CAPÍTULO 01

2161 Palavras
ANGEL FERREIRA Mais um dia, mais uma luta. Como sempre, desde que meu pai nos abandonou, minha mãe e eu tivemos de nos virar da melhor forma possível. Fazia sete anos que ele havia nos deixado, e minha mãe quase entrou em depressão por isso. Ela o amava com toda a sua alma e daria sua vida por ele..., m*l sabe ela que esse homem que tanto ama é um crápula que odeio com todas as minhas forças. Às vezes me pergunto como um pai foi capaz de ser tão sujo com a própria filha, a filha que tanto o amou, que tanto teve orgulho de ser sua filha, que o respeitou... De que valeu isso tudo?! Se no final o pai que eu idolatrava e chamava de herói era, na verdade, um dos vilões mais baixos do mundo? Sempre que minha mãe tenta falar dele comigo eu mudo de assunto. Ela fala tão bem, que se descobrisse o que ele fez comigo, iria atrás do meu pai até no inferno para matá-lo. O que eu não entendo é que mesmo se não tivesse feito o que fez comigo, ele nos abandonou sem nenhuma explicação! Sumiu sem mais nem menos, deixando minha mãe e eu na merda! Eu o odeio por ter feito uma coisa tão baixa comigo e o odeio mais ainda por ter ido embora e ter feito minha mãe entrar em uma depressão horrível por todos esses anos. Um ano atrás minha mãe descobriu que está com câncer; os médicos disseram que ela poderia se curar com o tratamento, as chances são bem poucas, mas mesmo assim, prefiro me agarrar a essa pontinha de probabilidade. Já perdi muita coisa nessa vida, se eu a perder talvez não suporte mais toda a dor contida em meu ser. O tratamento é uma fortuna, óbvio, assim como todos os remédios que minha mãe precisa ingerir. Preciso fazer o possível e o impossível para conseguir dinheiro para custear tudo. Neste exato momento estou indo a uma entrevista de emprego. Mandei meu currículo para muitos lugares e só um me ligou para a tão sonhada entrevista. Se tudo correr bem, serei a mais nova contratada da empresa Architecture Cooper´s, uma das melhores e mais famosas do mundo. Com a partida do meu pai tive de largar a escola. Sempre sonhei em fazer faculdade de arquitetura, mas infelizmente não consegui; além de não ter terminado os estudos, meu pai nos deixou na rua da amargura, sem nada. Nesse período de tempo fui arrumando alguns b***s para fazer; precisava me sustentar, então o que aparecia eu aceitava. Aprendi a desenhar roupas e a costurar, quem sabe eu não consiga abrir um negócio só meu, com roupas feitas por mim? Mas antes, preciso passar nessa entrevista. Sei que vai ser muito difícil porque não serei a única entrevistada, com certeza as outras devem ter uma boa experiência e, óbvio, estudos completos, por isso tive que mentir no currículo alegando ter estudos. Sei que é errado mentir porque lá na frente isso pode dar uma merda das grandes, mas estou desesperada! Eu e a minha mãe nos mudamos da nossa casa do centro de Nova York para uma no Brooklyn, que é alugada; a do centro tivemos de hipotecar para pagar dívidas que aquele verme nos deixou. Estou em frente ao prédio, que é enorme, acho que são uns trinta andares. Assim que entro me sinto uma intrusa, tudo aqui é moderno e sofisticado, nunca vi tanto luxo assim! O hall é gigante, arejado, com um piso liso de porcelanato e um lustre enorme, muito maior que minha humilde casa, muito mesmo. Para cada canto que olho percebo mais e mais riqueza, fora as funcionárias, que se vestem elegantemente; me sinto tão desconfortável aqui, nunca me imaginaria trabalhando em um lugar como esse. Me dirijo para a recepção para saber onde estão fazendo as entrevistas. Quando chego, vejo uma mulher alta, loira, e bem vestida em uma saia lápis preta e um terninho preto; ela não percebeu minha aproximação, porque quando a chamo, praticamente pula da cadeira de susto. Assim que ela se vira, me surpreendo em ver que a recepcionista é Diana, uma grande amiga minha que não vejo desde que saí do Brasil. — Diana! — Angel! Nossa, como o mundo é pequeno! Meu Deus, que surpresa boa — falou ela, saindo de sua mesa para me abraçar. — Sim. Poxa, Diana, estava com tanta saudade de você! — Eu também, Angel, pensei que não te veria mais. — Eu também. Sinto meus olhos até marejarem pela emoção de vê-la, por anos achei que não a veria mais e por alguns momentos temi com a possibilidade de ela arranjar uma amiga melhor que eu. Diana era a minha única amiga, assim como eu era a dela. Deus! Quanta saudade senti dessa loira maluca. — Mas me conta, Diana, o que faz aqui? — Bom, consegui uma bolsa de estudos aqui em Nova York e fiz arquitetura, depois que me formei tentei arrumar um emprego nessa área, mas não deu. Ainda não desisti de tentar. Trabalho aqui há um ano como recepcionista para ganhar um dinheiro, tenho de me sustentar e o salário é ótimo. Como moro sozinha é melhor ainda; minha casa é aqui por perto, mas e você? O que faz por aqui? — Eu vim tentar conseguir um emprego, vou ser entrevistada e se tudo der certo eu serei contratada, mas olhando este ambiente, acho que não vou conseguir — digo cabisbaixa. — Por quê? Você sempre foi muito inteligente, suas notas eram impecáveis no colégio e sempre aprende rápido, por que não conseguiria? — Olha em volta e olhe para mim, não me encaixaria aqui. Não fiz nem faculdade, mas preciso do emprego. Preciso ajudar a minha mãe. — Como assim? Você não veio com seus pais para cá porque seu pai ganhou uma proposta irrecusável de emprego? E como assim não fez faculdade? — Fico por alguns segundos ponderando entre contar e não contar, mas sei que posso confiar nela e também preciso dividir isso com alguém. Preciso desabafar, e por mais que tenhamos ficado muito tempo longe uma da outra, ainda sinto que posso confiar em Diana. — Olha, quando você puder conversar comigo, juro que explicarei tudo, mas agora preciso ir à entrevista, onde é que fica? — Bom, vou te dar meu endereço. As entrevistas são no trigésimo andar, e se prepara que é com o novo presidente da empresa, o filho do senhor Cooper, que tenho de admitir, que homem é aquele? O homem mais lindo que já vi até hoje! Para falar a verdade, os irmãos Coopers são uma tentação... — diz se abanando. — Está bem, mas o que eu quero é o emprego e não um chefe que você diz ser lindo. — Nesse momento só quero o emprego mesmo. — Está duvidando de mim? Em matéria de homens, sou uma profissional. — Começo a ri ao ouvir suas palavras. — Matéria de homens? E isso existe? — Claro que no mundo dela sim. — Claro que sim, é a minha matéria favorita. — Caímos na gargalhada e nossa, me sinto tão bem! Faz tempo que não rio assim… de verdade. — Olha, você vai me atrasar, agora tenho de ir. — Pego o seu endereço e vou em direção ao elevador. Finalmente consigo chegar, e na hora certa; assim que entro chamam meu nome, vou em direção à porta em que uma mulher n***a de cabelo encaracolado se encontra, ela deve está na faixa dos quarenta anos, se não me engano. Olho as candidatas e acho que não tenho nenhuma chance; além de lindas, elas são bem elegantes e aparentemente muito confiantes, se encaixam perfeitamente nesse ambiente, fora que parecem ser bem inteligentes. Passo por elas rapidamente e sei que devem estar me olhando. Chego perto da moça n***a que havia falado o meu nome e ela se apresenta. — Olá, sou Heloísa, assistente pessoal do senhor Cooper e você é a Angel Ferreira, não é? — pergunta ela que, para mim, parece ser simpática. — Sim. — É tudo que consigo dizer, e acho que ela percebeu o quanto estou nervosa. — Olha, só um conselho, seja rápida, objetiva nas respostas e principalmente, tente ficar calma. — Ela sorri para mim e eu devolvo. — Obrigada. — Agradeço. Ela sorri novamente e então me encaminha para outra sala. Quando entro vejo uma janela de vidro puro enorme que vai do teto ao chão; antes da janela tem uma mesa grande com uma cadeira de couro preto, que parece ser bem confortável, e outras duas cadeiras à frente da mesa, também de couro, só que menores. Olhando bem, vejo que esta sala tem um toque masculino, e