Não brinque comigo
1026 Palavras
Assim que a porta fechou o juiz a avaliou de cima a baixo.
- O que faz aqui?
Theodora não se intimidou, estava acostumada a lidar com pessoas difíceis.
- Acabei de entrar como secretária.
- Não estou para brincadeira. Qual sua intenção em se aproximar de mim?
- Não tenho nenhum. Estou aqui apenas para trabalhar. Com todo respeito, está pensando demais excelência.
- Não quero você aqui. Nem como minha secretária, nem trabalhando nesse prédio.
- Posso saber porque excelência?
- Não trabalho com pessoas que eu não confio. Você se aproximou de mim por algum motivo.
Theodora olhou para o homem frio à sua frente. Não tinha nada do amante ardente da noite anterior.
- Entendi. Porque tivemos um encontro ocasional, você acha que tenho algum interesse?
- Eu não acho, tenho certeza! Agora some daqui, tenho muito trabalho a fazer.
- Para um homem tão desconfiado, não devia levar mulheres à sua casa. O risco maior está aí.
Riccardo levantou tão rápido que quase derrubou a cadeira. Com dois passos agarrou o braço de Theodora. Ela podia se livrar facilmente, mas prefere aguentar a dor e encara-lo.
- Está me ameaçando?
Ele se deu conta que poderia ter se exposto por um momento de descuido.
- Não excelência, estou te lembrando. Caso eu tivesse alguma má intenção, seu apartamento seria menos protegido que o fórum.
Ela estava certa e isso o deixou irritado.
- Você vai ficar. Não pense que não estou de olho em você. Se eu quiser, descubro até o sabor da primeira papinha que você comeu na vida. Não brinque comigo.
Theodora sabe que ele vai investigar sua vida, mas não estava preocupada com isso.
- Como quiser excelência. Se não tiver mais nada, vou para minha sala.
Theodora não estava com medo nenhum, na verdade ela adora um bom desafio.
Não demorou muito para Lara entrar com uma qualidade enorme de mandatos e petições para serem digitadas.
- O que você fez com o Dr Giovanni?
- Nada, porque?
- Ele mandou como presente de boas vindas todo o trabalho da expedição. Os funcionários hoje podem até sair mais cedo!
- Como assim?
- Todo serviço deles vieram para você.
- Deve ser algum teste para saber se sou capaz.
- Para mim parece um castigo. Ele não quer que você tenha tempo nem para beber água.
Apesar de achar perfeitamente possível, Theodora não se intimidou. Levou pelo lado mais leve.
- Não seja exagerada.
- Estou falando sério. Nunca aconteceu de trazer serviço de outro departamento para cá. Alguma coisa ele está descontando em você.
Theodora era um exímia digitadora e no que se refere a informática, para ela não tinha segredo. Desmontava e montava computadores de olhos fechados.
Seus dedos passeavam graciosamente pelo teclado.
E rapidamente ela foi acabando com uma enorme pilha de papéis. O trabalho que três pessoas fariam na parte da manhã, ela fez sozinha e as entregou no departamento de expedição antes de sair para almoçar.
Quando foi revisado e passado a Riccardo, ela não acreditou que nem um único erro foi encontrado nos documentos e Theodora era elogiada por seu trabalho rápido. Era inacreditável.
Riccardo não se deu por satisfeito e chamou a atenção de Lara.
- De onde você conhece a nova secretária?
- A conheci aqui senhor.
- Porque a ajudou com o trabalho que designei?
Lara ficou assustada com a pergunta. Passou toda manhã atolada no próprio trabalho.
- Mas eu não ajudei!
- Então com ela fez o trabalho de três pessoas sozinha na parte da manhã? Quem a ajudou?
- Ninguém! Cada secretária estava em seu posto e como sempre estamos atoladas de trabalho.
- Pode ir e peça a novata para vir até aqui.
Lara saiu e chamou Theodora.
- Dr Giovanni quer te ver. Se prepara que ele está com o humor azedo.
Theodoro não se intimidou e seguiu para a sala do chefe.
- Me chamou meritíssimo?
- Sim. Quero que faça seu trabalho no computador da minha sala. Hoje não tenho audiência a tarde e quero ver seu potencial.
- Pois não excelência.
As quatro da tarde ela entrega todo trabalho pronto e Riccardo não tem como negar sua eficiência.
- Não entendo como uma pessoa com sua habilidade, vem trabalhar aqui. Qual o seu emprego anterior?
- Na Lamartec.
- E uma empresa renomada. Porque saiu?
- Quero mudar um pouco. A vida toda na mesma função é desgastante.
Todas as informações que ela queria dispor, estavam no DP do fórum. Ela limpou todos os dados e estava confiante que ele nunca saberia o que ela não quisesse que ele soubesse. Principalmente que era a herdeira da Lamartec.
Riccardo mesmo desconfiado a manteve como secretária, nem ele sabia o porquê mas, sua intuição lhe dizia que Theodora não era tão simples.
No final do horário ele a observou sair e a seguiu em seu carro. Após se afastar do fórum a interpelou:
- Eu não acertei o trabalho com você.
- Perdão excelência, pensei que era mensal.
- O trabalho de ontem.
Theodora ficou irritada com a audácia dele, quando foi que ela cobrou por uma noite de sexo? Mas não deixou transparecer a raiva e até deu um sorriso.
- Considere como cortesia.
- Não gosto de dever nada a ninguém.
Mas a verdade é que ele queria muito uma segunda rodada, nunca se envolve, sexo ocasional era sua meta.
- Não me deve!
Se virou para seguir seu caminho.
- E se eu precisar dos seus serviços?
- Tem que agendar com muita antecedência, tenho uma agenda muito apertada.
- Eu pago o dobro.
- Eu não atendo qualquer um. Não importa o preço.
A forma como ele arrancou o carro e saiu, a fez se sentir vingada. Mas ainda estava disposta a dar uma lição nele. O fato de dormirem juntos não lhe dava o direito de a tratar como uma prostituta.
Aproveitando que estava trabalhando lá dentro, Theodora fez a avaliação do lugar e enviou ao irmão. Agora se concentraria no trabalho do fórum e em uma maneira de dar uma lição no frio e arrogante Riccardo.
- Escritor
