"Coisas que fizemos no passado podem voltar para assombrar nosso futuro."
Por: Pietro.
Estávamos feito animais defendendo nosso território no sul da Itália. A bala está cantando noite adentro, e até o Don meteu as caras dessa vez. Estamos na linha de frente, prontos para o quê vier.
Nosso grupo estava dividi em três cada um cobrindo uma área, quando recebemos a notificação de um dos capos sobre a invasão, foi correria pura para tentar cercar os malditos que tiveram a audácia de entra numa área restrita.
_ p**a que pariu, chefe! - Lucca berra quando a p***a de um tiro explode num poste próximo de onde estamos. A lâmpada estoura, deixando tudo na mais completa escuridão. Meu grupo e eu estamos abaixados rentes a um muro alto, usando-o de escudo.
_ Bem-vindo ao inferno, soldado! Vamos dispersar, cada um para um lado! - falo correndo de um ponto para outro, munido de armamento me afastando dos demais.
Vejo balas traçantes cortando a noite escura.
_ Onde você está, Pietro? - a voz do Vittorio reverbera no ponto em meu ouvido, quase ferindo meus tímpanos.
_ Perto de uma casa vazia, na rua perpendicular à que nos desembarcamos - falo baixo.
_ Se move daí, p***a, os integrantes do grupo rival estão indo de encontro a você, c*****o!
_ Um pouco tarde para avisar isso, não acha?- falo vendo ao longe um grupo de quinze homens se dividindo em dois grupos e tomando direção opostas.
_ Cazzo! Pietro!- Vittorio brada.
Passo a mão na minha mini Uzi e disparo na direção do grupo . Alguns caem, outros correm para se proteger e efetuam disparos em minha direção.
_ Preciso de reforços aqui, Cazzo! - falo no ponto.
_ Cadê a p***a do seu grupo? - Vittorio vocifera, arfando como se estivesse correndo.
_ Dispersamos, c*****o. Estou sozinho. É questão de tempo para eles chegarem até mim. - falo, efetuando mais disparos.
_ Aguenta, p***a! Estamos chegando! - escuto os berros do Don, pedindo agilidade aos demais. De repente, ouço mais sons de disparos vindo do outro lado da linha.
Olho para todos os lados procurando por uma saída e encontro mais à frente uma fábrica de seda abandonada e decrépita do século XIX, onde seu antigo pátio se encontra cheio de mato e flores selvagens. No entanto, para chegar até lá, precisarei correr uns duzentos metros desprotegido, podendo tomar bala de todos os lados. Contudo, ou morro tentando fugir, ou fico aqui, sou capturado e morro de forma mil vezes pior.
Nenhuma das opções era boa. Travo os meus dentes, então lanço-me, ouvindo os sons dos disparos sendo feitos, reconheço o ardor que acomete a minha, senti o impacto ao ser atingido.
Consigo chegar à maldita construção, ofegante pelo esforço da corrida, com a adrenalina correndo a mil no meu corpo, quase não tenho dor. Meu sangue se esvai pelo buraco l, o líquido quente ensopar o tecido da calça.
" Cazzo! Cazzo!" - xingo, sabendo que eu teria de estancar a hemorragia. r***o um pedaço da minha camisa para usar como torniquete, a iluminação parca proveniente dos postes da rua, possibilita- me enxergar o que estou executando.
_ O que está acontecendo, Pietro? - Vittorio pergunta aos gritos.
_ Fui atingido na perna. - respondo, com meu suor descendo pela testa.
_ Droga! Onde você está?
_ Na velha fábrica de seda desativada. - aviso.
_ Estou a caminho, aguenta mais um pouco. - diz aflito.
Corro meus dedos pelas feridas, vendo a extensão dos danos. O projétil entrou pela parte de trás da minha coxa e saiu pela frente. Com certeza, deixei um rastro de sangue pelo caminho como pistas evidentes, mostrando onde estou escondido.
Me movimento com um pouco de dificuldade, empunhando a minha arma. Esbarro em algo de ferro no chão e o barulho ecoa. Travo, crispo os lábios, sabendo que possivelmente alguém ouviu.
