Lívia A Maré está sempre desperto. Dentro da mansão, o silêncio é denso, quase palpável, mais pesado que o armamento dos seguranças. Contudo, a favela mantém seu próprio tipo de murmúrio. Ele se espalha pelas vielas, escoa pelas sacadas, e transborda das bocas que nunca se calam – mesmo quando deveriam. Agora, esse murmúrio carrega um nome. O meu nome. Minha primeira percepção de que algo estava errado ocorreu na cozinha. Dias haviam se passado desde que Micael não me mantinha presa – não literalmente, pelo menos. Ele permitia que eu circulasse por alguns cômodos, mas sempre sob vigilância. Nenhuma palavra era trocada, mas eu sentia os olhares fixos em mim. Naquela manhã, fui pegar café. Três funcionárias cochichavam. Elas silenciaram assim que entrei. Mas já era tarde. Uma delas

