Lua

1228 Palavras
Fique bastante chateada com a página arrancada, eu queria muito ler sobre aquela lenda. Já estava imaginando toda uma história folclórica na minha cabeça e precisava saber o que havia acontecido. Tentei achar algo na internet, mas não encontrei nada, apenas um comentário num fórum sobre o livro, uma frase que nenhum tradutor conseguiu traduzir: "Pŕïņ åpø ťīń əïķøşþí phəňğářį āłfhā přēpēî ňæ vřëï mïa éņþøņi ţhīlýķí pĕthäínouň chorís apogónøus." Se eu quisesse decifrar a frase teria de encontrar alguém, algum descendente da tribo. Mas era patético tentar fazer isso, já que eles, provavelmente, moravam mais adentro da mata ou, sei lá. Fiquei pensando no porão, enquanto a noite passava, se fosse como a lenda do livro dizia, os lobos deveriam estar sendo torturados pela Lua nesse exato momento, já que era a primeira noite de Lua cheia. Senti uma pequena ardência na minha marca de nascença durante a noite, além disso, sonhei com os lobos. Mas não era qualquer lobo era um lobo com os olhos de Antony, que me perseguia não importando pra onde eu fugisse. Tentei me esconder atrás dos trocos grossos das árvores na mata, mas não importa onde eu olhasse, ele estava lá, como naquelas salas de espelhos dos parques de diversão. Acordei suada, subi as escadas e saí do porão abafado. Fui até a varanda tomar um ar, pelo visto minha tia se enganou, não havia nenhum vestígio de tufão nem nada, apenas uma camada de gelo que começava a se formar, já que estávamos em Outubro. Imprimi a frase indecifrável e coloquei na minha carteira do celular. Assisti as aulas da segunda-feira, e Antony não apareceu.  De qualquer maneira, eu não estava prestando muita atenção em sua ausência, já que a lenda dos lobos estava consumindo meus pensamentos. Era confuso, porque parecia que quanto mais eu pensava sobre, mais real se tornava na minha cabeça. Terminamos as aulas e fui para casa arrumar a bagunça do porão.  Liguei para Lucy depois do almoço e marcamos de nos encontrar com uns amigos dela numa praça. Me vesti com as habituais roupas do clima frio de Achiara levando minha companheira, capa de chuva, para as pancadas que chegam sem avisar e ensopam os despreparados. Segui até o local combinado.  —E aí meninas. -um amigo de Lucy cumprimenta- Sua amiga Lu? Muito prazer, meu nome é Andrew. -quando eu ia responder ele colocou a mão na minha boca- Não precisa responder, o prazer é todo seu não é ? -e começou a rir- —Claro. -revirei os olhos rindo do quão i****a era o amigo de Lucy- —E você ruivinha? -ele colocou o braço ao redor do meu ombro- Como se chama? —Kalena -falei fugindo do seu braço- Kalena Fittz. —Que nome bonito! -disse um dos amigos mais afeminados que estava atrás, eram quatro no total- Um nome bonito para uma garota linda, e com um cabelo lindo -ele começou a alisar meu cabelo- Sou Dilan e esses caras sem educação são Coby e Francis. —Prazer, Kal -disse apertando as mãos dos garotos- —Não diga isso, não dê i********e para eles te chamarem pelo apelido. -Lucy estourou uma bola de chiclete- Eles vão se achar demais agora. —Você não é daqui é? -Francis perguntou- Nunca vi uma pessoa ruiva nessa cidade. —Não -peguei um dos petiscos que estavam sobre a mesa de cimento da praça- Aconteceu uma coisa e eu tive que mudar... —Cidade chata não é? -Andrew mais afirma que pergunta- Fora os lobos, nada mais é entretenimento. —Vocês sabem sobre os lobos? -perguntei mais interessada- —Mas é claro minha linda, moramos aqui! -Dilan bebe um gole de soda- Me espanta é você saber, as pessoas não falam mais disso aqui. —Por que não? -eu estava curiosa- —As pessoas preferem ignorar lendas ruins, preferem ver só como uma história de terror