Capítulo 1

1515 Palavras
— Ei, agora você vai conhecer um Le Café Français, que não vai ter só o nome em francês — Liz me disse enquanto me abraçava, chorava e soluçava. — Não vai ser a mesma coisa sem você, garota — cedi meu orgulho e chorei junto. — Mas tenho certeza de que serei bem representada… Afinal, Paris não é a cidade do amor? — Como é? — me fiz de desentendida, mas sabia o que ela queria dizer com aquilo. — Anne finalmente vai se apaixonar — ela suspirou Eu a ignorei. Estava quase na hora de entrar no avião, não veria aquelas pessoas por um tempo, pelo menos até John se adaptar — Só sei isso de meu futuro chefe: o nome. Meu coração está explodindo, não sei mais por qual motivo. Procuro ignorar tais sentimentos e focar na despedida, que para maioria das pessoas dói, mas para mim, é um jeito de guardar na memória afetos verdadeiros, um jeito de ver quem se importa mesmo. Abracei todos milhares de vezes antes de embarcar, principalmente no abraço de meus pais, sem esquecer de repetir o quanto amava eles. Respirei fundo, joguei um beijo no ar para cada um deles e segui até o caminho de acesso ao embarque internacional. Tentar imaginar o que me espera é praticamente impossível. A única coisa clara que vem em minha cabeça é o trabalho dobrado que provavelmente terei. Ainda mais para me acostumar a outra cultura diferente da minha. Estudei a língua francesa quando estava no colégio, meu sonho sempre foi visitar a Catedral de Notre Dame — se eu disser que não foi só por isso que obriguei meus pais a pagarem um curso para mim, estaria mentindo. O que me faz temer é que eu não tive muitas oportunidades de conversar na língua depois que concluí o curso. Em contrapartida, eu li muito, estudei muito, então talvez eu não esteja tão encrencada assim. Seu Montez me avisou que eu vou morar em uma casa de aluguel vinculada a casa de John. Ele disse que antigamente ele ficava nessa casa quando visitava França com sua esposa. — É pequena, mas suficiente para uma jovem — ele dissera poucos dias atrás. Segundo suas instruções, eu teria tudo que fosse preciso por lá. Seu irmão iria comprar algumas coisas para abastecer minha despensa e deixaria o carro de Seu Montez livre para meu uso — Isso me surpreendeu mais. Papi pensou em tudo… Minha mente às vezes traz uns questionamentos, como se eu realmente sou digna de receber todas essas oportunidades, no fundo, meu coração está com medo de algo muito r**m acontecer — afinal muitas coisas boas seguidas ocorreram e pelo que sei, ou pela minha experiência, a vida não costuma ser tão bondosa assim. Acho melhor eu parar de ficar pensando no pior. A escolha mais prudente é aproveitar a calmaria até que a tempestade venha. A viagem teria duração de 12 horas. A telinha do avião dizia que chegaríamos por volta das 8:30 am, o que me faria aproveitar bem o dia por lá. * Dormi quase a viagem inteira, isso foi fruto da noite anterior m*l dormida e da minha esperteza de querer me acostumar logo com o fuso-horário — Obrigada, papai Google, pela ajudinha — sou a louca que pesquisou “como se acostumar com o fuso-horário”. Pego minhas malas — que não foram poucas — e coloco no carrinho. — Bonjour Monsieur, s'il vous plaît un taxi ? — Oui, mademoiselle — Um senhor simpático me levou até o táxi e me ajudou a colocar todas as malas no mesmo. Informei ao motorista o caminho da minha nova casa e enquanto ele dirigia até ela, eu aproveitava a bela vista que Paris me proporcionava. Como pode ser tão linda? — Merci — Agradeci o taxista assim que o paguei pela corrida. Encarei a casa. Como Papi tinha me dito eram duas casas. Uma, um pouco maior que a outra. Ambas tinham um carro parado na frente. Preferi arriscar a entrada na casa menor, não queria incomodar ninguém. Então primeiro procurei o vaso com rosas-brancas e o levantei — Lá estava a chave. Puxei todas as malas até a porta e a abri com chave encontrada. Ao entrar me deparei com uma organização esplêndida! Alguns móveis estavam cobertos com panos brancos, mas aparentemente a casa fora limpa recentemente. Não tinha nenhuma decoração — minha alma decoradora se despertou. Uma olhada rápida por toda casa me fez ficar radiante, não poderia ter um lugar melhor para chamar de “meu”. Logo na porta de entrada se via a escada lance único à esquerda, um