CAPÍTULO 4

1875 Palavras
Depois de dois dias de toda aquela turbulência ela havia voltado ao seu estado normal, sorridente e alegre, embora agora conhecia as coisas e pessoas, como o rei e a rainha, uma parte da realeza do condado. Mas o que mais havia chamado a atenção não era tudo aquilo, ela nunca ficaria deslumbrada com nada daquilo, gostava do natural, do amigável. Gostou de Sebastian Castely, embora a conversa tenha sido rasa, ele seria uma pessoa que Judy conversaria mais de uma vez. Poderia ser um bom amigo. Ela sabia que quase nunca tinha amigo, seria engraçado um agora. Olhou para a bolsa que havia levado para comprar alguns mantimentos na venda no meio da estrada, colocou tudo na charrete, foi até o cavalo marrom e deu a cenoura, passando a mão na cabeça do animal, esperando ele mastigar. Ela sempre fazia aquilo. Cuidava de tudo que estava na casa e tudo que fazia parte da casa. Judy subiu na charrete e deu corda para o animal, até que ele começou a andar, rumo a casa, havia nuvens no céu e já devia estar para anoitecer, tinha um tempo bom de charrete até a sua casa. Não era bom para ela andar sozinha à noite por uma estrada. Assim que passou pela ponte passaram dois homens em cavalos enormes. Judy estranhou, para aquelas bandas era tudo muito calmo. Havia três curvas para passar na estrada, a primeira havia sido passada e a segunda também, mas na terceira viu que havia algo de errado, algo não, alguém errado, era os dois homens no cavalo, Judy parou a charrete e encarou os homens que bloquearam a estrada, ela sabia os perigos, mas todos os vizinhos sabiam quem ela era, sabiam e conheciam a moça para dizer que era boa e que não indicava imoralidade ou mau nem para uma mosca. - A senhorita mora por essas bandas? - Perguntou um deles. Um deles era grandão, usava um casaco marrom e um chapéu velho. O outro era baixo, vestia roupas um tanto desgastadas e velhas. Todos os dois tinham barbas e olhavam de uma maneira bizarra para Judy. - Sim, passando a colina - Mentiu, ela morava antes da colina, próximo ao lago, ao leste. - A senhora tem dinheiro? - Ela sentiu o buraco no peito abrir. Ela iria ser assaltada. Merda. Não dava para correr. - Tenho, eu vou pegar e aí entrego para os senhores, só me deixem ir depois - Ela colocou a mão para cima e pegou a bolsinha com notas e algumas moedas, jogando para o homem. - Desculpe-me senhorita, hoje não vamos deixar ninguém.... - Foi aí que ela viu um deles puxar uma faca grande, muito grande. Judy não teve tempo, soltou as cordas e fez o cavalo se assustar, com o susto ele andou para trás e ele ficou de pé, por segundos, mas que fez a charrete se deslocar e Judy foi arremessada ao chão, com força total. Caiu de costas e sentiu o ar sumir. Mais pode escutar um grito e um relincho de cavalo. Ficou com medo, virou o rosto com dificuldade e viu três homens lutarem, corpo a corpo, ela conhecia um deles, só que estava tonta demais para poder identificar direito e saber se era real. Viu o baixinho cair de olhos fechados e encarou com mais precisão o homem alto e bem vestido lutar e acertar inúmeras vezes o rosto do homem maior. Não uma, duas, três ou quatro vezes, foi muitas vezes até desacordar o homem e se afastar. Com os punhos doloridos e com um pouquinho de sangue. - Inferno! - Foi o que Sebastian falou depois de bater em dois homens. Saiu do transe e foi em disparada para o chão, olhando um corpo miúdo no chão, quando ele viu o rosto e os olhos ficaram perplexo. - Minhas costas estão doendo - Judy falou, em um sussurro coerente. - Obrigado. - Você não pode se mexer, vou colocar meu cavalo junto do seu e a gente vai junto - Ele se levantou e fez o que havia falado. Rápido. Preocupado com a garota no chão sem se mover. Pegou a corda que trazia junto ao cavalo e fez questão de amarrar os dois homens em uma árvore, longe da estrada, só para garantir e com belos panos enfiados na garganta, para evitar o grito. Isso ajudaria para que quando voltasse ele pudesse tomar as devidas providências, juntamente com a milícia e a guarda real. Terminou o planejamento e se aproximou da garota, olhou para Judy e por um segundo quis cometer um crime com duas vítimas. Pensou o que seria se ele não tivesse chegado aquela hora. Ele respirou fundo e guardou a própria raiva em um baú bem pequeno que ele tinha dentro de si mesmo. - Vou levantar você e vou te colocar na charrete, vai doer um pouco - Ela balançou a cabeça de leve. Ele passou seu braço por baixo dos joelhos dela e depois pela cintura. - Um, dois... - Aiiii - Foi o que ela gritou dos fundos do pulmão, antes de ser erguida e colocada devagar sentada, doeu, ardeu, mas sentiu a dor ficar dolorida e não mais aguda. - Fica assim, parada para que eu possa subir, você consegue? Ele perguntou. - Sim, eu vou ficar legal - Ela arfou. - Você vai sim, não se preocupe, Judy. Sebastian tirou o casaco e ficou com apenas a camisa branca, então subiu e se sentou do lado dela, segurando o rosto dela e o colocando