Charlote encarou o teto e secou a lágrima solitária que deslizou pela bochecha branca dela, ela estava a estava uma semana dentro de um quarto, ela não comia, ela não saia e ela não dormia, não fazia nada que não fosse ficar na dela, enfurnada dentro de um quarto, enquanto os outros estavam lá fora preparando as coisas param o fim da semana, que seria o dia dela e ela queria era pegar uma doença e ser descartada do casamento. Ser esquecida e imaginar que nada daquilo era real ou que ela iria se livrar fácil daquilo, mas ela não ia, parecia que ela estava em um labirinto sem saída.
Estava como um carro perdido no meio da noite, se farol, no escuro, perdida e até sem um passageiro ao seu lado pra dividir isso.
Charlote não tinha muitas amizades.
Não tinha com quem falar da situação toda, de como se sentia ou até do encontro que teve com Dominik.
No último encontro com ele, bem, ele não foi agradavelmente, foi rude e petulante.
Que tipo de pessoa não entende que vai ser infeliz pro resto da via ou até um dos dois morrer?
E a lei da vida, era a lei para Charlote ser feliz.
Dividir uma vida com alguém que ela não tinha um pingo de i********e e pelo visto nem simpatia, era como ir morar com um estranho e esperar que ele seja uma ovelha e não o lobo mau.
- Charlote – Olhou para porta e viu a própria mãe entrar no quarto, olhando para ela largada em uma cama, havia alguns livros pelo lugar espelhado, refém do tédio e da forma deprimida que ela estava, o quarto dela era grande e havia uma janela bem grande também, onde as vezes ela pensava em sair por ela e sumir. - Ainda com essa greve de fome? - Ela olho para a bandeja e depois se aproximou da cama da filha. - Trate de comer, logo será o grande acontecimento, você deve estar bem e não parecendo uma morta viva, olha para seus olhos e para sua pele, está parecendo uma anêmica, ninguém vive apenas de água. Pare de rebeldia e aceite isso de uma vez.
Charlote encarou a mãe, elas não eram tão próximas, isso poderia ser ao fato da mãe sempre ditar regras de comportamento e decisão pra ela, ela odiava isso, odiava alguém mandando nela. A mãe dela era uma espécie de narcisista de merda, do tipo que dita regras e detesta quando elas não são seguidas, que gosta de pessoas puxando seu saco ou que nunca falem que ela está errada, do tipo que tem paciência pra ver um leilão de dois pares de brinco por horas e não consegue falar algo bom pra filha, que não precisava de alguém falando coisas as que ela falava.
Ela encarou a mãe, exausta e aflita, apenas uma coisa vinha na cabeça dela, de mandar aquilo tudo e todos pro inferno e odiar eles por deixar aquele casamento acontecer sem a vontade dela.
- Vai para o inferno – Falou baixo e fechou os olhos. - Eu odeio a senhora e todos desse casa, eu prefiro morrer do que me casar com aquele homem. Vocês nunca me escutam, estão me condenando a uma vida infeliz!
Vejam, Charlote já estava exausta.
- Charlote – A mulher subiu na cama e se aproximou da jovem de cabelos escuros bagunçados e pele pálida pela falta de comida e sono. - Você não conhece ele, você pode gostar dele e se apaixonar. O amor é uma mentira as vezes, você não precisa amar pra casar com alguém.
- Se fosse eu, bem, me entenderia, mas nunca me entendeu.
- Está me pintando como a vila da história, mas eu não sou, nunca fui.
Ela guiou o olhar até o notebook na ponta da cama, vendo a tela aberta em um site, um que falava exatamente dos negócios, finamente ela entendeu o tratado com o pai, só governador facilitar a exportação e importação.
Charlote odiava pensar que iria casar com pessoa que vendia armas, era r**m isso, armas sempre eram comandadas por pessoas ruins, até mesmo a parte de segurança, causava dano, morte e até medo.
- Ele vende arma. A família dele faz isso por geração.
Charlote imaginou como seria a casa dele, repleta de armas, até mesmo do modelo antigo onde os homens penduravam as armas, apenas esse fato deixou ela com medo, não sabia se tinha medo das armas ou de Dominik perto delas.
