Capítulo 4. Mais uma tentativa

658 Palavras
Mattheo permaneceu sentado na cama, o corpo inteiro rígido, como se tivesse acabado de sair de um duelo. O ar entrava e saía de seus pulmões em respirações curtas, pesadas. A mente, sempre calculista, agora estava em chamas. Ela o chamara pelo nome. Não era mais um devaneio qualquer. Não era sua mente lhe pregando peças, não podia ser. Sonhos não falavam com aquela intensidade, não o fitavam como ela fitara. Aquela voz tinha atravessado sua pele, cravado dentro dele como uma lâmina. Ele levou a mão ao peito, percebendo a pulsação acelerada. -Ela sabe quem eu sou. Levantou-se de repente, andando pelo quarto como um animal enjaulado. O olhar fixo, as sobrancelhas cerradas, o maxilar trincado. — Isso não é coincidência... n******e ser. — murmurou com raiva baixa, controlada. Seus punhos cerraram-se. Por anos, aquela figura o acompanhara, sempre muda, sempre distante. Mas agora... agora ela o chamava. Ela o pedia. Mattheo odiava enigmas sem respostas. E mais ainda, odiava sentir-se manipulado. Ele foi até a estante de madeira escura, puxando livros antigos, grimórios, registros de magia obscura que guardava com zelo. As páginas foram viradas com brutalidade, mas, como sempre, nada. Nenhuma pista de uma ligação, de uma mulher que aparecesse em sonhos por tanto tempo, chamando-o como se fosse real. — Quem diabos é você? — a voz dele soou quase como um rugido, ecoando pelo quarto. Ele respirou fundo, tentando recuperar o controle. Sua mente sempre fora sua a**a mais poderosa, e agora estava sendo desafiada. Se ela sabe meu nome... significa que ela existe. E se ela existe, eu vou encontra-la, nem que seja no inferno De um jeito ou de outro Mattheo então se levantou e decidiu tentar, de novo. O sonho o atingiu como um soco bem dado no estômago, a inquietação tomou seu corpo. Mattheo acendeu as velas do quarto uma a uma, o fogo tremulando e projetando sombras longas contra as paredes escuras. O silêncio era absoluto, apenas quebrado pelo som baixo de suas respirações controladas. Sobre a mesa, ele organizou livros gastos, pergaminhos com runas antigas e pequenos frascos de ingredientes que aprendera a manipular desde cedo. As artes obscuras eram um território que conhecia bem, mas até ali nunca ousara direcionar tanto esforço por causa de um sonho. Só que, agora, não era mais apenas um sonho. — Você quer me chamar, não é? — murmurou, enquanto riscava símbolos em um círculo perfeito com sua varinha — Então vamos ver até onde consegue chegar. Ele fechou os olhos, erguendo a varinha. As palavras em latim escaparam dos seus lábios com firmeza, cada sílaba carregada de intenção. Uma magia antiga, de invocação onírica — perigosa, instável, quase proibida. O tipo de feitiço que podia abrir brechas entre real e imaginário. Por um instante, o ar no quarto pareceu ficar mais denso. A chama das velas se curvou, como se sugada por um vento invisível. O coração de Mattheo acelerou. — Mostre-se... — ordenou, a voz grave ecoando dentro do círculo. Um vulto se formou na névoa invocada. Pequeno, frágil, uma silhueta feminina. Mattheo prendeu a respiração, os olhos fixos. Mas, no instante seguinte, o círculo tremeu, a névoa se desfez e o feitiço ruiu como vidro partido. O silêncio voltou com violência, apagando metade das velas. Mattheo bateu a mão contra a mesa, o estalo ecoando no quarto. — MALDIÇÃO Seu rosto ficou tenso, a raiva evidente. Ele odiava falhar, odiava sentir-se impotente. Tudo o que conseguiu foram ecos, nada sólido, nada concreto. Ele se apoiou no tampo da mesa, respirando fundo, tentando conter a fúria. Seus olhos castanhos queimavam de frustração. Mas no fundo, bem no fundo, havia outra sensação. Uma certeza incômoda: a magia reagiu... Como nunca antes Algo — ou alguém — estava lá, do outro lado. E se estava, significava que não era invenção da mente. Mattheo ergueu o olhar novamente, sombrio, determinado. — Eu vou te encontrar... — sussurrou, como uma promessa.
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