Quem te contou?
— Não interessa! E por que se preocupa? Por acaso não era pra eu saber?
— Eu não estava fazendo nada de errado.
— Se não estava, por que foi sem avisar??
— Porque eu sabia que você ia dar chilique!
— Muito bom ver que você faz as coisas pelas minhas costas!
— Meu Deus, Becky...
— Você deveria se envergonhar de levar ela no mesmo local que me leva!
— Me envergonhar, por quê? Por acaso ela é minha amante? Ela é só minha amiga e eu já tinha ido com ela lá várias vezes antes de conhecer você.
— Então deve ser por isso que ela é apaixonada por você!
— O que?? Tá ficando doida?
— Acho que doido é você que é o único cego que não percebeu que essa garota gosta de você!
— Você cismou com ela sem motivo nenhum e tá criando paranoia na sua cabeça.
— Mais cedo ou mais tarde você vai ver que eu tenho razão. — respirei fundo. — Ainda estou esperando você me pedir desculpas.
— Como a Danna disse ontem: eu não vou pedir desculpas porque não sinto que fiz algo de errado.
— Você sempre vai ficar do lado dela, não é?
— Engraçado você dizer isso, porque ela acha que eu sempre vou ficar do seu lado.
— Cansei de fingir que gosto dela...
— Nunca te obriguei a fingir nada. — dei de ombros. — Enfim, melhor a gente entrar pra não perder aula. — ela entrou na sala de aula e percebi que sentou bem longe de onde costuma sentar, ao meu lado. Sentei ao lado de Christian.
— Já vi que a conversa não foi legal. — disse ele.
— Por que a Becky tem que ser tão possessiva?
— Não sei porque você ainda não terminou com ela.
— Cara, eu gosto dela.
— Mas não ama, ou ama?
— Ah... — eu não sabia o que dizer. — Eu nunca parei pra pensar nisso.
— É, realmente seria melhor terminar.
Não respondi mais nada e fiquei pensando no que ele havia dito. Será que valia a pena continuar com ela mesmo não tendo total certeza do meu amor?
Na hora do intervalo, eu fui até o refeitório e vi Danna sozinha lendo um livro em uma das mesas. Fui até lá e sentei ao seu lado. Ela fechou o livro e sorriu.
— Sozinha? — perguntei.
— Zora precisou ir no médico e Afonso estava com preguiça demais pra vir à escola. — riu.
— Então vou te fazer companhia.
— O que aconteceu entre você e Becky?
— Tá tão na cara assim?
— Vocês sentaram longe na sala de aula e bem... acho que seria mais fácil você me chamar pra sentar na mesa de vocês do que vir sentar sozinho comigo.
— Ela não gostou de saber que eu te levei até o penhasco, porque é lá que a gente fica às vezes.
— Ah... — desviou o olhar. — Mas a briga foi séria?
— Sinceramente? Eu não sei se eu consigo mais conviver com ela. Ela não gosta de você, isso me incomoda. E hoje o Christian me perguntou se eu a amava e eu não soube o que dizer.
— Você não a ama? — ela perguntou aquilo quase sorrindo.
— Ficaria feliz se eu dissesse que "não"? — franzi a testa.
— Ah... eu? — coçou a nuca. — Isso não é da minha conta. — ela pareceu incomodada.
— Tudo bem, eu sei que não gosta dela. Talvez eu tenha uma conversa séria com ela. Enfim... mudando de assunto, eu tenho algo pra te falar.
— Pode falar. — ela abriu a garrafa de água e começou a beber.
— O Christian quer sair com você. — ela engasgou com a água e eu dei alguns tapinhas em suas costas pra ajudar. — Você tá bem? — dei risada.
— O que disse??
— Christian quer sair com você.
— Por que? — ela estava sem acreditar.
— Porque você é bonita e porque eu falo muito bem de você pra ele.
— Eu não vou sair com ele.
— Por que não?
— Ele não faz meu tipo.
— Ninguém faz seu tipo, não é? Porque você não sai com ninguém.
— Qual o problema em não sair com ninguém?
— Nenhum... mas é meio estranho. Por acaso você gosta de alguém? — perguntei lembrando das especulações de Christian e Becky.
— Na..não. — gaguejou.
— Ficou nervosa?
— Ai meu Deus, Christopher! É tão importante assim que eu saia com alguém?
— Só fiz uma pergunta... — falei desconfiado. — Não vai mesmo sair com o Christian? — insisti.
— É que... eu já tô saindo com alguém... — desviou o olhar.
— Que? Quem?
— Afonso!
— E por que não me contou?
— Sabe que eu nunca fiquei com ninguém, não sei como agir...
— Eu sabia que tinha alguma coisa entre vocês! — sorri. — Você gosta dele?
— S..sim.
— Que ótimo! Tô realmente feliz com isso. — ela sorriu sem jeito.
Nós ficamos conversando durante todo o intervalo e depois, fomos para os nossos respectivos clubes.
Estava no campo me aquecendo, quando vi Becky de longe ensaiando com as líderes de torcida. Ela parecia chateada.
Na saída do colégio, após o horário do treino, vi Becky mexendo no celular distraída e me aproximei.
— Tudo bem? — perguntei.
— Ainda se importa?
— Nossa... eu nunca vou deixar de me importar com você. — ela sorriu de lado.
— Foi a coisa mais linda que me disse hoje.
— Eu sei que você esperava isso de mim... então... me desculpa. Eu deveria ter avisado que iria sair com a Danna. Mas não vou pedir desculpas por ter levado ela ao penhasco, porque acho que isso não foi errado.
— Tudo bem... — suspirou. — Eu vou tentar não ficar de birra por causa dela.
— Eu ficaria agradecido. — sorri. Segurei seu queixo e lhe dei um beijo carinhoso.
— Acho que ela tá te esperando pra vocês irem pra casa. — falou apontando na direção onde Danna estava.
— Ok, até mais, amor! — dei um último beijo nela e fui em direção a Danna.
— Se acertaram? — perguntou.
— Não quero estar num clima r**m com ela caso precise conversar sobre o nosso relacionamento. Achei melhor esfriar as coisas.
— Faz bem. — sorriu de lado. — Vamos?
— Vamos.
Assim que cheguei em casa, tomei um banho e vesti uma roupa confortável. Da minha janela, pude ver Danna conversando no celular com alguém enquanto andava de um lado para o outro. Ela nem percebeu que eu estava a olhando.
Liguei meu x-box e coloquei um jogo qualquer, mas não parava de olhar para Danna em seu quarto a cada instante. Eu gostava de observá-la quando estava sozinha, parecia muito mais em paz do que quando está perto de outras pessoas.
Alguns minutos se passaram e eu pude ver Afonso entrar no quarto dela. Eles se abraçaram, sentaram na cama dela e começaram a conversar.
Em um momento, ela olhou para a minha janela e me viu os observando. Deu um tchauzinho e um sorriso com cara de "desculpe", e em seguida, fechou as cortinas.
Por algum motivo, eu não gostei nada daquilo. Talvez ela quisesse ter mais privacidade, já que estava saindo com ele, mas mesmo assim o fato de ela não querer que eu veja significava que os dois iriam ficar num momento de mais i********e e aquilo me incomodava. Talvez seja ciúmes de irmão, algo consideravelmente normal, certo?