Capítulo 6

959 Palavras
– Ela é tão ridícula! Não tenho culpa de ter que roubar o parceiro de alguém, poxa! Thayná assoa o nariz pela centésima vez em cinco minutos e adiciona mais um lenço de papel à pilha que se forma em uma das camas. Sua cabeça repousa na minha perna. Desde a hora do almoço, Maya e Thayná não podem nem respirar perto da outra sem acabar com a paz da casa. É xingamento aqui, troca de acusações ali... Sério, já estou ficando com preguiça. Antes de entrar no programa, jurei para mim mesma que não me deixaria levar pelo drama, mas, pelo visto, isso é impossível. A encrenca  te persegue onde quer que você vá. – A Maya só está estressada por causa da situação. Tem gente aqui que sonha entrar no programa há muito tempo, então a possibilidade de voltar para casa mais cedo se torna assustadora – afago seus fios acerejados, tentando acalmá-la. – A Milene está certa – Hellen cruza os braços. – Dê tempo ao tempo. Daqui a pouco tudo vai ficar bem. Thayná esfrega os olhos, em uma tentativa de secar as lágrimas, porém acaba borrando a maquiagem. Para ser sincera, parece que ela levou um soco. Cadê a maquiagem à prova d’água quando a gente precisa? – Duvido muito. A Maya deixou claro que não vai com a minha cara desde que pisei na casa. Ela me lança olhares de repreensão sempre que converso com algum garoto. Ela esquece de que estamos aqui pelo mesmo objetivo. E não vai ser a birra de uma garota mimada que vai me fazer jogar a toalha. Ficamos debatendo a situação pelo que parece um século e meio até que Ariana chega com uma xícara de chá de alfazema. Segundo a própria, essa bebida ajuda a relaxar, pois atua diretamente na tensão nervosa. Ela a entrega à Thayná, que agradece com um sorriso fraco. Instantes depois, Akemi irrompe o aposento, parecendo preocupada. – Conversei com a Maya lá no terraço. Ela está arrasada e não quer nem olhar na cara da Thayná. Ai, que saco! Pensei que chegaria aqui e veria todo mundo se dando bem, mas tudo está desmoronando logo no primeiro dia. Eu só queria curtir o verão e achar alguém que me trate como a princesa que sou! Aff, já até costurei o meu vestido de casamento! Por que as coisas são tão complicadas, Kami-sama[1]? Hellen e eu trocamos olhares, a confusão estampada em nossas expressões faciais. – Como assim você já costurou seu vestido? – É Ariana quem exterioriza o questionamento geral. – Sonho com o dia do meu casamento desde que me entendo por gente. Sempre ajudei na loja de vestidos de noiva da minha família, então constantemente idealizo o momento em que me sentirei tão linda e feliz como nossas clientes. Toda vez que entrego um traje, fico imaginando como seria maravilhoso se eu pudesse viver todo o misto de emoções que a cerimônia traz. Se pudesse encontrar alguém por quem meu coração palpite tão rápido que parece que vai sair do peito. Alguém que me ame incondicionalmente, mesmo quando eu estiver de TPM ou com o cabelo em pé – Akemi suspira, sonhadora. – Estou cursando Moda porque quero que minhas criações levem felicidade às pessoas, mas também desejo ter meu final feliz. Pode parecer bobo, mas acredito que meu príncipe encantado está em algum lugar por aí, só esperando para me encontrar. Nossa, que vontade de colocar a Akemi em um potinho! É raro uma garota acreditar tanto no amor dessa maneira. Talvez meu príncipe seja um sapo que está saltitando em algum brejo, mas acho lindo alguém querer viver um conto de fadas. – Não quero ser estraga prazer, mas esse negócio de príncipe está meio caído – Hellen exibe uma careta. – Ninguém é tão perfeito assim. De início pode até parecer, mas, na primeira dificuldade, as máscaras caem. Um silêncio tumular se instaura. Por que estou com a sensação de que a Hellen disse isso por experiência própria? Ela está escondendo alguma coisa, dá para notar pela sua expressão misteriosa. Bem, é melhor não me meter. Já basta o dramalhão mexicano da Thayná e da Maya. – Ai, deixa ela acreditar no que ela quiser! – Ariana passa o braço pelos ombros de Akemi. – Eu acredito em alma gêmea. Não neste negócio de que só existe uma pessoa para você e olhe lá. Para mim, existe alguém especial para cada momento das nossas vidas. O Universo sempre faz questão de mandar alguém que nos fará crescer ou mudará nossa história de alguma forma. Mesmo que esse alguém seja um bosta que não merece nem a sujeira do nosso sapato. A discussão prolonga-se, cada uma expondo seu ponto de vista de forma amigável. O bate-papo só é interrompido quando escutamos um “bip”. Akemi dá uma olhada a tela do smartphone preto que o programa entregou aos participantes (nem lembrava deles!) e, com um sorriso de orelha a orelha, executa uma dancinha ridícula, porém animada. – Nem acredito que serei a primeira pessoa a dizer isto nesta temporada: galera, recebi uma mensagem! De repente, surge gente até do subsolo. Os participantes cercam a cama em que estamos sentadas, curiosos para saber do que se trata. Ariana vai buscar Maya, reaparecendo um pouco depois. Akemi limpa a garganta com uma tossezinha e começa a ler:   Quem vai dizer a verdade e quem sofrerá as consequências? Dirijam-se para a fogueira e preparem-se para o primeiro desafio do Ilha do amor.   #Verdadeouconsequência #Nãovalementir   Todos entreolham-se, já sabendo que estamos prestes a encarar o primeiro dos milhares de desafios bestas do Ilha do Amor. Será que dá tempo de me esconder?   [1] Deus em japonês.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR