Narrado por Camila Os anos me mastigaram como carne velha. Cada prostíbulo que me jogaram tinha cheiro diferente, mas a mesma podridão: cerveja azeda, suor barato, sangue seco nos azulejos. Eu aprendi a contar os dias não pelo calendário, mas pelas cicatrizes novas. Aprendi a sorrir quando queria gritar, a vender um corpo que já não sentia como meu. E ainda assim sobrevivi. Porque sobreviver era o único jeito de manter viva a lembrança da Lara. Eu não tinha como voltar, não tinha como explicar… mas a cada tapa engolido, eu dizia pra mim mesma: “ela respira, então eu também respiro.” Até que um dia, no meio da fumaça e do barulho da boate onde me jogavam, a porta abriu. Dois homens entraram, mais fortes, mais armados do que os outros. Não falaram nada. Só apontaram o queixo, como quem es