que encarar a realidade. -Lucy olha pensativa para as botas- Se você anda por uns quinhentos metros na mata consegue ver a devastação que eles fazem a cada Lua cheia, mas ninguém quer aceitar o fato dos lobos poderem vir à cidade. —Mas eles não saem da mata. -olho para todos - Ou saem? Coby o único que não havia falado resolve abrir a boca e vejo uma grande cicatriz em seu pescoço. —Eles podem sair no dia da caça do Alfa. -ele fez uma careta- O dia está chegando e Achiara vai ser um alvo fácil já que estão ignorando os lobos. —O que exatamente ele caça? -pisquei os olhos arregalados - —Pessoas, principalmente meninas ruivas. -Andrew riu- —Para de palhaçada seu esquisitão. -Lucy encara Andrew- —Ninguém sabe na verdade. -Andrew dá de ombros- Segundo boatos ele caça mulheres e as leva para a mata. Assassina seus companheiros e filhos e provavelmente às devora na floresta. Deve ser um fetiche de lobo. -os meninos riram- —Eles estão tirando sarro com você Kal. -Dilan esclarece- A verdade é que essa mata é enorme e todo mundo sabe que existem muitos lobos por lá. Mas todos ignoram o fato de que eles podem sair e vir dar um passeio nas ruas de Achiara. Ainda não aconteceu, mas não significa que não vá acontecer. As pessoas preferem só fingir que não existe e tocar a vida. Quando éramos crianças nossos pais contavam histórias de terror sobre lobisomens, por isso estão brincando com você, já que você não é daqui. É tipo uma piada interna.  —Qual é o lugar mais próximo da mata que podemos chegar? -pegunto dando uma ignorada no papo "perigoso" de Dilan e tirando o papel do celular- Preciso visitar algum nativo ou algum descendente da tribo para traduzir isso. -mostrei o papel- —Por que está tão interessada nisso? -indaga Francis- —Estou fazendo um trabalho e quero caprichar. -sorri, sabendo que estava usando o trabalho como desculpa para a minha curiosidade insaciável, mas era verdade, de certa forma.- —Tudo bem você gosta de trilha? -Coby se levanta e aperta meus ombros - Vamos a Mount Howl no feriado. Só não vale correr depois de ver os lobos. Eles são enormes. —Fechado. -apertei a mão dele- Interagi com os amigos de Lucy durante o resto do dia. Eu queria muito falar com Coby, mas ele era bem reservado. O dia passou e ficamos conversando, eu, na verdade, mais ouvindo do que falando. Fomos para a casa de Lucy e ela trouxe umas cervejas do frigobar, que ficava em seu quarto. Depois que as pessoas beberam um pouco de álcool, estavam rindo e cantando, eu fui até Coby, que fumava um cigarro de palha, um pouco mais afastado. —Coby. -toquei em seu braço- —Sim? -ele respondeu parecendo sair de um transe- —Posso falar com você? -perguntei com certa relutância- Eu ia falar com a Lucy, mas ela parece ter passado um pouco da conta. —Ah, certo. -ele bagunçou os cabelos- Pode falar. —Você acredita mesmo nessa coisa toda de lobo? -me preparei para qualquer deboche que ele pudesse fazer a respeito- Quero dizer, eu acho as coisas nessa cidade um pouco estranhas. Sabe, quando você sente que algo está errado? Eu li uns livros sobre lendas de Achiara e não sei se estou um pouco paranoica ou se há realmente algo... —Calma Kal. -Coby disse com uma certa diversão em sua expressão- Na verdade eu não acredito em tudo que está nos livros, não há como saber tudo exatamente como aconteceu. Mas muita gente tem fortes crenças nestas histórias, sua tia é uma delas. Nas noites de Lua cheia ela provavelmente vai mandar você se esconder ou algo assim. De qualquer forma, acho que se você tem curiosidade de saber as coisas deve tentar descobrir, exatamente como está fazendo. —Obrigada Coby. -eu sorri-
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