37. Julia

951 Palavras

Era tarde demais para o coração já estar cansado. O sol já tinha tomado o alto do céu, mas o morro parecia pulsar. O cheiro de fritura das barracas se misturava com fumaça de escapamento, conversa alta de vizinho e latido de cachorro. E eu, ali, saindo do portão da ONG, sentia o corpo inteiro pesado, ainda carregando o som do coração da Aurora na memória. Foi então que vi o carro parado na esquina. Não reconheci de imediato, modelo antigo, vidro fumê, motor ligado, aquele ronco baixo que parece um aviso. O peito gelou, os passos diminuíram. Até que a porta se abriu Kay desceu. De moletom escuro, boné aba curva, os olhos fundos de quem não tinha dormido. Mas ainda assim, inteiro. Aquele tipo de presença que sempre parecia maior que a própria rua. — Que cê tá fazendo aqui? — perguntei,

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