corredor no meio e por fim, à direita o acesso para sala de estar, que acompanhada do corredor dava entrada para a cozinha. Abaixo da escada ficava o lavabo. A cozinha tinha uma ilha em mármore, era pequena, mas funcional, dando um ar de expansão inexistente. No pavimento superior da casa, tinham dois quartos: uma suíte e um quarto simples onde seu hóspede poderia utilizar o banheiro do corredor. A casa é realmente pequena, mas tão grande para uma pessoa sozinha. As dimensões são perfeitas, trazendo uma funcionalidade absurda. Não duvido de quem seja o autor desse projeto! Seu Montez, como sempre simples e funcional. Não perdi tempo, precisava deixar essa casa com a minha cara, então subi todas as malas e comecei a desfazê-las. Não estava cansada, dormi o voo inteiro, estava mais que disposta. Escrevi uma breve mensagem alertando meus pais, seu Montez e Liz da minha chegada e me apressei em guardar todos os meus pertences no lugar ao som da minha playlist favorita. ** Quase uma semana se passou e eu consegui me estabilizar, fiquei basicamente todos os dias dessa semana resolvendo tramites, como, por exemplo, uma carteira de motorista válida aqui. Aproveitei para me preparar, foram momentos bem engraçados eu diria… Errei bastante a pronúncia de algumas palavras e de quebra forcei meu 'r' pensando estar abalando! Quem já estudou francês sabe que as palavras que possuem a letra r, costumam ser difíceis de se pronunciar. De qualquer forma, dediquei meu fim de semana inteirinho para tentar falar o mais natural possível, Deus me ajude! Hoje preciso me sair o melhor que eu puder no meu primeiro dia no escritório, estou confiante. Ajeito meu casaco para encarar a manhã nublada, “sorte, sorte, sorte” repito ao fechar a porta e sair com o carro. O GPS não decepciona e me leva direto ao meu destino, descobri que o escritório não é tão longe de casa e que se eu quiser e não tiver que carregar tanto peso, posso arriscar vindo andando tranquilamente. — Bienvenue, você só pode ser Anne — Uma moça simpática me recepcionou em francês. — Bonjour, sou eu mesma, e a senhorita se chama? — Oh! Que indelicadeza a minha, meu nome é Laurine, eu cuido de toda a logística desse lugar inspirador, e a partir de hoje serei sua assistente pessoal — sorriu para mim. — Assistente? — Quase me engasguei — Não sei se realmente é necessário… — Não vai me dizer que você é do tipo que só sabe trabalhar sozinha? — Balancei a cabeça negativamente — Então mademoiselle, Seu Montez me ligou diretamente pedindo para que te ajudasse nessa nova etapa. Venha, vou te mostrar seu espaço. Ok. Por essa eu não esperava. O espaço é incrível! Totalmente aberto, com várias mesas enormes e individuais, eu adoro esse conceito, pois dá para observar todos trabalhando, sem contar que o ambiente não fica poluído cheio de salas ou com mesas que contém divisórias — no Brasil não conseguimos implantar esse conceito, mas sempre me lembro de Seu Montez reclamar que sempre estávamos fazendo reformas para os outros e nunca para nós mesmos. Adoro como ele consegue usar as palavras que dão dois sentidos, quantas vezes nos obrigamos a ajudar os outros e esquecemos que também precisamos de ajuda. O lugar é bem receptivo para os clientes que chegam, há também algumas salas no corredor, que dão acesso à sala de Seu Montez que ele costuma usar quando visita à filial e outra que acredito que seja do seu irmão, que deve agora ser ocupada pelo seu sobrinho. Chegando no fim deste mesmo corredor há uma sala de reuniões gigantesca. Estou amando este lugar! — E aqui será o seu lugar — Laurine, me mostrou uma mesa enorme com vários itens — E eu fico aqui do seu ladinho — apontou e sorriu mais uma vez. — Merci, eu estou deslumbrada, principalmente com a sua recepção! — De rien, estou aqui para te ajudar… Laurine me explicou detalhadamente tudo o que eu precisava saber, o que me tranquilizou, pois, logo percebi que Seu Montez conseguiu deixar bem estruturada a sua cultura de trabalho tanto no Brasil quanto aqui na França. Por conta da logística ser praticamente a mesma e eu ter tido experiências projetando à distância para residências daqui, consegui facilmente pegar o ritmo. Apenas terei que me preocupar com me adaptar à cultura francesa.
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