A visita fracassada. ( Larissa)

1243 Palavras
( Continuação) " Quero acabar com as dúvidas que corrói o meu peito e saber a razão para você não sair do meu pensamento" Por: Larissa. Não consegui dormir, passei a noite em claro e vi o crepúsculo chegar. A claridade no céu entre a noite e o nascer do sol, mesclando o preto e o branco, é uma junção perfeita de cores diferentes que combinam entre si. No entanto, são tão diferentes, têm significados e representações tão distintas. É como se corressem sempre em direções opostas, mas no final acabam se encontrando e se complementando de sua maneira torta, mas não pouco fortuita. Estou terminando meu banho, quando saio do box, enxugo meu corpo e me visto com um conjunto de moletom cinza e me preparo com esmero. São seis e meia da manhã quando parto rumo à mansão dos Greccos. Sigo aflita e, ao chegar, solicito a um dos seguranças que avise a dona Carmem que necessito falar com ela e saliento que é algo urgente. Por predestinação ou não, o corpo de seguranças do dia tem o Telles como responsável, um dos mais simpáticos, assim como os demais de sua equipe, que não me enchem de perguntas nem tentam comunicar aos patrões da minha presença no portão interno da casa deles. Fico torcendo minhas mãos inquieta, quando vejo a mulher surgir usando seu típico traje azul e touca branca, meu coração bate mais forte. A senhora se apressa em vir até mim. _ Você veio por causa dele, né, Lari? Não precisa se dar o trabalho de sanar minha curiosidade - diz, balançando a cabeça em negação - , eu sei que sim. Seus olhos respondem por você. _ Quero saber como ele está. Ontem, depois que meus pais chegaram do trabalho, comentaram pouco. Apenas falaram que o Pietro tinha retornado com os pais do hospital. - falo angustiada - Não pude fazer perguntas, seria arriscado demais. - falo baixinho. _ Ele está bem. Agora volte para a sua casa, se sua mãe nos ver aqui, vai querer saber o que tanto falamos. - diz, apontando para onde fica a minha residência. _ Ela não está, saiu para ir ao médico. - revelo - Preciso vê-lo, Carmem, me ajuda a ir até ele. - peço. _ Nem pense nisso, garota! Já falei para sair dessa "roubada" em que você se meteu. Pietro não é um.homem digno de você , Lari. O italiano tem uma energia pesada, pior do que a do pai. Os olhares dele me causam arrepios. - fala, estremecendo o corpo enquanto alisa os braços. - Vai para casa, meu anjo. Deixa eu voltar ao trabalho, tenho muito o que fazer, hoje sendo folga da sua mãe, o serviço triplica. - diz, afastando-se de onde estou. Minhas mãos seguram as grossas barras de metal do portão, encosto minha testa nelas, sentindo a tristeza me dominar. Ontem à noite, quando soube que ele estava de volta, liguei várias vezes, mas Pietro não atendeu nenhuma das minhas ligações. Hoje de manhã também não atendeu, por isso resolvi colocar em prática a ideia que me ocorreu ontem à tarde. Porém vejo-me fracassando. _ Caramba, garota, sei que vou me arrepender muito do que vou fazer. - Escuto a voz da Carmen e ergo a minha cabeça. - Mas preste bem atenção, primeira e última vez que compactuo com esse erro, entendeu, Larissa? Ficarei cheia de remorso se eu te ver .... melhor nem falar.- diz enfiando a chave no cadeado e liberando a minha entrada. _ Obrigada, Carmen! - Peço, atravessando o portão. _ Vamos, temos pouco tempo. Os patrões saíram, com certeza para uma consulta de rotina do senhor Gerardo. Essa é a sua sorte ou azar, não sei. - diz, andando apressada. - Só sei que se eles estivessem em casa, você não colocaria os pés nem na varanda. _ E a Mônica e a outra funcionária, esqueci o nome dela? - falo sussurrando. _ Ex-funcionária, pediu demissão uma semana depois de começar a trabalhar aqui, não aguentou os arrojos de severidade do senhor Pietro. E quanto à Mônica, está na lavanderia passando uma pilha de roupas, nem tão cedo vai terminar - fala fechando a porta da cozinha atrás de mim. Você sabe onde é o quarto dele, então sobe, te dou vinte minutos contados no relógio. Não quero me encrencar com os patrões se por acaso chegarem e te flagrarem aqui dentro. _ Pode deixar, Carmem - falo seguindo pelo caminho que conheço bem. A cada centímetro a menos de distância que me aproxima dele, meu coração se expande de felicidade e apreensão. Quando chego à porta que dá passagem para o seu aposento, meu corpo é atingido por ondas de calor e frio. Excitada, dou duas batidas na folha maciça de madeira e ouço sua voz rouca liberar minha entrada. Adentro com passos leves, fechando a porta atrás de mim. Vejo o homem que amo sentado na cama, seu olhar mirando o nada. Meus olhos percorrem o seu corpo, metade coberto por um edredom de cor preta, assim como os lençóis e as cortinas. Tudo por aqui tinha ficado mais frio, mais sombrio, muito diferente da última vez que pisei aqui. _ Oi. - falo para atrair a sua atenção. Sua expressão se fecha totalmente quando seus olhos param em mim. _ O que você está fazendo aqui? - sua voz sai metalizada, fazendo meu estômago se contrair. _ Quis te ver, saber se está bem. Você não atendeu as minhas ligações e... _ Se não atendi é porque não quero te ver e muito menos falar contigo! - diz com tanto desprezo que sinto o ar ficar rarefeito dentro do cômodo. Meus olhos param no hematoma em seu rosto, perto da testa. Pietro se levanta da cama e vejo a tipoia envolvendo seu braço esquerdo. O italiano passa por mim e abre a porta, um convite silencioso para que eu parta. Engulo em seco diante da sua reação. Ele está me expulsando, mostrando abertamente que não sou bem-vinda. Sinto-me trincar por dentro, uma parte minha desmoronando. Dou apenas um olhar para ele. Junto o restinho do orgulho que me sobra e viro as costas, saindo de sua presença. Quando atravesso o limiar, a porta é batida com tanta força que o estrondo me sobressalta. Olho magoada para o pedaço de madeira, ando a passos céleres cortando o corredor. Quando estou descendo as escadas, dou de cara com Carmem. _ O que houve, Lari? Você está mais abatida do que quando chegou? _ Você tem razão, vir aqui foi um erro! - falo, desviando do corpo da mulher. Sigo meu caminho tendo os espinhos desse sentimento que carrego no peito me perfurando de todas as formas. Sinto as estrelas que antes eu tinha em meu olhar se apagando uma a uma. Chego no portão, sentindo meu corpo inteiro tremer. Quando dou uma última olhada para a mansão, meus olhos avistam uma figura vestida de preto em pé no solarium, olhando em minha direção, seu sobretudo ondulando com o vento. Ele apenas se vira e entra, me deixando mais uma vez sozinha com todo esse amor que me assombra e rasga o peito. Rumo para minha casa, presenciando as cores que preenchem o meu mundo se tornarem cinzas, assim como o céu que parece sentir o que permeia em meu interior e as nuvens que antes bailavam em meus pés, resolvem "chorar", depositando pequenas gotas sobre mim.
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