" Fui jogado na tempestade quando seu amor foi arracado de mim."
Por: Pietro.
Vê-la sendo tocada por outro homem despertou o assassino adormecido desde o dia em que cheguei aqui no Brasil.
Meus pés frearam o veículo que eu dirigia no instante em que vi a menina parada em pé na praça. Meus olhos percorreram seu corpo dentro de um vestido que revelava muito sem mostrar nada.
Meus músculos travaram ao ver o caipira perto dela, seus sorrisos sendo direcionados para ele.
Parei a caminhonete GMC Sierra em um ponto cego para os transeuntes da praça e, escondido pelos vidros insulfimados, observei o casal andar lado a lado pelo local.
Minha atenção é cortada pelo barulho insistente do meu celular que tocava. Ao pegá-lo, vi o nome de Vittorio na tela.
_ Sim! - falo ao atender a chamada.
_ Não é assim que você deve se dirigir ao seu chefe! Quer ficar sem sua língua, moccioso sfacciato! - Vittorio fala cortante.
_ Não estou num bom momento! O que houve?
_ Como anda a recuperação de Gerardo?
_ Caminhando como o esperado. Logo estarei de volta. Acabei de sair do hospital.
_ E você, mio fratello, não está mai...
_ Estou tranquilo, Vittorio. Não precisa se preocupar.
_ Ótimo, seus serviços são indispensáveis para o bom andamento dos negócios. - ele dá uma pausa - Andrea perguntou por ti, sua noiva não está satisfeita com a sua ida ao Brasil.
_ Ela que se contente, eu também não quero esse casamento e por um bem maior estou aceitando. - rebato.
_ Certo! Até breve!
Vittorio encerra a chamada. Guardo o celular no bolso do sobretudo e caço com meus olhos os dois infelizes.
Fico fora de mim ao perceber que outros homens olham com desejo para a menina que quero ter em minha cama.
Crispo os meus lábios em descontentamento.
São por volta das oito quando vejo o casal partir dentro de um carro popular. Sigo-os de perto, querendo mesmo passar por cima dos dois com a minha caminhonete.
Quando estamos próximos da entrada da fazenda, acelero e passo por eles, deixando o caipira comendo poeira.
Paro na primeira porteira e desço. Verifico o cadeado aberto e travo a fechadura móvel.
"Se quiser entrar, vai ter de passar por mim, ragazza!" - sibilei.
Voltei a colocar o meu carro na estrada. Alguns metros depois, embiquei na entrada principal.
Coloquei a cabeça para fora.
_ Aléssio, a filha do Fernando vai chegar em breve, deixe-a entrar. - avisei.
Agora ela está aqui, com seus olhos assustados mirando a maleta que acomoda minhas facas.
Mal ela sabia que eu já tinha escolhido uma especialmente para usar nela, uma que mandei forjar em ouro branco e cujo cabo é forrado de diamantes.
Olhei para seus lábios castigados, onde uma gota do seu sangue quente e apetitoso se formava.
Nunca provei sangue de ninguém, o dela foi o primeiro e fiquei enlouquecido com o sabor dele.
Seria a menina tão doce assim?
Meu p*u deu uma guinada, sua cabeça parece que vai explodir de tanto t***o.
Espero que depois de eu provar do seu corpo, essa vontade descontrolada passe.
Deixo Larissa partir depois de armazenar o seu número no meu celular.
"Amanhã, ragazza, amanhã essa fixação vai acabar." - penso, retirando do cós da minha calça a faca que destinei para usar na pele branca da menina que atormenta meus pensamentos.
Recolho o material que passou a fazer parte da minha vida há dez anos e me tornou o que sou hoje, um transgressor.
Sigo para casa, sentindo o gosto dela na minha boca. Tomar do seu sangue não foi intencional, no entanto, ao ser rejeitado, não consegui controlar meu lado sombrio e ele arranhou a superfície quando eu mordi o lábio sedoso da menina.
Entro na casa silenciosa, olho ao redor e somente a luz parca do segundo andar ilumina as escadas por onde devo subir.
Meus pés sobem um a um os degraus e, ao chegar no segundo andar, meus olhos procuram automaticamente pela porta do quarto que um dia foi meu paraíso. Lembro das vezes que atravessei aquelas folhas de madeira e encontrei a minha esposa sentada diante do espelho se maquiando ou deitada completamente nua, embolada nos lençóis com seus fios dourados espalhados pela fronha do travesseiro. Meu coração pulsava fortemente enquanto eu observava a minha mulher; eu literalmente vivi para Pâmela e quando ela morreu, eu também morri.
Olho para a maleta e aperto sua alça, viro as costas para a porta e subo para meu quarto. Pâmela me fazia voar, agora eu fiquei aqui na vida que ficou na minha vida, tão perto de mim e ao mesmo tempo tão distante, com minhas asas podadas.
Subo mais degraus e chego ao meu destino. A saudade é minha companhia de todas as horas, mas à noite ela é c***l. Olho pela janela o céu cheio de estrelas, todas tão distantes uma das outras, assim como eu estou da minha amada. Agora somos como o sol e a lua, que dividem o mesmo espaço em períodos diferentes.
Puxo as grossas cortinas e busco por uma dose de bebida para anestesiar o corpo, porque alma, essa acho que nem possuo mais.
Depois de dois goles no copo cheio de uísque, rumo para o banheiro. Me dispo e tomo uma ducha fria, encosto minha cabeça no box, sentindo os jatos potentes baterem em minhas costas.
Recordo com amargura quando recebi aquela maldita ligação, lembro que ouvir as palavras :" sua esposa infelizmente faleceu". Deu medo, meu coração bateu sofrendo em silêncio, o aparelho escorregou da minha mão e caiu no chão. As lágrimas vertiam costantes de meus olhos, naquele dia meu mundo acabou, centi o céu desabando sobre mim ,meus joelhos fraquejaram despenquei sem forças sendo aparado pelo piso frio da sala.
Gritei de dor como uma fera machucada, eram duas e dez da tarde, minha esposa tinha ido ver a família em São Paulo e o táxi que ela vinha para casa foi atingido por um caminhão cuja o motorista estava embriagado. A pancada foi tão forte que o carro que o corpo da minha esposa virou um monte de carne disforme preso as ferragens, ela morreu na hora, sem chance de ser socorrida.
Gritei de dor como uma fera machucada. Eram duas horas e dez da tarde. Minha esposa tinha ido visitar a família em São Paulo e o táxi em que ela embarcou assim que chegou no aeroporto de Alegrete, foi atingido por um caminhão cujo motorista estava embriagado. A pancada foi tão forte que o carro virou um monte de ferragens com o corpo da minha esposa preso dentro, transformando-a em um amontoado de carne disforme. Ela morreu na hora, sem chance de ser socorrida, seus ossos foram todos esmagados.
Soco meu peito, travando meus dentes, sentindo a ferida profunda se contorcer dentro de mim.
É isso. Agora, amargo uma existência onde meu coração ficou sozinho na tempestade.