- Ele é um Barette.
- Eu não ligo! Ele mexe com o negocio mais c***l da terra, mãe – Houve uma pausa. - Vocês deviam ter me falado isso também, eu detesto armas e acho um prejuízo pra vida elas. Sempre achei, sempre conheceram minha política anti armas.
- Mas seu pai não é, isso é importante.
- Isso aumenta meu estado de espirito de negação, eu não quero me casar com ele, por favor, e sobre o governo do papai, não é? Sempre dói Quantas armas foi dadas por mim ou quantas vão sair de ligas para pessoas cometerem uma atrocidade de uma hora pra outra- Debochou fria.
Charlote poderia se lembrar de quando estava no colégio, quando em Columbine, era assustador pensar naquilo e nas armas que poderiam ajudar coisas como aquelas, ainda mais na mãos de pessoas.
- Não se trata de armas, não foi dada armas na negociava entre ele e seu pai.
- Se trata de negócios e eu sou uma das moedas de troca. Vocês nem lutaram pra me tirar disso - Ela fez uma pausa. - Pelo menos agora vão tirar o problema da reta, já que os outros irmãos seguem tudo bonito, como manda o maldito manual.
- Ele pode te dar o mundo, filha. Pensa nas coisas que você pode ganhar e conquistar, pode conhecer o mundo e ser conhecida.
Era até uma piada ela escutar aquilo, ela não queria nada daquilo com alguém que poderia ser r**m para ela.
Do que adiantava aquilo se ela fosse infeliz e a outra pessoa também?
- Vai me deixar casar com um homem que eu não conheço, mãe? - A mulher ergueu a mão e tocou o cabelo dela.
- Você poderia ter se casado com um homem de sua escolha, mas onde estava você em todos as festas, foi por isso que eu falava para você escolher alguém, mas você nunca deu atenção. Seu pai não iria desperdiçar a oportunidade e eu também não iria de casar minha filha com alguém que pode cuidar dela.
A mulher foi fria e clara.
Aquilo deixou Charlote tão chateada e magoada.
- Nunca gostei de ninguém e tive um interrese.Isso não é assim, mãe - Ela fechou os olhos com força, escondendo as lágrimas.
- Eu tentei preparar você, te ensinando o que me foi ensinando, eu não sei onde eu errei, querida – Houve uma melancolia e depois Charlote abriu os olhos. - Foi assim comigo e com o seu pai, sabemos como isso funciona, no começo você não aceita e nem vai, mas depois aprende a conviver, eu sinto muito, mas isso é inevitável.
- Me deixa sozinha, por favor.
Sussurrou baixo.
- Você não comeu nada nos últimos dias, certamente não consegue nem ficar de pé – A mulher se afastou, ficando de pé. - Se não comer até amanhã de manhã, eu vou tomar as medidas cabíveis – Charlote olhou para ela.
- Vai me forçar a comer também?
- Se for preciso, não criei você para isso, então se comporte, deixe de rebeldia e teimosia – A mulher fez uma pausa. - Seu noivo está na cidade. Ele vai querer ver você bem.
- Eu não estou nem ai! - Gritou e depois houve um silêncio grande enquanto somente os passos da mãe foram ouvidos longes e a porta se fechando, nesse momento Charlote se levantou e puxou as roupas debaixo da cama que havia arrumado e a bolsa batida com comida e com dinheiro. - Você consegue Charlote, vai ser apenas ir e ter calma. O plano final pra evitar tudo aquilo.
Sussurrou para si mesma.
Ela tirou toda a roupa que estava e por cima da roupa de baixo, ela vestiu os outros trages, uma calça espeça de algodão e um camiseta de mangas, encarou o reflexo no espelho e depois se moveu puxando as botas de modelo masculino e o boné, prendendo seu cabelo grande com vários grampos e o escondendo.
Ela não viu refletido seu reflexo no espelho, viu de uma figura baixa com roupas masculinas, puxou o pote de tinta e depois o pincel, fazendo a barba fajuta pela mandíbula, quando terminou ainda deu uma aumentada na sobrancelha.
Estava parecendo um dos jardineiros, estava ótimo assim.