Ando na "manha do gato", procurando manter a minha atenção em todos os cantos. As minhas feridas ardem como ferro quente perfurando a pele e suas barreiras.
Me escondo atrás de uma meia parede, procurando tomar cuidado para não me confinar em nenhum espaço que me impossibilite um deslocamento e funcione como uma armadilha invisível.
Olho para trás e vejo um janelão de vidro.
Escuto passos ecoando pelo espaço. Apesar de serem dados com sutileza, é notório o movimento de corpos cortando o ar.
Escuto Vittorio falar comigo. No entanto, não posso responder nada. Um sussurro faria com que os integrantes do outro grupo me encontrassem com facilidade.
_ Vamos, Pisco, saia de onde estiver, toda a fábrica está cercada. - ouço a voz de alguém falar, contudo não reconheço.
A sombra de um sorriso frio perpassa em meu rosto. Tenho a consciência de que pode ser um blefe tremendo por parte deles.
_ Tsc, tsc, tsc, não vamos mais perder tempo, Pisco, vai ser pior se nos o encontrarem.
E com certeza seria. No entanto, eu precisava ganhar tempo até o reforço chegar.
_ Senhor, tudo limpo aqui em cima. - a voz grave avisa.
_ Então o bastardo está aqui embaixo. Revistem tudo, olhem até dentro das privadas deste lugar! Agora, p***a! - a ordem é dada e eu sei que é questão de tempo para que me descubram.
O tempo não estava mais correndo a meu favor, e sim contra mim. Me aproximei da janela, tentando ver a espessura do vidro e se conseguia contar quantos homens armados estavam do lado de fora. Uma porcaria, a camada de sujeira encrostada deixa tudo embaçado, dificultando quaisquer tipo de visualização, será contar com a sorte ou com o azar.
Senti um arrepio nos ossos quando ouvi passos se aproximando de onde estou.
Tranquei a respiração errática por conta da dor que começava a se elevar.
Cerrei meus punhos. Tinha que decidir se morreria lutando contra todos os que estavam ali, sem nem saber quantos eram, ou se me jogaria contra o vidro, sendo suscetível a sofrer alguns cortes, e tentar escapar de uma provável captura.
Me afastei em passos silenciosos e, quando estava a uma boa distância, disparei em passos rápidos sob os gritos dos homens que estavam me procurando e sob os estampidos de alguns disparos.
Joguei meu corpo contra a janela, protegi meu rosto no momento do impacto. Caí do lado externo, chamando a atenção dos demais integrantes do grupo rival. Rapidamente, armas foram apontadas na minha direção.
_ Devagar, príncipe Calabrês. Temos que te levar inteiro para o chefe, mas isso não significa que não podemos nos divertir magoando esse infeliz, não é mesmo, homens? - a voz de um dos malditos chega ao meu ouvido.
_ Cadê os seus parceiros? Te jogaram na boca do lobo e fugiram para salvar seus rabos? - Um homem alto, com uma cicatriz perto da sobrancelha, pergunta ao levantar minha cabeça pelos meus cabelos e me desferir um soco no meu rosto, deixando-me atordoado.
_ Arrumem um cano grosso, vamos desvirginar a donzela aqui, rapazes! - O pezzo di merda vocifera com um sorriso cretino no rosto.
Eles queriam me quebrar, desgraçando com minha masculinidade. Eu viraria a piada da vez, que circularia entre os cartéis do narcotráfico e entre as máfias espalhadas pela face dessa Terra.
_Amarre as mãos do infeliz e abaixe as calças que eu como o ** dele, chefe, vai ser gostoso gozar dentro de um r**o apertado. Hummm, m*l posso esperar. - Um figlio de puttana exprime, esfregando as mãos uma nas outras.
Tenho meus punhos envoltos por uma corda, minhas armas são retiradas de mim, assim como meu colete. Fico vulnerável diante daquele bando de filhos da p**a.
_Vou gravar a cena, quero registrar o sublime momento. - Alguém diz, caindo na gargalhada.
Bufo como um touro bravio quando eles me agarrarem pelos braços e me colocam em uma posição onde meu traseiro ficará livre para o pervertido.
Sinto alguém se aproximar por trás e cerro os dentes, sabendo que depois do que acontecerá eu seria reduzido a pó.
