Marcus
Enquanto o jato cortava os céus em direção ao Brasil, eu observava o homem medroso de terno com uma expressão de desconfiança. Seus olhos evitavam meu olhar, e sua voz parecia nervosa enquanto conversava com meu irmão pelo viva-voz. Era difícil confiar em alguém que claramente estava desconfortável e que até mesmo sua postura traía seu nervosismo.
Eu me recostei na poltrona, minha mente repleta de pensamentos. Os últimos meses tinham sido um verdadeiro desafio, uma provação. Lá, no lugar sem graça e desprovido de qualquer atrativo, eu encontrei um tipo diferente de força, não apenas nos meus músculos que agora estavam mais tonificados, mas também dentro de mim. A monotonia do lugar me forçou a encarar a mim mesmo, minhas fraquezas e medos, e a enfrentá-los de frente.
O aparelho celular no viva-voz da ecoava as palavras do homem medroso. Meu irmão, por outro lado, parecia mais seguro e confiante na conversa, cobrava explicações do gerenciador da empresa dos EUA, eu sai daquele lugar na surdina e não pretendo voltar. Eu podia ouvir na voz do meu irmão a determinação que sempre esteve presente desde que éramos crianças. Ele era o meu apoio, aquele que esteve ao meu lado em todas as minhas decisões, e eu confiava plenamente nele.
Enquanto o avião continuava a sua trajetória, eu me peguei pensando no que estava por vir. O Brasil era um lugar de lembranças, de raízes, e também de desafios. As experiências que vivi me transformaram, e eu não podia voltar atrás. Não queria voltar atrás. Havia uma determinação ardente dentro de mim para enfrentar o que fosse necessário e seguir em frente, mesmo que isso significasse confrontar ela, a Belly.
O som da voz do homem medroso começou a ficar mais agitado, suas palavras tornaram-se um borrão enquanto meus pensamentos se afastavam da conversa. Olhei pela janela e vi as luzes das cidades à medida que nos aproximávamos do Brasil. Uma mistura de ansiedade e excitação borbulhava dentro de mim. Eu estava prestes a mergulhar em um novo capítulo da minha vida, um capítulo cheio de incertezas, mas também de oportunidades.
Enquanto o jato continuava a sua descida, eu decidi que enfrentaria o desconhecido de cabeça erguida, sem olhar para trás. O passado estava lá, uma parte de mim, mas não me definia. O futuro estava à minha frente, e eu estava determinado a abraçá-lo com coragem e determinação.
A conversa no viva-voz continuava, mas minha mente já estava ocupada com os desafios que me aguardavam assim que o avião tocasse o solo brasileiro.
Ligação Gerenciador EUA E Andrew Hernandez
Eles já se falavam há alguns minutos…
— Tem certeza de que não sabe onde o Marcus se meteu? Todo mundo em Michigan está atrás dele, dro'ga. Cadê os seus homens que ainda não nos deram nenhuma resposta? — meu irmão falava com o homem trêmulo, e eu estava sentado à sua frente, sorrindo e ameaçando-o com o meu olhar maléfico e uma bebida na mão. Ítalo ria da cara do sujeito de terno, que não sabia o que responder ao meu irmão.
— Senhor, minha equipe está toda em busca dele. Logo o encontraremos e eu lhe darei notícias. Só peço um pouco de tempo. — sorri, percebendo a voz trêmula do homem. Tenho certeza de que meu irmão não engoliu a resposta dele.
— Eu quero respostas claras e imediatas, entendeu por'ra — Andrew falou alto na ligação, ele falava em inglês. Sinalizei para que o homem parasse com as enrolações, e ele tentou novamente.
— Senhor, por favor, eu só preciso de mais tempo.
— Marcus, seu filho da pu'ta. — ele falou em português, me fazendo rir. — Para de rir da minha cara, mano. Eu sei que você está aí nesse jato. — gargalhei tendo a certeza que meu irmão já sabia dos meus planejamentos.
— kkk, não estava rindo de você, mano. Estava rindo desse idio'ta à minha frente que não sabe nem engambelar.
— Você nunca muda, né? O pai lou'co atrás de você, e você a caminho do Brasil.
— Espere eu chegar. Se o pai souber ira mandar-me retornar, o jato fará o retorno, irmão, e eu te juro que abro essa porta e pulo das alturas. Eu não aguento mais aquela empresa. Aquilo lá está me enlouquecendo. — foi a vez do meu irmão gargalhar da minha cara. Mas logo falou serio.
— Só me dê a certeza de que não vai atrás da Belly, irmão. Só isso, pô. Ninguém quer te ver bêbado o dia todo e a noite toda, mano.
— Não vou procurá-la. Mas você sabe que não fujo dos meus problemas. Se ela vier atrás de mim, vai me encontrar. Mas isso não significa que ela vai voltar a me manipular.
— Eu espero por isso, irmão. Sinceramente, espero. Você vem direto para Joinville? — ele perguntou.
— Vou passar na casa do Ítalo. Irmão, ele tem uns contatos que vão nos dar uma expansão no Paraguai. Mas logo desembarco aí.
— Onde ele mora?
— Você não vai ficar me vigiando, vai?
— Você sabe que não, mas é bom ficar de olho, não é mesmo?
— A mãe dele mora em São Paulo. Pode ser que eu fique um tempo a mais por aqui, uma semana mais ou menos. Peguei um trabalho que estava me aguardando há algum tempo.
— O que vai fazer?
— Espionagem.
— É isso aí, irmão. Só não demora para voltar. Preciso de você aqui. Você sabe disso.
— Com certeza!
— Um abraço.
— Outro, mano!
Encerrei a ligação e passei o celular para Willian, que prontamente me devolveu o meu aparelho, que estava desligado. Com um olhar desconfiado, liguei o dispositivo e fiz uma verificação para garantir que tudo estava como eu o deixara. No entanto, fui surpreendido por uma série de chamadas não atendidas na caixa de mensagens.
O indivíduo de semblante apreensivo saiu do meu campo de visão, dirigindo-se à poltrona situada atrás da minha. Ele parecia evitar permanecer próximo por muito tempo, provavelmente ciente da minha falta de paciência. Por outro lado, Ítalo ocupou o assento anteriormente ocupado por Willian.
Continua...