é aí que a ficha cai: estou na sala do senhor Cooper. — Espere aqui, o senhor Cooper irá entrevistá-la em alguns minutos — digo que sim e então ela sai, me deixando sozinha naquela enorme e exagerada sala. Para mim é exagero demais uma sala desse tamanho todo para uma pessoa só, mas fazer o que, não é?! Cada um tem um gosto. Enquanto espero, olho a sala bem atentamente e fico admirada com a beleza e luxo que essa sala exala; consegue ser até mais luxuosa que o hall! Cores escuras e uma visão linda do centro de Nova York fazem o local ficar moderno e lindo. Me assusto quando escuto a porta sendo aberta atrás de mim, quando olho dou de cara com um deus grego. UAU... Um homem alto, forte, nossa, como ele é forte, com um terno azul-escuro feito sob medida que abraça muito bem seus músculos e cabelo n***o penteado para trás. Ele me observa com aqueles lindos e hipnotizantes olhos azuis. Deus, como ele é lindo! Não, acho que lindo é apelido. Ele me avalia dos pés à cabeça. A forma como ele me olhou fez-me sentir tão exposta, tão vulnerável. Acho que nua seria a palavra certa. Quando ele se aproxima, fixa seus olhos nos meus, ele me olha de um jeito que faz meu corpo formigar de uma forma inexplicável. Ele para tão perto de mim que posso ouvir sua respiração e sentir o calor de seu corpo. Depois de meio minuto ainda me olhando, ele estende sua mão para me cumprimentar e, quando a aperto, uma eletricidade passa pelo meu corpo, uma sensação que jamais havia experimentado antes. — Sou Alex Cooper, o novo presidente da Architecture Cooper´s, e você é? — Angel Ferreira — falo rapidamente e tento o máximo parecer o menos nervosa possível, mas é meio difícil com um deus grego desses te olhando como se quisesse te comer com os olhos — Sente-se, por favor. — Ele pede me mostrando a cadeira. **** A entrevista foi boa e acho que me saí bem, bom, é o que espero. Segui o conselho de Heloísa; ele questionou o fato de não estar fazendo faculdade na área que a empresa atua, mas consegui sair dessa sem demonstrar nervosismo. Ele disse que, caso fosse aceita, seria a secretária dele e que deveria, no mínimo, entender o básico do assunto, o que, graças a Deus, eu sei; às vezes virava a noite assistindo videoaulas e lendo livros sobre arquitetura. Depois de me despedir de Diana e dizer que mais tarde irei à casa dela, fui para casa. Quando cheguei, tratei de contar como foi tudo e que reencontrei Diana, minha mãe ficou feliz e torcendo por mim e também me disse para ir até a casa da minha amiga colocar o papo em dia. Minha mãe me pediu para avisar à Diana que está morrendo de saudades da loirinha travessa dela, já que, quando criança, era mais um molequinho do que uma menininha. Depois de comer algo e tomar banho, me arrumo e vou para a casa dela, que parece bastante acolhedora. O bairro em que ela mora é de classe média, seu apartamento é bem espaçoso, simples e chamativo; claro, é Diana Tavares quem mora aqui. Assim que contei tudo, desde quando me mudei para cá até os dias de hoje, ela ficou chocada e boquiaberta. Minha amiga se sentiu m*l por mim e com ódio do meu pai, é claro; acho que toda pessoa que ouvisse as coisas horríveis que ele me fez sentiria ódio dele também. Depois de conversar bastante, recebo uma ligação, atendo e Heloísa me diz que o emprego é meu e que começo amanhã. Fiquei muito feliz e praticamente pulei de alegria porque, pela primeira vez em anos, estão acontecendo coisas boas comigo. A primeira foi reencontrar Diana e a segunda é saber que terei um emprego e finalmente poderei pagar o tratamento para a minha mãe e poderemos comer bem, pois em alguns dias eu deixava de comer para que minha mãe se alimentasse, afinal ela está doente e precisa mais do que eu. Agora será diferente, consegui um emprego que paga bem e que vai me ajudar muito! Só espero que nada de r**m estrague a minha felicidade; já sofri muito, só peço a Deus que tudo dê certo daqui em diante.
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