CAPÍTULO 2

767 Palavras
POV RAY A Affection era como um coração pulsante na noite da cidade. Suas luzes coloridas dançavam pelas paredes como serpentes hipnotizantes e o som da batida grave fazia o chão vibrar levemente. O cheiro era uma mistura intoxicante de perfume caro, suor e promessas quebradas. Eu estava encostada do lado de fora, embaixo da marquise iluminada com néon azul, observando a entrada como um predador estuda a toca de sua presa. — Se continuar com essa cara de assassina, vão te barrar na porta — murmurou Meyer ao meu lado. Revirei os olhos sem dizer nada. Meyer era bonito demais para o próprio bem, o que provavelmente explicava o porquê de nunca levarem ele a sério. Ele tinha aquele sorriso fácil de quem podia te fazer rir antes de te esfaquear. — Vai ficar aí ou quer que eu entre primeiro pra mostrar como se sorri? — ele provocou, me lançando um olhar debochado. — Vai na frente — murmurei, já enjoada do som da voz dele. Entramos. A música explodiu nos meus ouvidos como um soco. Uma mulher dançava no palco central, seus movimentos fluidos e sensuais hipnotizavam quem olhava, mas eu não estava ali pra isso. Meus olhos percorriam o ambiente como uma máquina. Identifiquei rapidamente as saídas, o segurança da porta de trás, o barman de olhar nervoso e os dois homens no fundo, em uma cabine privada, passando algo de mão em mão. O jogo começou. Meyer se afastou, como combinamos. Ele agiria como um dos bêbados encantadores que flertam com qualquer um. Eu seguiria pela lateral, rumo ao camarim onde, segundo Jack, uma das dançarinas estava vendendo mais do que dança. O corredor atrás do palco era abafado e tinha cheiro de cigarro queimado e cola de cabelo. Luzes vermelhas piscavam fracamente, como se a boate tentasse disfarçar sua própria decadência. Me movi silenciosa, as botas sem salto não faziam barulho, o casaco colado ao corpo escondia minha arma e minha lâmina. A porta do camarim estava entreaberta. Vozes sussurradas escapavam pela fresta. — …ele disse que mais um lote chega amanhã. Vai dobrar a produção. — Ailin não vai perdoar se descobrir. — Ela não vai descobrir. Ninguém vai. Sorriso. Idiotas. Empurrei a porta com a ponta da bota, já sacando a faca. Dois rostos viraram pra mim com olhos arregalados — um deles era a dançarina. Morena, tatuagens nos braços, olhar felino. O outro era um i****a de terno barato com olheiras que gritavam viciado. — Ray… — ela sussurrou, como se o nome fosse uma sentença de morte. — Que bom que me conhece. Vai facilitar as coisas. Joguei a faca na direção do cara. Ela cravou na parede a milímetros da orelha dele. Ele gritou, quase caiu da cadeira. — Fica parado. Você pisou no território errado, filhote. — Eu... eu sou só entregador! — ele gaguejou — Eu não sabia que era proibido aqui. Eles só me disseram que… — Quem? — interrompi, caminhando em sua direção. Ele engasgou com a própria saliva. — Eu não sei o nome... só conheço o apelido. Corvo. Disseram que ele era ex-Serpente… que agora quer abrir mercado próprio. Meu sangue gelou. Corvo. Esse nome eu conhecia. Não pessoalmente, mas pelas histórias do submundo. Um merdinha inteligente, manipulador, que costumava vender mulheres e drogas para o lado leste… até sumir. Ele era próximo do meu pai. Muito próximo. — Ray — a dançarina sussurrou, tentando me conter — Ailin não quer que a gente mate ninguém ainda... — Não vou matar — respondi, girando a faca nos dedos antes de cravá-la na mesa, a centímetros da mão do entregador. — Ainda não. Virei de costas e me dirigi à saída. Antes de passar pela porta, me virei para a dançarina. — Se vender mais uma grama aqui dentro, vai desejar estar morta. Meyer me encontrou do lado de fora, rindo com uma mulher no colo. — E então, encontrou algo? — perguntou ele, com o sorriso ainda no rosto. — Corvo. Nome novo na nossa lista de desgraçados. O sorriso dele sumiu. — Isso é r**m. — Isso é ótimo. Sinal de que estamos perto de descobrir quem tá cavando a própria cova. Ele passou a mão no cabelo e me seguiu. — Ailin vai querer saber disso ainda hoje. — E ela vai. Mas antes… — Antes? Virei o rosto, olhando para os becos escuros da cidade, onde o perigo morava em silêncio. — Eu quero entender por que um velho amigo do meu pai voltou dos mortos. E por que ele está usando nossas ruas pra isso.
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