Então um estrondo chama a atenção de todos os presentes que param com as risadinhas debochadas e de repente, tudo acontece: o portão de ferro vem abaixo e o som de disparos chega até mim. Jogo meu corpo ao chão, tentando me proteger dos tiros.
_ Pegue o pisco, não podemos voltar sem ele! - alguém berra.
Aquilo acende um alerta em mim. Não estamos em uma briga por território; isso foi apenas uma jogada para me expor, uma maldita isca para me levar as ruas.
Meu corpo é puxado pelo chão o mato bate em meu rosto, até que a pessoa que estava tentando me levar tomba por cima de mim e sinto o sangue dele banhar meu corpo.
Com minhas mãos amarradas para trás, não consigo retirar o corpo. Sinto os últimos espasmos que sua carne sofre antes dos batimentos cardíacos cessarem.
_ Andiamo, fortunato cazzo! - Leonardo diz ao retirar o cadáver de cima de mim e me pôr de pé.
Olho para o furgão que tem a sua pintura arranhada, faróis completamente destruídos e marcas de bala na lataria e nos vidros blindados.
Vejo Vittorio vir até mim; meu irmão me olha e vejo a centelha de preocupação faiscar em seus olhos negros.
_ Façam a limpeza do lugar! Andiamo! - ordena, dando-me as costas.
Ando com dificuldade até o carro, e me sento em um dos bancos. O cheiro do líquido viscoso impregnado em minha roupa toma o pequeno espaço.
Vittorio se senta ao meu lado e me lança um olhar avaliativo.
_ Não era um confronto por território - falo, sentindo a carne em torno da ferida latejar.
_ Percebi isso. Estão atrás de você, eles nos sufocaram até obter o que desejam: você. - fala, me dando um olhar de soslaio.
_ É, a Camorra está no meu encalço - falo, apoiando a cabeça no apoio do banco.
_ Não se esqueçe tão rápido a morte de um ente querido. Você deveria saber disso! Estamos sofrendo reflexo, por suas insanidades. Teremos muitos problemas para enfrentar.- Vittorio diz, olhando para frente sem piscar.
Emudeço, sabendo que uma a verdade está ecoando pelo ar.
_ Direto para o hospital da organização - meu irmão ordena ao soldado que está dirigindo.
_ Você está muito machucado? - pergunta retirando o celular do bolso e digitando algo.
_ Não apenas, alguns arranhões superficiais nos braços e onde fui alvejado.- revelo.
Durante o caminho todo, não trocamos mais nenhuma palavra. Ele estava mergulhado em sua mente e eu na minha.
Anos atrás sequer cogitava a possibilidade de estar vivendo coisas absurdas como as que venho vivendo nós últimos dez anos.
Cinco horas depois, estou em casa, com alguns pontos diminuindo os estragos que a bala fez ao sair, além dos curativos.
Tomo um banho, sentindo minha carne ferida queimar. A água junto com o sabonete manda o sangue grudado em minha pele embora, junto com a tensão que essa noite e madrugada me trouxeram.
Deixo o cômodo para trás e me jogo na cama, completamente nu.
Fecho meus olhos, lembrando que depois de uma disputa como essa, eu costumava t*****r para relaxar o corpo. Agora, nem isso tenho mais.
Abro meus olhos, fitando o lustre, e meus pensamentos vagam em busca dela: Larissa.
Lembro da sua pele alva arrepiando-se ao meu ínfimo toque, de como sua língua despretensiosa molhava seus lábios, de seus s***s redondos e cheios.
Sinto meu sangue aquecer.
"Dio santo, vou enlouquecer de desejo!" - penso.
Cerro mais uma vez minhas pálpebras, lembrando os cheiros e sabores da menina. Durmo com a lembrança dela chamando meu nome durante o orgasmo, na última noite que estivemos juntos. Larissa parecia cantar enquanto gritava por mim. Nesse instante me senti flutuar sem sair do lugar, jamais algo assim mexeu comigo.
Movimento minha perna ferida e sinto um desconforto tremendo. Eu ficarei fora de combate por um bom período, além de ter a minha equipe de segurança redobrada.
Minha cabeça estava a prêmio.
● Continua ....