Narrado por Lobo O bonde já tinha descido, cada um pro seu canto. A laje ficou só eu, Beto e o vento. O moleque rodava a tampa da caneta entre os dedos, suado. O rádio calado na minha cintura, o cachorro quieto no canil. Silêncio que pesa. — Chefe… ele arriscou, voz miúda de quem quer coragem mas só acha dúvida. — Vai ter coragem mesmo de sequestrar a garota? Nós nunca fizemos isso. Fiquei olhando a cidade lá embaixo, farol piscando no asfalto, moto subindo ladeirão. Demorei uns segundos. Depois virei pra ele, soltei a fumaça do cigarro pelo nariz. — Cê acha que eu quero, Beto? falei devagar. — Sequestro não é jogo de moleque. Não é assalto de padaria. É ferro. É peso. Eu só puxo essa chave se o inferno cair na nossa cabeça. Ele engoliu seco. — Mas… e se der r**m, Lobo? — Se der r**m

