Ausente

933 Palavras
Passaram mais ou menos duas semanas desde que eu havia reparado no aluno misterioso e, que pelo visto, não era fã de Lucy. O nome dele era Antony Lysaros, que, através das meninas bem informadas, descobri ser o cara misterioso que tinha a maioria das aulas comigo. Foi fácil saber que tínhamos uma grade parecida depois de saber seu nome, já que o professor pedia que assinássemos os nomes na lista ao final do horário. O espaço reservado ao dele, quase sempre estava em branco. Antony foi a aula durante o resto daquela semana, mas na seguinte, faltou todos os dias.  Achei estranho ele ter tantas faltas e não sofrer uma punição nem nada, mas fiquei sabendo que era comum se ausentar por grandes períodos. Diziam por ai que o pai de Antony tinha uma doença e quando ele faltava era pra cuidar dele, por isso a escola era flexível.  Lucy parecia saber bastante sobre ele. Bastante, é uma palavra forte, pois não havia muito para falar, como eu disse, era um sujeito calado e enigmático. Tudo o que as meninas da minha sala e Lucy puderam contar se resumia em, um cara bonito, popular, mas que tentava não chamar muita atenção, inteligente e de uma família influente.  Hoje era sexta, falei com a minha tia umas duas vezes durante a semana e naquele sábado iria a uma social com Lucy. Tia Ellen estava em uma cidade que ficava a praticamente nove horas de carro de Achiara, mas eu havia avisado que sairia.  Minha tia é muito amorosa, mesmo que não possa estar fisicamente comigo. Me mandou cartões postais das cidades por onde passou com mensagens de afeto e carinho. Ela era a parente com a qual eu senti a coisa mais próxima à uma sensação familiar, mesmo estando longe a maior parte do tempo. —Você acha que o cara do carro preto vai aparecer amanhã na social? -perguntei à Lucy- Eu insistia em falar sobre ele, até me identificava um pouco, já que a maioria das pessoas na escola eram enérgicas, sociais e escandalosas, e ele era um dos únicos alunos com quem eu compartilhava algumas semelhanças. Antony era calmo, na dele e tentando passar despercebido. —Tomara que não. -Lucy disse comendo uma batata- Estávamos no shopping, fomos até lá depois da aula para comprar umas roupas, já que Achiara era fria, e a maioria das minhas roupas eram de meia estação. No início, usei algumas roupas de tia Ellen, ela tinha roupas surpreendentemente modernas, mas já havia passado da hora de ter as minhas próprias. —Você não vai muito com a cara dele não é ? -olhei para ela- —Quem? -Lucy piscou enquanto mexia no telefone, fingindo não saber à quem eu me referia- De quem você está falando? —Do Antony. -fiz uma expressão de "é óbvio"- —Por que? -Lucy focou em mim- Você vai? Ele quase me atropelou lembra? Você não pode gostar de alguém que tenta m***r sua amiga. —Eu não sei, eu nem vi a cara ele direito. -sorri- Mas você parece ter um histórico oculto ai. —Chata -ela finalmente sorriu, mas ficou séria novamente- A verdade é que ele é uma perdição! No segundo ano eu o segui depois da aula e fui tentar chamá-lo para sair, já que ele não conversava com ninguém. Mas ele disse que eu não era a garota que ele precisava e que ele também não estava interessado em s**o fácil. —Cara que grosso! Ele deve se sentir a última bolacha do pacote não é? -disse alterada- Nossa perdi a fome depois dessa, sério. Sorte sua não ter que ver esse cara todos os dias. Lucy riu. —Obrigada pela sua compaixão, mas acho que sempre vai ter uma parte minha interessada nele, como uma coisa meio obcecada sabe? Do tipo, mesmo eu ficando com raiva das coisas que ele faz, se ele me quiser, vou estar disposta -ela me abraçou- Mesmo assim, não se preocupe, se ele não quiser nada comigo, não vou bancar a doida perseguidora, vou só aceitar e tocar a vida.  —Entendo seu sentimento Lu, mas não fica nessa. Você merece muito mais que isso. -apertei seu ombro- Quando saímos do shopping, nos despedimos e Lucy foi para seu carro. Eu peguei o meu e dirigi até a livraria filiada à escola, que ficava em frente à praia.  O professor de história passou um trabalho com tema livre sobre alguma coisa de Achiara. Poderíamos falar sobre um monumento da cidade, o brasão, a criação de um centro cultural dentre diversos outros temas. Eu estava a procura de um livro mais local, já que pensei ser melhor para esse tipo de pesquisa. Queria comprar ou locar um livro para começar a pesquisa no domingo.  Decidi apresentar sobre as origens daquele lugar, coisas como porque recebeu aquele nome e quem vivia ali antes da construção de prédios e ruas asfaltadas. A biblioteca iria me ajudar mais que a internet, já que provavelmente eram coisas antigas e importantes apenas para aquela pequena cidade secundária no norte do país. Parei meu carro e entrei, peguei orientação com a assistente e fui até as prateleiras indicadas. No fim do dia descobri que a cidade possui lobos na floresta, mas eles não saem de lá e que antes da cidade ser o que é, abrigava algumas tribos indo-gregas.  Isto me levou a alugar um livro dividido em dois capítulos apenas: Um sobre as tribos e suas lendas e um sobre a relação dos lobos com as tribos. Entrei no meu carro e fui para a casa.  No caminho, não sei se por sono ou porque diabos, via constantemente um par de olhos amendoados me observando dentre a mata, mas não dei muita atenção o livro dos lobos deveria ter mexido com a minha cabeça.
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