Soltou uma risadinha e arrumou tudo, não deixou nenhuma pista e pegou a bolsa, ficando parada no meio do enorme quarto e puxando a corda, assim que se aproximou da sacada, ela viu o jardim escuro e viu os seguranças longe daquela parte mais calma e tranquila, quando ela conseguiu prender a corda e descer devagar e pousar seus pés na grama, ela relaxou e teve vontade de chorar, mas evitou fazer isso.
Ela foi caminhando por onde ela sabia que não teria surpresa nenhuma , chegando até os arbusto próximo os muros e entrando no meio deles e achando a passagem secreta e escondida no muro.
Sendo como antes, quando era ela uma adolescente.
Ela havia conseguido, de manhã eles começariam a procurar, mas naquela hora, ela só pensou em ir embora dali, era noite e o céu estava pouco iluminado o que a fez andar em silêncio, observando o caminho e as ruas que ela pegava, quando chegou a uma que levava pra saída, ela caminhou calmamente entre a rua já vazia, até parar em um posto, sem ser notada ou sem ter que notar ninguém, parando próximo a um rapaz que colocava duas malas dentro de automóvel, uma picape azul bem velha, pigareou e se aproximou.
O disfarce estava bom, parecia um cara magricela e humilde vestindo aquelas roupas.
- Oi?- O rapaz era novo e se virou, encarando um “homem magrelo” em sua frente.
- Sim – Disse, encarando o rosto na pouca luz.
- Para onde esta indo? - A voz mudada fez Charlotte querer rir, mas ficou séria olhando par ao rapaz.
- Vou para longe moço, lá pelas bandas do interior, em São Diego.
Charlote não sabia onde era. Mas devia imaginar ser longe e afastado daquilo, ela poderia elaborar um destino depois, um lugar pra fazer sua casa e ficar bem.
- Se pagar você me leva com você, tenho dinheiro que pode ajudar no combustivel - O rapaz sorriu e balançou a cabeça em afirmativa, ele não iria recusar ajuda, querendo ou não era humilde também.
- Estou indo encontrar minha noiva, vou sozinho e tem espaço para uma carona – Ele sorri e se aproximou dela, erguendo a mão. - Terry, prazer – Ela ergueu a mão e sentiu o aperto.
- Charlles – Mentiu e abriu a bolsa, pegando algumas notas e entregando para o rapaz. - Isso é o suficiente?
- Claro, a viagem e longa, pode entrar, vou pegar a última bolsa e vamos, são quase vinte horas viajando por essas estradas – Ela balançou a cabeça e depois abriu a porta do FIAT e se sentou, colocando a bolsa no seu colo e ficando parada.
Era perigoso, mas dava um alívio estar ali, mesmo se arriscando estar vestida de homem e pegar carona com um estranho.
Sentiu uma sensação diferente.
Era uma loucura o que estava fazendo, mas ninguém espera que uma pessoa que não coma a dias fuja, esperam que ela fique doente, mas Charlote não ficaria nem doente e nem parada vendo sua felicidade escorrer pelos dedos.
Ela só queria começar longe dali, onde ninguém iria perturbar e onde ela poderia recomeçar sua vida, sem ter que se casar a força com nenhum homem, onde não precisaria ser a filha vigiada e obrigada.
Era liberdade que ela queria e era liberdade que ela teria.
- Protos, podemos ir – O rapaz deu a volta e entrou, ligando o o carro e sorrindo. - Para que esta saido da cidade para tão longe?
- Procurando um lugar para recomeçar a vida – Falou baixo e tomou cuidado com a voz.
- Você é um rapaz novo, não é? Onde está sua família?
- Eu não tenho, sou e eu Deus nesse mundo, peguei o dinheiro que tinha e estou indo embora.
- Essa é Vitoria – O rapaz acenou para o retrato atrás do volante. - Eu vou para me casar com ela, ela se mudou e eu estou indo atrás dela.
- Ela ama você?
- Como eu amo ela, somos almas gêmeas, meu caro.
Diferente dela e de Dominik, era por isso que precisava ir.
Ela estava indo.
Era uma Charlote reformulada e livre agora.