apoiado no seu ombro. Deu corda para os cavalos e eles seguiram, passando a última curva e depois de mais um tempo chegando a casa dela, uma pequena mas bonita cada, com uma cor clara e com janelas pintadas de uma vermelho claro, combinava com cada detalhe, porém não havia ninguém. Sebastian se deu conta o quanto ela era sozinha. Sem pai, sem mãe, sozinha. Aquilo incomodou ele, de uma forma diferente. - Tem um pequeno celeiro, atrás da casa - Ela o guiou, ele pode soltar os cavalos, cada um em uma baia, e olhou para Judy sentada na charrete, olhando para ele atentamente. - Vou ser eternamente grata a você. - Isso não é necessário Judy, você não me deve nada - Ele se aproximou e ergueu a mão até ela, com um sorriso mais calmo no rosto. - Consegue ir andando? - Consigo - Ela enlaçou suas mãos a dele, ela viu o punho dele coberto por sangue seco. - Sua mão. - O rosto dele deve ficar pior. Judy pegou a mão dele e apertou, enquanto colocava ela mesmo em pé, com uma ajuda extra. - Tenho algo que pode ajudar a sua mão - Eles começaram a caminhar, ainda tinha um incômodo nas costas, algo suportável. - O que veio fazer por esses lados? - Trazer algo para você - Ele mostrou um embrulho. - Não posso aceitar. - Qual o motivo da desfeita? - Lógica, se você me dar algo eu terei que lhe dar algo em troca. Eu não tenho nada. Sebastian seguiu o caminho até chegar a entrada da casa, Judy abriu a porta com a chave e revelou um aconchegante e totalmente ambiente, diferente do que o rapaz estava acostumado. A começar pelo o estilo do primeiro cômodo que ele havia entrado, com um chão de madeira, nessa altura Judy havia soltado seu braço e caminhou por todo o lugar, acendendo as lamparina para impedir a chegada da noite escura, foi até a cozinha pequena e acendeu o fogão a lenha, jogando um pouco de óleo e um palito de fósforo, colocando água para ferver e pegando um vidro com um líquido amarelo e um montinho de algodão, colhido a poucos dias. - Você devia ter um gerador. - Não saberia mexer naquilo. - Aqui é diferente - Sebastian estava diante uma sala, com paredes claras e alguns quadros diferentes. Deixou o casaco e o pacote no aparador. Ele queria entrar mais para dentro, mas ficou ali parado, até a moça de vestido cinza se aproximar, com um vidro na mão e algodões. - O que é isso? - Remédio para sua mão - Ela se aproximou da mesa e se sentou em uma das cadeiras. - Sente-se. Ele se aproximou acuado, sentando-se e estendendo a mão para ela. Assim que a mão dela tocou a sua, ele sentiu aquela sensação gostosa. Boa. Mas não era só ele que havia sentido isso, Judy havia sentido a mesma coisa, mas foi tão inocente e tão singelo que passou despercebido por ela. Ela molhou o algodão e olhou para ele quando encostou ele no punho dele, de forma que ardeu, bem mais do que Sebastian esperava. - Arde. - Vai sobreviver -Ela terminou a limpeza e deixou a mão dele, mãos grandes, de dedos longos. -O que é isso? - Falou, apontando para o frasco. - Xixi de cavalo - Ela esperou para ver a expressão incrédula dele. - É brincadeira! São ervas. - Menos r**m - Ele sorriu, agora foi a vez do sorriso brotar no rosto dele, um sorriso de covinhas. - Vem, vou mostrar a casa - Eles se levantaram e seguiram dali até um corredor, disposto de 3 portas. - Nessa porta temos o lavabo - Tudo cheirava a eucalipto. Ele reconheceu o cheiro. Ela fechou a porta e foi até a outra porta. - Aqui é o meu lugar preferido. Ela abriu e revelou um lugar bem peculiar, contornado por estantes de livro e no centro uma mesa, que tinha só dois livros e o baú. Os dois entraram no lugar. Sebastian circulou pelo lugar e parou no rosto dela. - Você tem muitos livros. - Talvez eu gasto meu salário neles, só talvez - Ela sorriu. Sebastian deu uma última volta na sala, passou os olhos pela mesa e viu o envelope. Aquela era a carta. - Você leu a carta? - Comecei a ler, mas comecei a chorar - Falou sorrindo. - É a história dele e da minha mãe. No começo, creio que vou encontrar o meio e fim também, claro e a parte que me toca. Viu por trás do sorriso uma chama de fogo, uma que se apagou e tirou o brilho do olhos dela. O brilho que ele começou a gostar. Era um brilho bom. - Me espere aqui, tenho algo para você... - Eu disse que - Não deu tempo dela terminar a frase, ele saiu, mas ela ficou ali até ele voltar com o embrulho. - O que é isso? - Abra. - Não posso aceitar Sebastian, não mesmo! - Ele abriu o presente, ele mesmo, sem drama, aí os olhos dela passearam pelo livro francês. - Oh Deus, Sebastian eu... - Em troca você me faz um chá. Em um momento rápido e de euforia ela se aproximou e enlaçou os braços nele e o abraçou. Um único abraço despertou Sebastian de uma maneira bonita. - Obrigado, foi o melhor presente que ganhei. Na verdade era o único presente que ela havia ganho de uma pessoa que não fosse sua mãe ou o visitante da madrugada, Theodor. Mas Sebastian, ele não sabia e não precisava saber também.
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